Os palestinos no Oriente Médio formam um povo bastante diversificado de cerca de 7 milhões de pessoas, em situações legais variadas, que vivem em sua maior parte em Israel, Faixa de Gaza, Cisjordânia ocupada, Jordânia, Líbano, Síria e Egito, entre outros países.
"Nem os países anfitriões do Oriente Médio, nem os da Europa possuem números precisos", afirmou à DW Kelly Petillo, pesquisadora sobre o Oriente Médio do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) relatou ter fornecido assistência neste ano para cerca de 5,9 milhões de pessoas em 58 campos de refugiados na Jordânia, Líbano, Síria, Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo o leste de Jerusalém.
Contudo, a UNRWA não está presente em todos os países árabes, tampouco todo palestino é um refugiado. A agência afirma que aqueles cujos "locais normais de residência eram a Palestina durante o período de 1º de junho de 1946 e 15 de maio de 1948, e que perderam tanto suas casas quanto seus meios de subsistência em razão do conflito de 1948", se qualificam para receber o status de refugiado, juntamente com seus descendentes.
A entidade também presta serviços a pessoas na região que foram forçadas a se deslocar e que estão em necessidade grave de assistência como resultado da Guerra dos Seis Dias em Israel, em 1967.
Durante a Nakba – que em árabe se traduz como catástrofe – em torno de 700 mil pessoas fugiram ou tiveram de deixar seus locais de residência, após o controle do território pelo novo Estado de Israel em 1948. Até hoje, muitos refugiados palestinos no exterior permanecem em uma condição de apátrida, enquanto mantêm a reivindicação pelo direito de retornar às suas terras.
"A busca do direito ao retorno se tornou uma característica central da identidade palestina", afirmou à DW Peter Lintl, da Divisão para África e Oriente Médio do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança.
Apesar de o direito ao retorno ter sido incluído na resolução 3236 da ONU de 1974 e na Convenção de Genebra em 1951, essa demanda deixou de ter papel central nas negociações de Oslo de 1994, e não está nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito entre Israel e os palestinos, observou Petillo.
Líbano
Segundo estimativas da UNRWA, em torno de 250 mil palestinos viviam no Líbano em julho deste ano. "Outras sondagens falam em mais de 500 mil refugiados palestinos", afirma a especialista, acrescentando que há quase 100 anos o Líbano não realiza um recenseamento.
Petillo avalia que o país "teme que uma leitura precisa da população possa mudar as considerações demográficas, que, por sua vez, constituem os fundamentos da política deles".
Desde 1943, o Líbano adere a um sistema de distribuição de poder com base na representatividade religiosa, o que significa que o primeiro-ministro deve ser obrigatoriamente um muçulmano sunita, enquanto o presidente deve ser um cristão e o líder do Parlamento, um muçulmano xiita.
"Eu diria que o Líbano é o país mais hostil aos palestinos, assim como a todos os refugiados que acolhe", observou a especialista.
De acordo com a UNRWA, cerca de 80% dos refugiados palestinos no Líbano vivem abaixo da linha nacional da pobreza. Décadas de discriminação estrutural associada ao desemprego e à negação ao direito de propriedade acabaram sendo agravadas pela atual crise econômica.
Jordânia
O Reino Hachemita é a única nação árabe que concede cidadania aos palestinos que lá chegaram durante a Nakba.
"Mais da metade da população da Jordânia é de origem palestina, a própria rainha Rania possui raízes palestinas, e a questão do Estado palestino conta com grande apoio da população e do governo", afirmou Petillo.
Cerca de 2,3 milhões de pessoas estão registradas como refugiados palestinos na Jordânia.
Entretanto, o rei Abdullah II já deixou claro que o país não acolherá mais refugiados em consequência da atual guerra em Gaza, iniciada após os ataques do grupo terrorista palestino Hamas em Israel no dia 7 de outubro. O Hamas é considerado um organização terrorista pela União Europeia (UE), Estados Unidos, Alemanha e outros países.
Egito
"A situação dos refugiados palestinos no Egito é a mais incerta", observou Petillo. "Eles vivem em um limbo legal."
"O Egito não é um país da UNRWA. As estimativas sobre refugiados palestinos variam de 70 mil a 134 mil pessoas", disse a especialista, acrescentando que esse números podem ser diferentes.
O Egito possui o único posto de travessia de fronteira para Gaza que não leva ao território de Israel. Ainda assim, o presidente Abdel Fattah el-Sissi declarou repetidas vezes que a travessia de fronteira na cidade de Rafah não se tornará uma porta de entrada para os palestinos do enclave.
Síria
A UNRWA administra nove campos de refugiados oficiais e três não oficiais na Síria para 438 mil palestinos.
A guerra civil no país agravou a situação dos refugiados nos últimos 12 anos. A infraestrutura para o envio de ajuda foi amplamente danificada.
Em 2021, um levantamento da UNRWA mostrou que 82% das pessoas que receberam ajuda financeira vivem em absoluta pobreza, e que cerca de 120 mil palestinos se dirigiram a outros países em busca de acolhimento.
Israel, Gaza e Cisjordânia
Segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina, 154,9 mil palestinos permaneceram em Israel após a Nakba, em 1948.
Até 2020, esse número aumentou em dez vezes, chegando 1,5 milhão de pessoas, ou seja, 17% do total de cidadãos israelenses, de acordo com o Escritório Central de Estatísticas de Israel.
Há vários termos utilizados para se referir aos palestinos. Eles com frequência são chamados de árabes israelenses ou cidadãos árabes de Israel. Alguns, porém, preferem "cidadãos palestinos de Israel", explicou à DW Amjad Iraqi, editor da revista israelense +972 Magazine e analista político da Rede de Políticas Palestinas Al Shabaka, ele próprio um cidadão palestino.
"O termo 'árabe israelense' possui uma longa história de negação da identidade palestina", observou.
Entretanto, em comparação com os cerca de 3 milhões de palestinos na Cisjordânia ocupada e os 2,2 milhões em Gaza – a maioria dos quais são reconhecidos como refugiados pela UNRWA –, os cidadãos árabes de Israel são "legalmente privilegiados", afirmou Iraqi, mesmo que tenham um "status de segunda classe" em relação aos cidadãos judeus.
"Vemos, de fato, maior integração econômica e sociopolítica, mas os conflitos políticos entre judeus e árabes israelenses estão se agravando, ao mesmo tempo em que a direita radical israelense ganha força", observou Lintl.
Ele disse considerar "notável que após 7 de outubro, no mundo árabe, os palestinos em Israel se distanciaram da maneira mais clara possível dos ataques terroristas do Hamas".
Autor: Jennifer Holleis