O desafio de preparar comida brasileira na Alemanha

Quem nasceu e foi criado no Brasil pode encontrar obstáculos ao tentar recriar pratos nacionais no país europeu. Mercados locais e mercearias de produtos importados ajudam na hora do improviso na cozinha.

Por Deutsche Welle

Uma das adversidades que os brasileiros podem enfrentar ao viver na Alemanha é a adaptação aos hábitos alimentares e à culinária local. Há marcas, temperos e ingredientes utilizados em receitas tipicamente brasileiras que não são comercializados ou que não contam com um substituto idêntico nos supermercados alemães. Quando isso acontece, a alternativa é ter criatividade, curiosidade, senso de experimentação e buscar itens semelhantes que podem ser incorporados à receita.

Os pratos típicos brasileiros são na verdade uma mistura herdada da miscigenação histórica com influência das culturas indígena, africana e portuguesa. O acarajé tão popular no nordeste do Brasil, por exemplo, é originário da culinária africana e conhecido como akara ou kosai em países como Nigéria e Gana. Já a tapioca é uma iguaria indígena oriunda de aldeias tupiniquins que comem o beiju: um bolo achatado em formato redondo feito de farinha de fécula de mandioca.

Na Alemanha, por sua vez, a culinária é predominantemente caracterizada pelos regionalismos e variações do mesmo produto. A salsicha, por exemplo, tem particularidades conforme a localidade: a versão branca é mais comum na Baviera, a salsicha avermelhada preparada com molho curry, a Currywurst, foi inventada em 1949 pela berlinense Herta Heuwer e é bastante consumida na capital alemã, enquanto que na Turíngia há uma linguiça fina (de 2 a 3 cm de diâmetro) e longa (entre 15 e 20 cm de comprimento) conhecida como Thüringer Rostbratwurst.

Nesse contexto de culinárias distintas, para se preparar receitas típicas no Brasil na Alemanha, como feijoada, coxinha, bobó de camarão, baião de dois, pavê e brigadeiro, é necessário criatividade. O creme de leite, por exemplo, utilizado tanto para receitas doces como salgadas não tem uma versão teutônica idêntica, mas há produtos equivalentes dependendo de aspectos como textura, paladar e consistência.

O Crème fraiche é um laticínio que se encontra facilmente nas geladeiras da Europa e é um pouco mais azedo e mais firme que o creme de leite. O Cremefine é bastante líquido e pode ser encontrado em duas versões: Cremefine zum Kochen para molhos e Cremefine zum Aufschlagen, que tem um teor de gordura mais elevado e é ideal para ser batido até virar chantilly.

De acordo com a chefe de cozinha e proprietária do restaurante Grillhaus Romario, Marcia Brucher, há um terceiro laticínio que substitui o creme de leite e o uso dele é determinado pelo tipo de receita a ser preparada. "O que na Alemanha é conhecido como Sahne é um pouco mais fraco que o creme de leite e tem potência para o preparo de sobremesas. Já o Kochsahne é apropriado para cozinhar receitas salgadas", explica.

Pequenos estabelecimentos podem ser a solução

A baiana Brucher mora há mais de 30 anos na Alemanha e comanda a churrascaria Grillhaus Romario, que possui filiais em três cidades no estado de Baden-Württemberg: Stuttgart, Tamm e Heilbronn. Segundo ela, não é necessário ficar restrito às maiores e mais conhecidas redes de supermercado para achar os produtos semelhantes aos consumidos no Brasil.

"Quando preciso fazer uma receita típica do nordeste brasileiro, eu vou nas lojas de produtos africanos. Eles têm ingredientes quase iguais aos nossos. Pode parecer desafiador preparar moqueca de peixe na Alemanha, uma vez que o prato requer azeite de dendê. Ele é um tipo de óleo difícil de achar, mas eu encontro com facilidade em mercearias africanas", afirma.

Brucher também tem uma dica para o leite de coco é outro exemplo. "Eu preparo de maneira caseira com coco ralado ou vou em lojas asiáticas, que têm a versão chinesa do leite de coco. É muito similar ao que consumimos no Brasil."

Em relação à suposta dificuldade de adaptação culinária em um país estrangeiro, Brucher aponta que tudo é uma questão de curiosidade e busca por informação. "Eu acredito que há uma parcela dos brasileiros morando no exterior que é acomodada e precisa melhorar a maneira como lida com a necessidade de improviso. A internet está disponível e pode ser acessada pelo telefone quando vamos fazer compras no mercado. Basta pesquisar. Também podemos consultar blogs ou grupos nas redes sociais para achar relatos de quem vive no exterior e tem dicas e sugestões de como adaptar receitas", recomenda a empreendedora baiana.

Autor: Gustavo da Silva Barbosa

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