Depois de duas décadas, o grupo fundamentalista Talibã se prepara para retomar o poder do Afeganistão. Ele foi removido do poder durante a invasão dos EUA após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Com a retirada das tropas norte-americanas, os militantes voltaram a ocupar as principais cidades do país e ocuparam a capital, Cabul, neste domingo (15). O presidente afegão, Ashraf Ghani, deixou o país.
O grupo extremista que defende a instauração da lei islâmica chegou ao poder no Afeganistão na década de 1990. Era formado por guerrilheiros pashtuns (o maior grupo étnico do país) que expulsaram as forças soviéticas com o apoio dos EUA e do Paquistão. Seu fundador, Mohammad Omar, foi comandante das forças de resistência antissoviéticos.
Os Talibã --ou estudantes, na língua pashtun-- prometiam restaurar a paz e a segurança por meio da sharia, a Lei Islâmica. Quando assumiram o poder, transformaram o Afeganistão em um emirado islâmico, com regras baseadas na interpretação que o Talibã fazia do Alcorão. Nesta interpretação, as mulheres não tinham direitos, eram impedidas de estudar e forçadas a cobrir o corpo e o rosto.
Vídeo: Volta do Talibã impacta direito das mulheres
A ideologia Talibã era bastante similar à da Al-Qaeda. Em troca de apoio, os líderes Talibã protegeram Osama bin-Laden e outros integrantes do grupo extremista ligados ao atentado de 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas do World Trade Center e ao prédio do Pentágono. O ataque motivou a invasão americana que derrubou o governo talibã no fim de 2001.
O grupo buscou refúgio na fronteira com o Paquistão, um dos três países no mundo que reconhecia o governo Talibã no Afeganistão, além de Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. O governo paquistanês também foi o último no mundo a deixar de reconhecer o governo Talibã.
A presença militar dos EUA no Afeganistão alimentou os sentimentos anticolonialistas na região. A milícia talibã também ganhou espaço recrutando forçadamente guerrilheiros promovendo medo e violência.
O objetivo do grupo agora é recuperar o que perdeu no início dos anos 2000, com a invasão norte-americana, como a instalação de um emirado com base em leis islâmicas.
Ainda que o Talibã tenha se adaptado aos novos tempos e suavizado sua retórica, o comportamento dominador e intolerante com dissidentes e mulheres nas áreas controladas pelo grupo sinalizam que nada deve mudar em comparação ao governo talibã instaurado nos anos 90.
Como o Talibã é financiado?
Além do tráfico de ópio e do contrabando, a milícia também extorque fazendeiros e comerciantes, além de promover sequestros em troca do valor do resgate. O grupo também recebe doações de apoiadores da causa talibã –ou de pessoas que se beneficiam dela.
“Eles não precisam de muito dinheiro para operar. Não moram em grandes casas, não usam roupas elegantes. A maior despesa deles é o salário, a compra de armas e os treinamentos”, explica o especialista Kamran Bokhari, do Newlines Institute, ao jornal norte-americano The Washington Post.
Desde 2016, o Talibã é comandado por Mawlawi Hibatullah Akhundzada. Ele também participou da guerra contra os soviéticos e já trabalhou como líder dos tribunais da sharia nos anos 90 no país.
A estimativa é de que o Talibã hoje tenha mais guerrilheiros do que quando foi derrubado, em 2001. Seriam pelo menos 85 mil milicianos.
O grupo voltou a ganhar territórios no Afeganistão depois que os EUA anunciaram o início da retirada dos soldados do país.
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, manteve os planos do seu antecessor, Donald Trump, de trazer de volta os soldados depois de 20 anos de guerra e previa a retirada total até 11 de setembro de 2021. Com o avanço do Talibã até a capital, os EUA retiraram todo o seu corpo diplomático da embaixada no país.