As tarifas globais "recíprocas" anunciadas esta semana pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entraram em vigor neste sábado (05), afetando mais de 180 países e territórios em todo o mundo. Notavelmente, algumas nações estão isentas – incluindo Rússia e Belarus, mas não a Ucrânia.
Em entrevista à Fox News, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, explicou que, de qualquer forma, não há comércio com a Rússia devido às sanções existentes. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os EUA e outros países, principalmente os europeus, impuseram novas sanções contra Moscou.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, enfatizou que as sanções dos EUA relacionadas à guerra na Ucrânia impedem "qualquer comércio significativo" com a Rússia. Mas será que isso é verdade?
O que os EUA importam da Rússia?
De acordo com o Departamento do Censo dos Estados Unidos, o comércio de mercadorias entre os EUA e a Rússia caiu significativamente desde o início da guerra de agressão contra a Ucrânia: de cerca de 36 bilhões de dólares em 2021 para cerca de 3,5 bilhões de dólares em 2024.
Isso é pouco, mas também não é um "nada". E, por mais baixo que seja seu valor monetário agora, as importações da Rússia são significativas para os EUA, pois também incluem produtos estratégicos, como fertilizantes e produtos químicos inorgânicos.
A ausência da Rússia na lista de Trump não pode ser explicada apenas pelas sanções e pela queda nos números de importação, porque os países com os quais os EUA compartilham volumes comerciais ainda menores estão na lista.
Por exemplo, o governo dos EUA impõe tarifas de 27% sobre as importações do Cazaquistão, que tem um volume de comércio com os EUA semelhante ao da Rússia: cerca de 3,4 bilhões de dólares. O volume de comércio com a Ucrânia é ainda menor, 2,9 bilhões de dólares. No entanto, a Ucrânia está na lista de Trump – com uma tarifa punitiva de 10%.
Tarifas contra ilhas desabitadas, mas não contra Belarus
Embora a Venezuela seja um dos países sancionados na lista de tarifas de Trump, outros países que também estão sujeitos às sanções dos EUA permanecem isentos das novas medidas – incluindo Rússia, Coreia do Norte, Cuba e Belarus. "Isso parece uma leniência, que tem um caráter simbólico", diz a cientista política e especialista em estudos americanos Alexandra Filippenko.
Os EUA não publicaram nenhuma cifra sobre o volume de comércio com a Coreia do Norte, Cuba e Belarus. De acordo com as estimativas das Nações Unidas, o comércio bilateral entre os EUA e Belarus, por exemplo, chegou a várias dezenas de milhões de dólares por ano. Em 2024, por exemplo, mercadorias belarussas no valor de 21 milhões de dólares foram importadas para os EUA.
A composição da lista de tarifas, portanto, não parece se basear exclusivamente no volume de comércio com um país. Isso é indicado, entre outras coisas, pelo fato de que até mesmo áreas minúsculas ou desabitadas, como as Ilhas Heard e McDonald – território australiano periférico no sul do Oceano Índico – tenham sido ranqueadas inicialmente, embora praticamente não haja comércio relevante com os EUA.
Também é notável que o Canadá e o México não constem da nova lista. No entanto, a maioria dos produtos importados de ambos os países já está sujeita a tarifas existentes de 25%.
Por que Trump não está impondo tarifas sobre a Rússia?
Alexandra Filippenko vê a decisão de Trump de não colocar a Rússia na lista de tarifas como um sinal político claro: melhorar as relações com Moscou é uma prioridade para o presidente dos EUA.
"As autoridades russas entenderam o sinal político", diz ela, referindo-se a uma postagem no Telegram do enviado especial do presidente russo, Kirill Dmitriev, que está atualmente em Washington. Nele, Dmitriev enfatiza que a restauração do diálogo entre a Rússia e os EUA é um "processo difícil e gradual" e que ambos os lados estão prontos para "construir cooperação – tanto em assuntos internacionais quanto na economia".
A cientista política Nina Khrusheva, professora da New School, em Nova York, também vê os contatos diplomáticos entre os dois países como um possível motivo para Trump não impor tarifas à Rússia. "Acho que a pressão política será exercida sobre a Rússia de uma forma ou de outra, mas durante a visita de Dmitriev, as tarifas seriam contraproducentes", diz ela em entrevista à DW, ponderando que o governo Trump pode, se quiser, impor tarifas à Rússia mais tarde.
Oleg Buklemishev, diretor do Centro de Pesquisa de Política Econômica da Universidade Estatal de Moscou, acredita que as decisões de Trump sobre a Rússia e a Ucrânia "carecem de qualquer lógica econômica". Ele também vê a decisão de não impor tarifas adicionais à Rússia como "puramente política" – apesar das alegações de Washington de que o comércio bilateral é insignificante.
De acordo com Buklemishev, o combustível nuclear, os fertilizantes e os metais de platina russos continuam a ser fornecidos aos EUA. Além disso, altas tarifas sobre esses produtos poderiam levar a altos custos de energia, o que não está nos planos de Trump.
Ao mesmo tempo, ele enfatiza que o volume atual de comércio com a Rússia não é comparável ao mercado europeu ou chinês e está muito longe dos níveis anteriores. No entanto, Buklemishev acredita que um retorno ao nível anterior de comércio entre os EUA e a Rússia é irrealista.
"Mesmo que as relações fossem mais tranquilas, seria impossível voltar ao nível anterior. Mesmo que as relações fossem amenizadas, seria impossível voltar aos níveis anteriores. As restrições financeiras, logísticas e relacionadas a sanções permanecerão em vigor, e a China já assumiu parcialmente o mercado russo."
Autor: Aleksei Strelnikov, Alex Izmaylov