O que se sabe sobre a participação da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia?

Ucrânia e Coreia do Sul dizem que Pyongyang está enviando tropas para apoiar os russos. Mas há relatos conflitantes sobre o tamanho da participação norte-coreana.

Por Deutsche Welle

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, disse nesta segunda-feira (21/10) que vai coordenar "medidas de resposta" com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra a crescente participação da Coreia do Norte na guerra que acontece em território ucraniano. Segundo Seul, Pyonyang não está apenas fornecendo armas à Rússia, mas também enviando tropas para supostamente lutar nos territórios ocupados pelos russos.

"A invasão da Ucrânia pela Rússia e o alinhamento imprudente entre a Rússia e a Coreia do Norte confirmaram que a segurança das regiões do Indo-Pacífico e do Atlântico estão conectadas", disse Yoon durante uma ligação telefônica com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

Seul afirma que os norte-coreanos pretendem enviar até 12 mil soldados para a Rússia, informação que ainda não foi confirmada pela Otan e pelos Estados Unidos. Neste sábado, porém, a Ucrânia chegou a divulgar um vídeo que supostamente mostra dezenas de recrutas da Coreia do Norte recebendo equipamentos militares russos.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, alertou várias vezes contra uma aliança entre a Coreia do Norte e a Rússia. Mas qual a extensão do envolvimento norte-coreano na guerra da Ucrânia?

Munição e tropas norte-coreanas

A porta-voz do Ministério da Defesa dos EUA, Sabrina Singh, sugeriu em julho que não havia nenhuma indicação de que tropas norte-coreanas estivessem sendo enviadas para a Ucrânia. Mas, em 2023, o serviço de inteligência militar ucraniano (HUR) informou que um contingente norte-coreano havia chegado aos territórios ocupados do país.

Já em outubro deste ano, Andriy Kovalenko, do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, afirmou que havia militares norte-coreanos supervisionando a munição fornecida aos russos na região ucraniana de Donetsk, ocupada pela Rússia.

De acordo com a mídia ucraniana, a guerra já teria feito até mesmo vítimas norte-coreanas. Seis oficiais do país teriam sido mortos em 3 de outubro em um ataque de mísseis ucranianos perto de Donetsk.

Um representante do HUR também disse à mídia ucraniana que o exército russo havia adquirido um "batalhão especial Buryat" que também era formado por norte-coreanos. Os Buryats são um grupo étnico nativo do sudeste da Sibéria.

A Ucrânia ainda afirma que 18 soldados norte-coreanos haviam desertado de posições em Bryansk e Kursk, ambas regiões russas na fronteira com a Ucrânia.

Moscou não confirma o envolvimento da Coreia do Norte

A Rússia não confirmou que a Coreia do Norte está participando com tropas na guerra contra a Ucrânia. Até agora, o Kremlin disse apenas que existe uma "cooperação profunda e estratégica em todas as áreas, incluindo segurança", referindo-se a um pacto de defesa assinado em junho de 2024 entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin, que prevê assistência militar mútua.

A DW não conseguiu encontrar evidência nas redes sociais russas de que soldados norte-coreanos tenham sido enviados para o país.

Benefícios mútuos justificam parceria

O professor de História e Relações Internacionais da Universidade Kookmin, Andrei Lankov, em Seul, disse ser "bastante plausível" que as tropas norte-coreanas tenham sido enviadas.

Ele entende que faria sentido para Putin fortalecer o exército russo com norte-coreanos, pois isso lhe permitiria evitar uma nova campanha de alistamento militar na Rússia.

"Se olharmos do ponto de vista russo, Putin está travando uma guerra que é popular na Rússia, mas desde que a maioria da população seja mantida fora da luta e não seja 'perturbada' em sua vida cotidiana pela guerra", explicou.

Lankov, que é originalmente da Rússia, disse que há cada vez menos homens preparados para arriscar suas vidas no país, em especial no momento em que o exército russo depende de unidades de infantaria, que fazem a linha de frente.

O analista entende que, em troca, a Coreia do Norte procura remuneração financeira. Mas a principal disposição de Pyongyang em fornecer tropas seria a oferta russa de pagar a conta em forma de tecnologia.

"Só dinheiro não é suficiente", disse Lankov. "Parte terá que vir na forma de tecnologia avançada que o Norte deseja, mas não conseguiu obter. Normalmente, a Rússia nunca concordaria em fornecer esse tipo de tecnologia a um país tão instável, mas eles não têm escolha."

O último motivo para o envolvimento norte-coreano na Ucrânia seria o interesse dos militares em adquirir habilidades e conhecimento.

"Esse é um conflito moderno entre duas potências militares avançadas em um longo período de tempo", disse ele. "O mundo não vê um conflito como esse há 80 anos, e a Coreia do Norte quer obter experiência nesse tipo de guerra."

Para Lankov, a cooperação entre os dois países não deve ser duradoura.

"Assim que as hostilidades na Ucrânia terminarem, tudo voltará ao que era antes. Esses dois países são muito diferentes e amplamente incompatíveis, portanto, haverá muito pouco que a Coreia do Norte produza que a Rússia queira."

Coreia do Norte já enviou tropas para apoiar outros exércitos

A Coreia do Norte já enviou tropas para o exterior antes. Angola, por exemplo, aceitou cerca de 3 mil "conselheiros" militares nas décadas de 1970 e 1980. Os norte-coreanos foram encarregados de treinar os angolanos, mas também lutaram ativamente contra forças sul-africanas.

O país também já enviou tropas para Uganda, Chade e Moçambique, e treinou guerrilheiros do Exército Popular de Libertação da Namíbia, em uma longa insurgência contra a África do Sul.

A Coreia do Norte ainda enviou pilotos para apoiar os vietnamitas do norte durante a Guerra do Vietnã.

Em geral, o país tende a enviar treinadores, disse Fyodor Tertitsky, analista norte-coreano baseado na Coreia do Sul. No entanto, ele explicou que as declarações sul-coreanas dão credibilidade ao cenário de que as tropas norte-coreanas poderiam ser enviadas para participar da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Autor: Julian Ryall , Oleksandr Kunyzkyj, Aleksei Strelnikov

Tópicos relacionados

Mais notícias

Carregar mais