"Os Jogos Olímpicos de Paris são uma história de amor". A frase é daquela que é considerada a maior autoridade esportiva do mundo, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o alemão Thomas Bach, e foi proferida durante a entrevista coletiva de encerramento do evento neste domingo (11/08). "Os atletas, as pessoas na França e em todo o mundo estão apaixonados pelos Jogos e uns pelos outros. É possível sentir e ver o entusiasmo de todos", acrescentou.
A 33ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna entraram para a história. Cerca de 10.500 atletas lutaram por medalhas em 32 modalidades durante duas semanas. Pela primeira vez na história, havia tantas mulheres quanto homens competindo. Os EUA foram a nação mais bem-sucedida, com 40 medalhas de ouro, 44 de prata e 42 de bronze.
A Alemanha terminou em 10º lugar com 12 ouros, 13 pratas e 8 bronzes – o pior desempenho desde a reunificação do país, em 1990. O Brasil terminou em 20º lugar, com três ouros, sete pratas e três bronzes.
Já o número de recordes mundiais quebrados nesta edição dos Jogos diminuiu: foram 17, contra 20 em Tóquio em 2021, 22 no Rio em 2016, 28 em Londres em 2012, 30 em Pequim em em 2008 e 26 em Atenas 2004. No entanto, a edição deste ano teve muitos momentos marcantes.
Cerimônia de abertura espetacular
Muitas vezes, ao fim dos Jogos, a cerimônia de abertura acaba caindo no esquecimento. Não foi o que aconteceu em Paris. Dirigida por Thomas Jolly, o evento foi cheio de criatividade. Os atletas atravessaram o Sena em barcos, enquanto estrelas da música, como Lady Gaga e Celine Dion, cantavam. E no final do revezamento da tocha, a chama olímpica foi suspensa em um balão na noite de Paris.
Apesar dos elogios efusivos vindos do mundo todo, Jolly também recebeu ameaças de morte por supostamente ter ridicularizado a Última Ceia em uma cena de dança com drag queens, uma modelo trans e uma cantora quase nua. Ele negou a acusação.
Atmosfera extraordinária
Um tanto entusiasmado, o público transformou praticamente todas as competições em uma festa. Especialmente quando os atletas franceses estavam em cena, a exemplo da estrela da natação, Léon Marchand, que ganhou quatro ouros e um bronze. Com ele na piscina, os 17.000 espectadores na La Défense Arena vibravam como se fosse um gol em um estádio de futebol. Em eventos de longa distância ao ar livre, como no ciclismo de estrada, os fãs ficavam em filas e torciam pelos atletas.
Três anos após os Jogos de Tóquio, quando o COI impôs severas restrições nos estádios e arenas devido à pandemia de covid-19, o público parecia estar sedento por competições olímpicas com acesso irrestrito. O evento na capital francesa bateu recorde de venda de ingressos: quase 9 milhões.
Mais de 50.000 policiais, guardas e soldados garantiram a segurança. E pontos turísticos como a Torre Eiffel, a Basílica de Sacré Coeur e o Palácio de Versalhes proporcionaram cenários espetaculares para as competições.
As estrelas dos Jogos
Léon Marchand nadou para se tornar o novo herói esportivo francês. Aos 22 anos, foi o atleta de maior sucesso nos Jogos, com quatro medalhas de ouro individuais e uma medalha de bronze no revezamento. "Tenho a sensação de que minhas conquistas mudaram Paris por uma semana", afirmou à DW. "Foi mágico. Foi um sucesso. Os Jogos Olímpicos foram incríveis. Todos acompanharam, e isso é mesmo raro e muito especial para nós, atletas", complementou.
A estrela americana da ginástica, Simone Biles, que enfrentou problemas de saúde mental em Tóquio, em 2021, e parou de competir por mais de um ano e meio, teve um retorno olímpico impressionante: três medalhas de ouro e uma de prata – no solo individual, ela foi derrotada pela brasileira Rebeca Andrade, que ficou com o ouro e tornou-se a maior atleta olímpica brasileira da história.
