O fechamento das três últimas centrais nucleares, em 15 de abril de 2023, selou o fim do uso da energia nuclear na Alemanha. Mas isso não significa que não haja mais problemas a resolver. Uma questão que permanece é: o que fazer com os resíduos hoje armazenados em contêineres especiais para materiais altamente radioativos, conhecidos como Castor (da sigla em inglês para cask for storage and transport of radioactive material)?
Como o local de um depósito definitivo ainda não foi determinado, a expectativa é de que os resíduos de combustível nuclear permaneçam por décadas em instalações de armazenamento provisórias.
Existem atualmente cerca de 1.200 contêineres com resíduos radioativos de alto nível em 17 instalações de armazenamento provisório na Alemanha. A empresa estatal responsável pelo armazenamento provisório, a Bundesgesellschaft für Zwischenlagerung (BGZ), calcula que, ao final, haverá cerca de 1.800 para serem enviados à armazenagem definitiva.
Já a estatal responsável pelo depósito final, a Bundesgesellschaft für Endlagerung (BGE), não conta com a definição de um local de armazenamento final antes da década de 2040. E mais 20 ou até 30 anos provavelmente serão necessários para o planejamento e a construção.
Assim, só a partir da década de 2060, na hipótese mais otimista, esses resíduos altamente radioativos poderão começar a ser removidos das instalações de armazenamento provisório. E mais 30 anos serão necessários para transportar todos os contêineres até o depósito final.
Até lá, o armazenamento provisório vai ter custado muito dinheiro. Em 2022, os custos anuais atuais da BGZ subiram para 271 milhões de euros.
Controle de vazamentos
Os primeiros contêiners com elementos combustíveis altamente radioativos foram levados à instalação de armazenamento provisório em Ahaus, no oeste da Alemanha, em 1992. O edifício que os abriga é uma fortaleza com quase 200 metros de comprimento e outros 20 de altura.
É lá que estão empilhados mais de 300 contêineres amarelos com material combustível vindo do reator de alta temperatura de tório em Hamm-Uentrop e mais 18 contêineres azuis com elementos combustíveis oriundos, entre outros, do reator de pesquisa de Dresden-Rossendorf.
Além disso, há seis contêineres do tipo Castor-5 com 6 metros de altura e 120 toneladas de peso.
Esses recipientes devem aguentar por ao menos 40 anos. A estanqueidade deles é controlada 24 horas por dia, sete dias por semana. E isso é feito com um pressostato instalado no sistema de vedação de tampa dupla desses contêineres, explica David Knollmann, da BGZ.
"Gás hélio é colocado entre as duas tampas, a uma determinada pressão. E o pressostato monitora para que um determinado limite não seja excedido".
Os valores medidos são transmitidos continuamente a um sistema de monitoramento por meio de um cabo conectado ao pressostato. "Em mais de 30 anos", diz Knollmann, "jamais tivemos um único caso de reparo".
Não apenas autoridades alemãs de supervisão monitoram a estanqueidade dos contêineres. Representantes da Euratom e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também se deslocam a Ahaus para verificações. Algumas delas não são previamente comunicadas.
Além disso, tanto a Euratom como a AIEA têm suas próprias câmeras para documentar o que se passa na instalação de armazenamento provisório.
Ainda há espaço em Ahaus, e a previsão é de que o local receba resíduos radiativos oriundos dos reatores nucleares de pesquisa de Munique, Mainz e Berlim e também cerca de 150 contêineres que hoje estão no antigo reator de pesquisa de Jülich.
Licenças de funcionamento
Além das instalações de armazenamento provisório nas cidades de Ahaus e Gronau, a BGZ mantém instalações descentralizadas em todas as centrais nucleares alemãs – mesmo depois de elas serem desligadas.
Lá, em edifícios especialmente protegidos, os resíduos radiativos permanecerão até que finalmente haja um depósito final.
Também terão que ser armazenados temporariamente os resíduos que regressarem das unidades de reprocessamento na França e no Reino Unido para as centrais de Brokdorf, Philippsburg e Isar. Isso quando todos os requisitos legais de aprovação forem cumpridos.
Além da área de armazenamento para resíduos radioativos de alto nível, há também um depósito para resíduos radioativos de nível baixo e intermediário na instalação de armazenamento provisório de Ahaus, de aproximadamente 5.700 metros quadrados. Também esses resíduos ficam em contêineres.
Esse lixo é constituído de materiais contaminados originados do desmantelamento de uma usina nuclear, como peças e filtros da usina, e que não podem ser simplesmente descartados. No entanto, esses contêineres não permanecerão em Ahaus ou nas outras instalações de armazenamento provisório. Eles serão enviados para o depósito Schacht Konrad, perto da cidade de Salzgitter, que foi criado para esse fim e que deverá estar pronto para operação no início da década de 2030.
Todas as instalações de armazenamento provisório da BGZ têm uma licença de funcionamento limitada a 40 anos. A de Ahaus, por exemplo, vence em 2036. Como o processo de aprovação é demorado, um pedido de renovação deverá ser apresentado ao Departamento Federal para a Segurança da Gestão de Resíduos Nucleares o mais tardar até 2028.
Mesmo que as usinas nucleares alemãs desapareçam de vista após o seu desmantelamento, a BGZ precisa estar preparada para um longo e dispendioso período de armazenamento provisório dos resíduos radiativos. Por isso, em Ahaus, muitos moradores temem que o depósito provisório na sua vizinhança acabe virando um "depósito provisório final".
Autor: Klaus Deuse