O que se sabe sobre o ataque que matou dezenas no Irã

Mais de 80 morreram após duas explosões em cerimônia em homenagem a general iraniano assassinado em 2020 pelos EUA. "Estado Islâmico" reivindica autoria do atentado.

Por Deutsche Welle

No quarto aniversário da morte do general iraniano Qassim Soleimani, pelo menos 84 pessoas morreram e 284 ficaram feridas em duas explosões em Kerman, cidade localizada 820 quilômetros a sudeste de Teerã. Nesta quinta-feira (04/01), os serviços de emergência iranianos corrigiram mais uma vez a cifra de óbitos para baixo, depois de terem anunciado inicialmente a morte de 103 e depois baixado a cifra para 95.

O chefe da Organização Nacional de Emergência Médica do Irã, Jafar Miadfar, atribuiu a confusão sobre os números à condição dos corpos.

"Estado Islâmico" assume autoria

A organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do atentado em uma nota divulgada em seu canal no Telegram nesta quinta-feira. O grupo afirmou que dois de seus membros "ativaram seus coletes explosivos" próximo à sepultura de Soleimani.

A declaração, cuja autenticidade não pôde ser confirmada, traz semelhanças com outras feitas pelo EI, embora alguns detalhes estejam em contraste com reivindicações feitas anteriormente pelo grupo extremista. Entre outras coisas, a nota não identificou qual ramificação do EI teria realizado o atentado, e apenas trazia o nome do grupo em inglês no alto da mensagem.

O especialista em Oriente Médio Arash Azizi, da Universidade Clemson, no estado americano da Carolina do Sul, afirmou anteriormente em entrevista à DW que o grupo terrorista "Estado Islâmico – Província de Khorasan" (EI-K) poderia estar por trás das explosões.

O grupo é uma ramificação regional do EI que atua principalmente no Afeganistão. Azizi acredita que as duas bombas detonadas, uma após a outra, tinham como objetivo matar o maior número possível de civis: após a primeira explosão, muitas pessoas reuniram-se no local, assim como oficiais de equipes de resgate, muitos dos quais foram mortos pela segunda bomba.

"Um ponto decisivo é que a primeira bomba foi colocada perto de um museu cujo edifício costumava ser um templo do fogo zoroastrista", disse Azizi. "O EI-K considera não apenas a religião do zoroastrismo, mas também o Irã, a cultura iraniana e, por último, mas não menos importante, o xiismo como a maior ameaça ao Islã."

Atentado mais letal desde a Revolução Islâmica

Este foi o ataque mais letal nos 45 anos de história da República Islâmica do Irã. O incidente tem potencial para agravar ainda mais as tensões no Oriente Médio, já exacerbadas pela guerra entre Israel e o grupo radical palestino Hamas.

Até esta quarta-feira, o ataque mais letal em solo iraniano desde a Revolução Islâmica havia sido o atentado com um caminhão-bomba à sede do Partido Islâmico Republicano em Teerã, que matou 72 pessoas, incluindo quatro ministros de Estado, oito vice-ministros e 23 parlamentares.

O governo chama o ocorrido de ataque terrorista e ordenou luto nacional para esta quinta-feira.

O chefe de Estado do país, o aiatolá Ali Khamenei, anunciou uma reação forte. "Vocês devem saber que este ato catastrófico resultará numa resposta dura", enfatizou o líder religioso na quarta-feira, em comunicado publicado pela mídia estatal.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, também condenou veementemente o ataque e cobrou uma resposta dura.

Condenação internacional

O governo alemão condenou o ataque como um ato de terrorismo, assim como o gabinete do chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell.

O governo brasileiro divulgou nota oficial também condenando o atentado. "Ao expressar suas condolências aos familiares das vítimas e sua solidariedade ao povo e ao governo da República Islâmica do Irã, o Brasil reitera seu mais firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo", diz comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Logo após o atentado, Teerã acusou os Estados Unidos e Israel de estarem envolvidos nas explosões.

Washington, porém, negou qualquer responsabilidade. "Os EUA não estiveram de forma alguma envolvidos, e qualquer insinuação em contrário é ridícula", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano Matthew Miller. Ele acrescentou que seu governo também não tinha motivos para acreditar que Israel estivesse envolvido no incidente.

O Conselho de Segurança da ONU condenou o atentado como um "ato terrorista covarde".

"Os membros do Conselho de Segurança reafirmam que o terrorismo em todas as suas formas e manifestações constitui uma das mais graves ameaças à paz e segurança internacional", afirmou o colegiado em nota.

Os países que integram o Conselho sublinharam a "necessidade de responsabilizar os perpetradores, organizadores, financiadores e patrocinadores desses atos condenáveis de terrorismo e levá-los à Justiça".

Herói nacional assassinado pelos EUA

O general Qassim Soleimani, que foi uma espécie de arquiteto das atividades militares iranianas no Oriente Médio, é tido como um herói nacional pelo regime teocrático iraniano.

Entre suas atuações na região, ele ajudou a preservar o governo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, durante as revoltas de 2011 na Primavera Árabe que resultaram na guerra civil no país, que continua até os dias atuais.

Sua popularidade no Irã aumentou durante a invasão americana no Iraque em 2003, quando ele se tornou alvo dos EUA por ajudar grupos radicais a colocarem bombas em estradas que mataram e mutilaram soldados americanos.

Uma década mais tarde, Soleimani se tornaria o principal e mais conhecido líder militar iraniano. Ele rejeitou o clamor popular para que entrasse para a política, embora fosse tão ou mais poderoso do que as lideranças civis do país.O assassinato do general, ocorrido em 2020, durante o governo do presidente Donald Trump, agravou as tensões entre Washington e Teerã e resultou na saída iraniana do acordo nuclear entre o regime islâmico e o Ocidente.

md,rc/bl,ek (EBC, DW, DPA, Reuters)

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