O Brasil confirmou nesta quinta-feira (25/07) duas mortes por febre oropouche, doença viral transmitida por mosquitos. Trata-se, segundo o Ministério da Saúde, dos primeiros óbitos registrados pela ciência em todo o mundo.
Conforme informado pela pasta, as vítimas tinham menos de 30 anos, viviam no interior da Bahia e não tinham comorbidades. Os sintomas delas eram semelhantes aos de um quadro grave de dengue.
O ministério ainda investiga outra morte suspeita em Santa Catarina, assim como quatro casos de aborto espontâneo e dois de microcefalia em bebês em Pernambuco, Bahia e Acre.
Os sintomas da febre do oropouche são parecidos com os da dengue e da chikungunya. Não há tratamento específico disponível, e a recomendação é evitar áreas com a presença de mosquitos, usar roupas compridas e repelentes, uso de telas em portas e janelas e a eliminação de possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.
Este ano, já foram registrados mais de 7,2 mil casos da doença, em 20 estados, sendo que a maior parte das infecções ocorreram no Amazonas e em Rondônia.
Alerta da Opas
Em 18 de julho, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) emitiu um alerta epidemiológico informando sobre a identificação de possíveis casos de transmissão do vírus da febre oropouche da mãe para o bebê durante a gestação.
O alerta, feito a partir de casos que foram reportados no Brasil, recomenda o reforço da vigilância, diante da possível ocorrência de casos similares em outros países com a circulação do oropouche e outros arbovírus.
O que é a febre oropouche
Com nome científico de Oropouche orthobunyavirus (OROV), o vírus é transmitido principalmente pela picada do mosquito Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, presente tanto em áreas silvestres como urbanas. O mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente chamado de pernilongo ou muriçoca, também pode ocasionalmente transmitir o vírus.
O nome da febre deriva da região do rio Oropouche, em Trinidad e Tobago, onde o vírus foi detectado pela primeira vez, em 1955. Desde então, têm sido documentados surtos esporádicos em vários países das Américas, inclusive Brasil, Equador, Guiana Francesa, Panamá e Peru. Recentemente, foi observado um aumento da detecção de casos na região.
Entre janeiro e meados de julho de 2024, foram notificados cerca de 7.700 casos confirmados de oropouche em cinco países das Américas. O Brasil registrou o número mais alto (6.976), seguido por Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia.
A identificação de suspeitas de transmissão do vírus da gestante para o bebê ocorre no contexto desse aumento de casos notificados, segundo a Opas.
Mortes de fetos em investigação
De acordo com a organização, num caso recente, uma gestante residente em Pernambuco apresentou sintomas de oropouche durante a 30ª semana de gestação. Após a confirmação laboratorial da infecção, foi constatada a morte do feto. Um segundo caso suspeito foi relatado no mesmo estado: sintomas semelhantes foram observados numa gestante, resultando em aborto espontâneo.
"A possível transmissão vertical e as consequências para o feto ainda estão sendo investigadas", diz a Opas no alerta epidemiológico. "No entanto, esta informação é compartilhada com os Estados-membros para torná-los cientes da situação e, ao mesmo tempo, solicitar que estejam alertas para a possível ocorrência de eventos semelhantes em seus territórios”, acrescenta, com o objetivo de entender melhor essa possível rota de transmissão e suas implicações.
No Brasil, o Ministério da Saúde afirma que há indícios de transmissão vertical do vírus, mas ainda não confirmou se a infecção durante a gravidez foi a causa das malformações neurológicas nos bebês e da morte dos fetos sob investigação.
A Opas emitiu diretrizes para ajudar os países na detecção e vigilância do oropouche para possíveis casos de infecção de mãe para filho, malformações congênitas ou morte fetal. A organização está trabalhando em estreita colaboração com os países onde os casos foram confirmados, para compartilhar conhecimento e experiência.
Sintomas da febre oropouche
Os sintomas da doença incluem febre repentina, dor de cabeça, rigidez nas articulações, dores no corpo e, em alguns casos, fotofobia, náusea e vômito persistente, que podem durar de cinco a sete dias. Embora a apresentação clínica grave seja rara, ela pode evoluir para meningite asséptica. A recuperação total pode levar várias semanas.
Para controlar o oropouche, a Opas pede aos países da região que implementem medidas de prevenção e controle de vetores, incluindo fortalecimento da vigilância entomológica, redução das populações de mosquitos e outros insetos transmissores, e educação da população sobre medidas de proteção pessoal, especialmente de mulheres grávidas, para evitar picadas.
As medidas recomendadas pela Opas incluem: proteger as residências com redes de malha fina em portas e janelas; usar roupas que cubram pernas e braços, especialmente em residências onde haja doentes; aplicar repelentes que contenham DEET, IR3535 ou icaridina; e usar mosquiteiros em camas ou móveis destinados ao descanso.
md/av/ra (Agência Brasil, ots)