A contar pelo número de medalhas – 30 em campeonatos mundiais, onze nas Olimpíadas –, Biles, que tem 27 anos, é a ginasta mais bem-sucedida de todos os tempos.
De volta à natação, destaque para a também americana Katie Ledecky, igualmente com 27 anos. Especialista no nado crawl dos EUA, ela conquistou o oitavo e o nono ouro olímpico de sua carreira em Paris, além de duas medalhas de prata.
O recorde mundial mais espetacular dos Jogos foi estabelecido pelo saltador com vara Armand Duplantis, que defendeu o título que havia conquistado em Tóquio: o sueco de 24 anos saltou 6,25 metros, 30 centímetros a mais do que o segundo colocado, Sam Kendricks, dos EUA.
Discussões acaloradas
Nada foi tão discutido intensamente e por tanto tempo em Paris quanto a má qualidade da água do rio Sena e os direitos para competir das boxeadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yuting, de Taiwan.
O triatlo masculino teve de ser adiado por um dia devido à concentração de bactérias Escherichia coli (E. coli) na água do Sena. Quando as competições foram finalmente realizadas, incluindo a natação, a triatleta alemã Nina Eim disse que "na verdade, (o rio) tem um gosto bastante normal".
Já atletas da Bélgica, da Suíça e da Noruega ficaram doentes. Mas não foi comprovada uma ligação direta da doença com o fato de terem nadado no rio. No final, conforme planejado, a natação de dez quilômetros em águas abertas foi realizada no Sena.
Desde o início, a participação das boxeadoras Khelif e Lin também causou um debate intenso. A primeira adversária de Khelif, a italiana Angela Carini, desistiu da luta depois de 46 segundos porque havia sido atingida com força no nariz duas vezes e estava com dificuldade para respirar. A partir de então, começaram discussões acaloradas nas mídias sociais – algumas das quais levaram ao ódio e à desinformação – sobre o direito da argelina de lutar.
A Associação Internacional de Boxe (IBA) havia desqualificado Khelif e Lin do Campeonato Mundial de 2023. O motivo: elas não haviam passado no teste de gênero e, portanto, não tinham permissão para competir no evento feminino. Mas o COI retirou os direitos olímpicos da IBA e organizou a competição de boxe em Paris.
O COI defendeu o direito das duas boxeadoras de competir. De acordo com a organização, elas são mulheres. Ambas ganharam a medalha de ouro em suas categorias. E foram homenageadas na cerimônia de encerramento dos Jogos no Stade de France: carregaram a bandeira de seus respectivos países. De acordo com Bach, chefe do COI, não será decidido, ao menos até o ano que vem, se o boxe ainda fará parte do programa olímpico nos Jogos de Los Angeles, em 2028.
Campanha brasileira dominada por mulheres
A campanha brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris foi dominada pelas mulheres, que foram responsáveis por 12 das 20 medalhas do país. E mais: todos os três ouros da delegação brasileira foram conquistados por mulheres: Beatriz Souza no judô, Rebeca Andrade na ginástica artística e Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia.
Pela primeira vez em mais de cem anos de participações do país em Olimpíadas, a delegação do Brasil teve mais mulheres do que homens: 153 contra 126, uma fatia correspondente a 55% do total – superior aos 47% nos Jogos de Tóquio, há três anos.
Além dos três ouros, o Brasil terminou os jogos com sete medalhas de prata e dez de bronze, resultando na segunda melhor participação do país em Jogos, atrás apenas das 21 medalhas conquistadas em Tóquio há três anos. Mas, na contagem de ouros, o país ficou aquém das sete conquistadas tanto no Japão quanto nos Jogos do Rio em 2016.
Os Jogos de Paris também coroaram Rebeca Andrade como a maior medalhista olímpica do país, agora com seis no total, ultrapassando Robert Scheidt e Torben Grael, antigos detentores da posição. Na capital francesa, a ginasta protagonizou alguns dos principais momentos da Olimpíada ao rivalizar com Simone Biles.
Autor: Stefan Nestler