Uma explosão no hospital Al-Ahli Arab, na Cidade de Gaza, causada por um foguete na terça-feira (17/10), desencadeou uma guerra de versões e acusações sobre o incidente, acirrando ainda mais o conflito entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas.
Estima-se que centenas de pessoas tenham morrido no hospital, que seria o único administrado por cristãos na Faixa de Gaza. O caso levou a protestos em vários países muçulmanos e também atrapalhou as conversações dos Estados Unidos com nações árabes. Depois da explosão, o presidente Joe Biden teve cancelada sua viagem à Jordânia, onde se reuniria com autoridades do Oriente Médio, incluindo o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
O que diz o Hamas
O Hamas, que é considerado uma organização terrorista por União Europeia, EUA e outros países, culpou Israel pelo ataque ao hospital. Segundo os últimos números do grupo, mais de 470 pessoas foram mortas e outras 300 ficaram feridas na explosão.
Forças israelenses têm executado incessantes bombardeios contra a Faixa de Gaza desde que o Hamas perpetrou um ataque sem precedentes contra a população israelense em 7 de outubro. Estima-se que pelo menos 1.400 tenham morrido na ofensiva do grupo islâmico, enquanto a retaliação de Israel já matou mais de 3.000 pessoas em Gaza.
O que diz Israel
Israel rejeita qualquer responsabilidade pela explosão no hospital. Em vez disso, o país culpa a organização palestina Jihad Islâmica, aliada eventual do Hamas e também considerada terrorista por EUA e Europa.
O presidente israelense Isaac Herzog escreveu no X (antigo Twitter): "Que vergonha para os terroristas vis de Gaza que deliberadamente derramaram o sangue de inocentes".
Segundo Israel, foguetes da Jihad Islâmica foram disparados contra o território israelense, mas acabaram errando o alvo e atingindo o hospital.
O porta-voz do exército israelense, Jonathan Conricus, disse à emissora americana CNN que conversas interceptadas pelo serviço de inteligência mostraram combatentes do Hamas discutindo o "mau funcionamento" dos foguetes.
O que dizem os EUA
O presidente dos EUA, Joe Biden, endossou o relato israelense. "Parece que o ataque foi realizado pelo outro lado", disse Biden logo após chegar a Israel nesta quarta-feira, onde se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Mais tarde, o líder americano atribuiu a culpa com mais firmeza, dizendo que, "com base nas informações que vimos até agora, parece ser resultado de um foguete lançado erroneamente por um grupo terrorista em Gaza".
A Casa Branca também informou que dados preliminares da inteligência dos EUA indicam que a explosão foi causada por um foguete de origem de um grupo palestino.
"Embora continuemos a coletar informações, nossa avaliação atual, baseada na análise de imagens aéreas e de interceptações, é que Israel não é responsável pela explosão no hospital em Gaza", afirmou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson.
A inteligência americana incluiu dados de satélite e infravermelhos que mostram o lançamento de um projétil a partir de posições militantes dentro de Gaza, informou o jornal New York Times, citando autoridades americanas.
O que dizem especialistas
Uma transmissão ao vivo da emissora Al-Jazeera mostrou imagens do incidente. Verificado pelo jornal britânico The Guardian e pela emissora BBC, o vídeo mostra uma luz brilhante subindo aos céus acima de Gaza às 18h59 (horário local). Pouco depois, esse objeto explode no ar e, em seguida, uma explosão é vista no local do hospital.
Especialistas ouvidos pela imprensa britânica afirmaram que parece se tratar de um foguete que explode ou se desintegra. Os primeiros relatos da explosão começaram a aparecer entre 19h e 19h20. Segundo o The Guardian, ao longo dia, os canais do Hamas no Telegram divulgaram atualizações sobre tentativas de ataque a Israel, incluindo o lançamento de foguetes próximo ao horário do incidente no hospital. Uma hora depois, o Hamas acusa Israel pela explosão no local.
Especialistas ouvidos pela DW dizem que é difícil tirar conclusões sobre a explosão por enquanto.
A especialista militar Marina Miron, do Departamento de Estudos de Defesa do King's College, em Londres, afirmou à DW que, para confirmar quem é o responsável, seria necessárioo "haver mais evidências, como um exame do local de lançamento".
Giancarlo Fiorella, diretor de pesquisa e treinamento do Grupo de Jornalismo Investigativo Bellingcat, também se mostrou cético quanto a tirar conclusões, dizendo que "no momento não encontramos nenhuma evidência conclusiva que possa apontar o dedo em uma direção ou outra".
Como reagiram outros países
O porta-voz da Autoridade Nacional Palestina, Nabil Abu Rudeineh, classificou o episódio como "genocídio" e uma "catástrofe humanitária". Já o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, conceituou o ataque como um "crime horrível", dizendo que os países que apoiam Israel têm responsabilidade.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que o ataque foi "o mais recente exemplo entre os ataques de Israel, desprovidos de valores humanos básicos". No X (antigo Twitter), Erdogan escreveu: "Apelo a toda a humanidade para que sejam tomadas medidas para cessar essa brutalidade sem precedentes em Gaza".
Catar, Jordânia e Irã também condenaram o ataque, com os iranianos dizendo em um comunicado que a explosão atingiu "pessoas indefesas e desarmadas" e que o episódio se caracteriza como "um crime selvagem de guerra".
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que o ataque foi "horrível e absolutamente inaceitável".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se manifestou: "A OMS condena veementemente o ataque ao hospital Al-Ahli. Apelamos à proteção imediata dos civis e aos cuidados de saúde, e à reversão das ordens de evacuação [da população civil do norte de Gaza, a pedido de Israel]", escreveu o diretor-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
ek/cn (DW, ots)