O próximo domingo (28) será um dia decisivo para a Venezuela. É eleição para presidente, e a maioria das pesquisas projeta a derrota de Nicolás Maduro, que está no poder há 11 anos.
Isso se nenhuma reviravolta ou fraude generalizada ocorrer, o que não seria novidade. O regime de Maduro tem um histórico de tornar seus adversários inelegíveis.
O principal candidato que o enfrenta é Edmundo González. Ele é a terceira opção da frente oposicionista. A primeira era María Corina Machado, que venceu as primárias e depois foi impedida pela Justiça, controlada pelo regime. A segunda era Corina Yoris, também barrada.
A última eleição foi em 2018. Os principais nomes da oposição foram desqualificados. E a vitória de Maduro não foi reconhecido por mais de 50 países.
Desta vez, o governo Maduro segue acusado de usar a máquina para assediar e atrapalhar os oponentes, mas há um pouco mais de confiança no processo eleitoral. Foi o que disse à DW uma ex-ministra da Justiça do Chile, hoje diretora de uma importante organização que avalia a democracia no mundo.
"A Venezuela, hoje, está longe de uma situação em que possamos dizer que o processo eleitoral é justo e imparcial. Mas temos que reconhecer uma dimensão importante desta eleição. A oposição conseguiu se unir em torno de um único candidato. Há um compromisso da oposição e dos venezuelanos de não boicotar, não ficar em casa, mas em participar e se envolver", frisou Marcela Rios Tobar, diretora para América Latina e Caribe da International IDEA.
A grande insatisfação social dentro da Venezuela é apontada por analistas como um dos fatores que explicam por que a oposição conseguiu lançar um candidato único neste ano. Mais de 7 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015, fraturando muitas famílias.
Outro fator relevante é a atuação da comunidade internacional e de países vizinhos. Brasil e Colômbia apareceram para desempenhar um papel mais ativo na situação.
Ambos são países vizinhos que têm governos de esquerda que podem ter uma conversa mais próxima com a gestão Maduro. Ambos os países podem desempenhar um papel fundamental ao pressionar o governo a sentar-se e negociar um processo de transição, caso percam as eleições.
Maduro recentemente jogou lenha na fogueira. Disse que poderia haver um "banho de sangue" e "guerra civil fratricida" se ele perdesse. Lula, que no ano passado recebeu o venezuelano em Brasília, reagiu. Disse ter ficado assustado com a declaração e afirmou que ele tem de aceitar se perder nas urnas.
"Quem perde as eleições toma um banho de voto. Não de sangue. O Maduro tem que aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição", afirmou o presidente Lula.
O presidente venezuelano não deixou barato. Sem mencionar Lula, disse que quem se assustou deveria tomar chá de camomila. Uma eventual transição de poder seria longa. O próximo mandato de presidente começa só daqui a seis meses.