Opção ecológica, trem noturno europeu esbarra em desafios

Rotas ferroviárias que atravessam a madrugada tentam ser alternativa menos poluente aos voos de média distância. Mas usuários enfrentam atrasos e cancelamentos constantes, obras e preços pouco atraentes.

Por Deutsche Welle

A atmosfera estava excelente quando o primeiro trem noturno, o Nightjet, partiu de Berlim para Paris em dezembro de 2023. "Este é um marco para a Europa e para o meio ambiente", comemorou Clément Beaune, o então Ministro dos Transportes da França, que havia viajado para a capital alemã para a inauguração da nova rota de trem. "Hoje é um bom dia para todos os viajantes e passageiros", disse seu colega alemão, Volker Wissing. "Este é o futuro da nossa mobilidade", afirmou a ministra dos Transportes da Áustria, Leonore Gewessler.

Obras impossibilitam a conexão noturna

Embora várias novas conexões como esta tenham entrado em operação recentemente, os desafios para a expansão da rede de trens noturnos europeus continuam grandes. O chamado Nightjet, por exemplo, inaugurado em dezembro, há meses deixou de circular entre as capitais alemã e francesa, devido a obras em ambos os lados da fronteira.

"O transporte ferroviário ainda é organizado de forma nacional", disse Bernhard Rieder, porta-voz da empresa de transportes ferroviários austríaca Österreichische Bundesbahnen (ÖBB), que opera a conexão entre Berlim e Paris.

As viagens internacionais estão sujeitas a custos altos de acesso às vias. Além disso, há dificuldades operacionais constantes, como o trabalho de construção descoordenado que acontece na Alemanha e na França. Embora os trens noturnos da ÖBB operem com equilíbrio financeiro, não é possível obter lucro com eles.

O presidente da Back on Track Germany, organização não governamental que faz campanha pela expansão da rede de trens noturnos, Juri Maier, também não vê muito progresso na área. "Não há um verdadeiro renascimento dos trens noturnos”, disse. "Sim, muitos discursos são feitos. Mas, na verdade, o desenvolvimento está indo na direção oposta." As antigas empresas ferroviárias estatais ainda comandam a política ferroviária. "Cada um fica cuidando de seu próprio negócio separadamente", diz Maier. "Você não conseguirá criar um mercado comum dessa forma."

Menos gases de efeito estufa

Há grandes esperanças noaumento do uso de trens noturnos na Europa. Em rotas de cerca de mil quilômetros, esses trens podem se tornar uma alternativa real aos aviões, que prejudicam o clima. Um estudo da Back on Track revelou que seria possível reduzir em 3% as emissões totais de gases de efeito estufa na União Europeia se toda a capacidade de transporte ferroviário fosse usada. A Comissão Europeia quer dobrar o tráfego ferroviário internacional até 2030.

"Precisamos transferir uma parte substancial dos voos para os trilhos", diz Jacob Rohm, especialista em mobilidade climaticamente neutra da organização ambiental e de direitos humanos Germanwatch. Caso contrário, as metas climáticas não poderão ser alcançadas.

Para Rohm, os trens noturnos certamente poderiam contribuir para isso. "No entanto, o mercado sozinho não resolverá o problema. Precisamos de uma coordenação europeia mais forte e de financiamento confiável, inclusive para a expansão da rede ferroviária", disse.

Embora a atenção para o tema tenha aumentado, a implementação ainda é um obstáculo. Até mesmo a compra de passagens para uma viagem de trem noturno muitas vezes é extremamente complicada.

Falta de vagões-dormitório

Outro problema é a falta de trens noturnos. "Novos vagões-leito ou vagões-cama são tão caros que ninguém quer fazer esse investimento", diz o ativista independente Jon Worth. "É muito difícil viajar de trem noturno na Europa", completa.

Vagões antigos, obras constantes, conexões canceladas e atrasos – tudo isso afeta os passageiros dos trens noturnos ainda mais do que os que viajam durante o dia, pois há menos alternativas. "Se você tiver azar, terá que ficar sentado a noite toda. Mas, se der tudo certo, é uma excelente maneira de viajar."

O blogueiro especializado em viagens Sebastian Wilken concorda. Ele viaja exclusivamente de trem – porque gosta e para proteger o clima. Em breve, ele fará sua centésima viagem de trem noturno.

Segundo ele, a oferta de rotas noturnas na Europa é muito diversa. Na França, por exemplo, não há vagões-cama, apenas vagões-leito mais simples. No Reino Unido, no entanto, é possível viajar com dois trens noturnos muito confortáveis, o Night Riviera Sleeper e o Caledonian Sleeper.

Não tão confortável quanto sua própria cama

"Até agora, tive experiências muito positivas", diz Wilken. "Quase sempre foi agradável." Na Suécia, no entanto, seu trem noturno já teve um atraso de oito horas. Mas ele não é muito exigente e não espera dormir tão bem quanto em sua própria cama. "Esse não deve ser o padrão de exigência no trem noturno", diz. Em suas viagens, ele encontra não apenas pessoas que viajam de forma consciente em relação ao clima, mas também aquelas que têm medo de voar ou simplesmente não gostam de toda a experiência no aeroporto. "Ultimamente, há também cada vez mais pessoas que estão tentando isso pela primeira vez, só para experimentar."

Na ÖBB, ninguém tem ilusões. A demanda por conexões de trens noturnos certamente existe, diz o porta-voz da empresa, Bernhard Rieder. "Mas continuará sendo uma oferta de nicho."

Os voos de curta e média distância na Europa certamente não poderão ser completamente substituídos por trens noturnos. Pelo menos entre Berlim e Paris, em breve haverá uma alternativa novamente: no final deste mês de outubro, o Nightjet deve retomar as operações.

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