Onda de ataques no Equador deixa ao menos dez mortos

País decretou estado de exceção e conflito armado interno, e mobilizou Forças Armadas no combate a organizações criminosas. Caos se agravou após fuga de narcotraficante de prisão.

Por Deutsche Welle

Onda de ataques no Equador deixa ao menos dez mortos Reprodução
Onda de ataques no Equador deixa ao menos dez mortos
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A onda de violência sem precedentes desencadeada por organizações criminosas no Equador deixou pelo menos dez pessoas mortas na terça-feira.

As duas mortes mais recentes ligadas aos ataques são de policiais "assassinados de forma vil por criminosos armados" na cidade de Nobol, afirmou a Polícia Nacional do Equador.

Outras oito pessoas foram mortas em ataques do crime organizado em Guayaquil, a cidade mais populosa do país e capital da província de Guayas. "Não descansaremos até encontrarmos os responsáveis por este ato criminoso", afirmou a polícia.

O presidente do Equador, Daniel Noboa, editou na terça-feira um decreto declarando a existência de um conflito armado interno em nível nacional e ordenando que as forças militares atuem para desmantelar grupos do crime organizado transnacional, classificados como organizações e atores terroristas não-estatais beligerantes.

Na segunda-feira, ele já havia decretado estado de exceção no país, medida que deve vigorar por 60 dias e permite o emprego de forças militares nas ruas e em prisões, bem como a imposição de toque de recolher.

Setenta presos

Em uma mensagem publicada nesta quarta-feira em sua conta no X (ex-Twitter), a Polícia Nacional do Equador relatou os resultados preliminares de suas ações contra os autores dos "ataques e atos terroristas".

Segundo a polícia, 70 pessoas foram presas, três dos seus agentes feitos reféns foram libertados e 17 fugitivos recapturados, além de terem sido apreendidas armas, munições, explosivos e veículos.

A Assembleia Nacional do Equador manifestou o seu apoio às Forças Armadas, à Polícia Nacional e a outros responsáveis encarregados de manter a segurança e a paz diante da onda de violência que assola o país, e anunciou que aplicará "indultos e/ou anistias" nos casos em que seja necessário garantir que possam cumprir sua tarefa.

Em um comunicado publicado no X, membros do Legislativo equatoriano disseram aos cidadãos que trabalham "em unidade, independentemente das diferentes correntes políticas e ideológicas".

Invasão a emissora de TV

Um desenvolvimento da crise de violência com forte impacto simbólico ocorreu na terça-feira, quando homens encapuzados e armados com fuzis e granadas invadiram uma transmissão ao vivo da emissora de TV TC em Guayaquil, obrigando funcionários do canal público a se deitarem no chão enquanto sons de tiros e gritos eram ouvidos no fundo.

Imagens na internet mostravam membros da equipe da emissora se agachando no chão, enquanto os homens armados gesticulavam em direção à câmera e alguém gritava, ao fundo, "sem polícia". O sinal da TC acabou sendo cortado.

A polícia informou ter enviado unidades especiais para os estúdios da TC na cidade portuária de Guayaquil, no sudoeste do Equador. Horas depois, anunciou a prisão de ao menos 13 pessoas e a libertação de todos os reféns, dois deles com ferimentos leves.

Presidente tomou posse prometendo enfrentar o narcotráfico

Filho de um dos homens mais ricos do Equador, Noboa assumiu a Presidência em novembro do ano passado prometendo conter a violência nas ruas e nas prisões associada ao narcotráfico.

A decretação do estado de emergência foi uma reação ao "desaparecimento" de Adolfo Macias da prisão, conhecido como Fito, noticiado no último domingo, bem como a motins subsequentes nos presídios. Macias é líder do Los Choneros, uma das facções criminosas mais temidas do país, e seria transferido para uma prisão de segurança máxima.

A resposta do crime organizado ao decreto veio na forma de sequestros, motins em prisões e atentados com explosivos – um deles próximo à casa do presidente da Corte Nacional de Justiça.
Em um vídeo citado pela agência de notícias AFP, três agentes penitenciários são vistos sentados no chão enquanto um deles lê uma mensagem ao presidente Noboa.

"Você declarou guerra, e é guerra que terá", diz. "Você declarou o estado de exceção e nós declaramos policiais, civis e militares como espólio de guerra." A autenticidade do material não pôde ser verificada.

Fuga de narcotraficante desencadeou caos atual

Antes de declarar o estado de emergência, Noboa havia anunciado a mobilização de milhares de agentes das forças de segurança para recapturar Macias, que cumpria pena de 34 anos de prisão desde 2011. Ele é suspeito de ter tramado o assassinato no ano passado do candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio.

Também na terça, as autoridades anunciaram a fuga de outro narcotraficante, Fabricio Colón Pico, da facção Los Lobos, preso na sexta sob suspeita de participar de um sequestro e de tramar um plano para assassinar a chefe do Ministério Público.

O Peru anunciou que reforçaria a segurança na fronteira com o Equador.

País vive escalada da violência

Localizado entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador se transformou em reduto do narcotráfico. Em 2023, o país de 17 milhões de habitantes registrou mais de 7,8 mil homicídios e a apreensão de 220 toneladas de droga.

Confrontos entre presos deixaram mais de 460 mortos desde 2021, e a taxa de homicídios nas ruas saltou quase 800% entre 2018 e 2023, indo de 6 para 46 mortes para cada 100 mil habitantes – no Brasil, essa taxa foi de 23,4 em 2022.

bl (Reuters, AFP, EFE, ots)

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