Nesta quarta-feira (15), a Comissão Europeia processou o governo britânico por violar disposições do Protocolo da Irlanda do Norte. O que Boris Johnson fez “piora a instabilidade política na Irlanda do Norte”, afirmou Michelle O'Neill, vice-presidente do Sinn Féin, que defende a reunificação da Irlanda. Há dois dias, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou que promoveria um novo referendo de autodeterminação em 2023, independentemente da opinião do governo de Londres. A imprensa local alerta que metade do Reino Unido está em processo de separação.
Parte do acordo do Brexit, o Protocolo da Irlanda do Norte prevê que a região britânica permanecerá no mercado único e na união aduaneira da União Europeia para não criar uma fronteira física com a vizinha República da Irlanda. A medida implica, no entanto, em impor controles alfandegários sobre os produtos que chegam da ilha da Grã-Bretanha. Isso atiçou ainda mais a tensão entre unionistas e republicanos. Preocupado com o fato, o governo Johnson, que vem pedindo em vão uma renegociação com a União Europeia, decidiu agir unilateralmente.
Em proposta apresentada ao Parlamento em 13 de junho, a secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, especificou planos para reformar o Protocolo, alegando que isso resolveria os problemas práticos causados pelo documento.
A UE criticou duramente a ação unilateral do governo britânico como uma violação do direito internacional. O jornal inglês The Guardian observou que a “provocação imprudente” do governo Johnson poderia levar a uma guerra comercial entre o Reino Unido e a UE. Segundo alguns analistas, a ação britânica terá um impacto negativo sobre a situação política na Irlanda do Norte, estimulando e exacerbando o sentimento de independência.
Para piorar a situação, o Sinn Féin, partido que defende a reunificação irlandesa, conquistou a maioria das cadeiras da Assembleia da Irlanda do Norte nas eleições realizadas há mais de um mês, tornando-se o primeiro partido nacionalista a alcançar essa vitória em um século.
Na ocasião, a presidente do partido, Mary Lou McDonald, deixou claro que está na hora de fazer um referendo sobre uma Irlanda unida. Além disso, o Sinn Féin apoia a adesão ao Protocolo da Irlanda do Norte. A comunidade empresarial da região reclama que a ação unilateral de Londres dificultou em muito a vida deles.
Se o governo britânico estiver determinado a agir em detrimento dos interesses mais amplos da Irlanda do Norte, é de esperar que o Sinn Féin possa tomar medidas mais proativas para um referendo. Dada a sensibilidade especial da região, isso poderia desencadear um efeito dominó.
Embora a Escócia tenha rejeitado a independência num referendo em 2014, algumas figuras políticas continuam trabalhando para isso. Com o referendo de 2016 sobre o Brexit, cresceu o apoio à independência na região com o desejo de voltar a fazer parte da UE.
A lei escocesa estipula que qualquer referendo que afete a constituição britânica deve ser autorizado pelo governo e pelo Parlamento. Em resposta a isso, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon afirmou ter encontrado uma alternativa legal e segura para realizar um novo referendo em 2023, mesmo com a recusa do governo de Londres.
As preocupações de Boris Johnson não param por aí. Na verdade, sobram problemas em seu governo, desde o fracasso no combate à epidemia, até o escândalo da violação de isolamento sanitário por integrantes do Gabinete do Primeiro-Ministro, passando por uma inflação em alta e uma crescente pressão de recessão econômica. Embora Boris Johnson tenha escapado de voto de desconfiança no Partido Conservador, no início deste mês, sua credibilidade está gravemente prejudicada perante a opinião pública.
Mesmo assim, políticos britânicos ainda tentam de tudo para fazer sentir sua “presença” na arena internacional, seja para desviar atenção dos problemas dentro de casa, seja para preservar o prestígio do império onde o sol nunca se põe. Mais recentemente, seguindo o exemplo dos Estados Unidos, a Grã-Bretanha tentou criar casos na Europa e na Ásia-Pacífico, como se o mundo já não tivesse problemas o suficiente. Esse tipo de postura serve apenas para piorar a imagem burlesca.
Políticos britânicos também precisam lembrar que suas dívidas com a comunidade internacional ainda não foram acertadas: que seja feita justiça ao povo argentino em relação às Ilhas Malvinas!
Com problemas internos e externos se acumulando, políticos britânicos, é hora de limpar a própria bagunça.