O que é o Hezbollah, grupo radical libanês em conflito com Israel

Grupo xiita, considerado terrorista por países como Estados Unidos e Alemanha, foi fundado em 1982 durante a Guerra Civil Libanesa

da redação com Deutsche Welle

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Avichay Adraee, anunciou neste sábado (28) que o chefe do grupo xiita Hezbollah, Hassan Nasrallah, morreu após bombardeio israelense no subúrbio de Beirute, capital do Líbano, na sexta-feira (27). 

Inimigo de Israel, grupo aliado ao Hamas e apoiado pelo Irã, o Hezbollah confirmou, em nota, a morte do líder e prometeu vingá-la. O bombardeio atingiu o quartel-general do grupo, matando outros comandantes. 

Desde o início da semana, mais de 700 pessoas foram mortas pelos bombardeios israelenses no Líbano, incluindo dois adolescentes brasileiros, de 15 e 16 anos. Esses são os ataques mais intensos contra o Hezbollah desde que o grupo e Israel entraram em guerra pela última vez, em 2006.

O novo conflito envolvendo o grupo libanês e o exército israelense foi agravado há cerca de duas semanas, quando explosões de pagers e walkie-talkies utilizados pelo Hezbollah mataram mais de 40 pessoas - incluindo comandantes. 

O Hezbollah é um grupo libanês com influência política no país, mas também tem um braço armado. Países como Estados Unidos, Israel e Alemanha classificam a organização como terrorista. 

Como surgiu o Hezbollah 

O Hezbollah foi fundado em 1982 durante o caos da Guerra Civil Libanesa. Iniciada em 1975, ela durou 15 anos e viu diferentes setores da sociedade nacional – entre os quais muçulmanos, cristãos, esquerdistas e nacionalistas árabes – se voltarem uns contra os outros. Grupos armados sírios e palestinos também estiveram envolvidos.

Uma facção de muçulmanos xiitas decidiu enfrentar os militares israelenses. Percebendo uma oportunidade de intensificar sua influência no mundo árabe, o Irã, de maioria persa, passou a treinar e financiar a milícia recém-formada.

Atualmente o país está por trás de numerosos grupos paramilitares do Oriente Médio, inclusive o Hamas, nos territórios palestinos, e milícias no Iraque. O governo americano calcula que o Irã forneça cerca de 700 milhões por ano ao Hezbollah.

Com o passar do tempo, os objetivos locais do Hezbollah se abrandaram um pouco, à medida que ele se envolvia mais na política mainstream. 

Em 2009, publicou um novo manifesto reconhecendo que um regime radical islâmico talvez não fosse adequado ao Líbano. No entanto, ainda se opõe ao vizinho Israel, com quem entra periodicamente em choque, em geral, lançando mísseis sobre a fronteira.

O grupo cujo nome significa "Partido de Deus" está profundamente enraizado na política e sociedade libanesas.

Além da política e do braço paramilitar, o Hezbollah fornece uma série de serviços aos libaneses, incluindo hospitais, escolas e instituições de previdência, o que torna o grupo relativamente popular no país, sobretudo entre os muçulmanos xiitas. Uma consulta realizada em 2020 mostrou que 89% deles tinham uma opinião positiva do grupo. Para seus críticos, ele impele o Líbano a situações de conflito.

Arsenal do Hezbollah 

Hassan Nasrallah se gabava de dispor de 100 mil guerrilheiros, mas especialistas sugerem que o número real é menor. 

Por outro lado, possui um arsenal considerável, "composto principalmente por mísseis de artilharia superfície-superfície pequenos, portáteis e não guiados", calculava em 2021 o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) em seu relatório sobre ameaça de mísseis.

Analistas estimam em 130 mil ou mais o número desses projéteis, em parte também teleguiados e capazes de direcionamento de precisão. As munições do Hezbollah são principalmente de fabricação iraniana, chinesa ou russa e obtidas via Irã ou Síria.

Os guerrilheiros do Hezbollah também combateram depois de 2014 o EI no Iraque, país onde estão aliados a milícias patrocinadas pelo Irã. Além disso, enviaram treinadores e combatentes para o Iêmen em 2015, a fim de auxiliar os houthis em sua guerra contra a Arábia Saudita.

Apoio ao Hamas

A influência regional do Hezbollah ficou evidente ao longo de quase um ano do conflito na Faixa de Gaza, já que o grupo libanês entrou na disputa contra Israel na fronteira entre os dois países em apoio ao Hamas e grupos iemenitas e iraquianos seguiram o exemplo, operando sob a égide do "Eixo da Resistência".

O conflito em Gaza provocou o pior conflito do Hezbollah com Israel desde 2006, custando ao grupo centenas de seus combatentes, incluindo os principais comandantes. 

A escalada entre militares israelenses e o grupo libanês após o 7 de outubro de 2023 forçou o deslocamento de milhares de israelenses do norte do país.

Quem era Hassan Nasrallah

Hassan Nasrallah, um religioso de 64 anos, é objeto de um verdadeiro culto de personalidade no Líbano, onde era considerado um dos homens mais poderosos. Durante anos, viveu escondido e raramente apareceu em público.

Desde 1992, ele comandava o grupo extremista, fundado pelas Guardas Revolucionárias do Irã em 1982 para lutar contra Israel e suas ocupações no Líbano. Nasrallah foi responsável por levar o grupo para a vida política no país e ampliar sua influência no Oriente Médio.

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