A nova “tribo” que mais cresce na Amazônia, segundo o jornal Washington Post desta segunda-feira, é o Primeiro Comando da Capital, o PCC.
“O PCC está se deslocando para os cantos mais remotos da floresta Amazônica, onde alimenta a criminalidade ambiental. A região já foi levada ao limite pela deflorestação ilegal. Agora, com o PCC, com a mineração e madeireiras, aprofundou o perigo ao bioma” – conta o jornal, a partir do Território Indígena do Boqueirão, com os repórteres Terrence McCoy, Marina Dias e Júlia Ledur.
A “tribo” do PCC é perceptível em toda a floresta. São guerras com o Comando Vermelho, também presente na Amazônia, massacres em presídios e em favelas ribeirinhas, e o crescente número de assassinatos. O Post concentrou sua longa reportagem em Roraima, nas reservas Macuxi e Ianomâmi, e conclui que “o Brasil fracassou em conter a sua propagação”. Os repórteres tiveram acesso a um relatório confidencial da inteligência brasileira sobre o PCC na Amazônia.
“A história da violenta expansão do PCC nas terras indígenas de Roraima começou em janeiro de 2018, quando, certa manhã, a energia foi cortada na Penitenciária Agrícola Monte Cristo, a maior do estado. Por mais de 30 minutos, ela ficou às escuras. Quando a eletricidade foi finalmente restaurada, os funcionários da prisão encontraram um túnel subterrâneo tosco no centro do complexo. A outra extremidade levava para fora da prisão. Noventa e dois presos desapareceram na cidade de Boa Vista, capital de Roraima” – publica o Post. Um dos fugitivos foi “Big Baby”, que se instalou numa reserva Ianomâmi isolada, onde muitos não falam português e nunca tiveram contato com o mundo exterior. Em 2021, militantes que lotaram sete barcos, mascarados e com coletes à prova de bala, abriram fogo na comunidade de Palimiu. Eram do PCC. “Big Baby” foi morto pela polícia.
Em fevereiro de 2023, o PCC conquistou a mina de ouro mais lucrativa da região Ianomâmi, conhecida como “Mil Ouro”. O líder, agora, era conhecido como “Presidente”. E ele presidia um território maior que Portugal. A “primeira-dama”, chamada “Senhorita”, postou online fotos vestida com uniforme camuflado, com um rifle de assalto ao fundo. Em seu depoimento, ela conta que funcionários da saúde visitaram os Ianomâmis depois da eleição do presidente Lula: “As minas poluíram os rios. As pessoas tinham pouco para comer ou beber. Os casos de malária aumentaram dez vezes ao longo do rio Uraricoera”. Estudos mostraram que comunidades inteiras sofriam de envenenamento por mercúrio. Centenas de crianças morreram. O relatório de inteligência obtido pelo Post revela: “Presidente tinha à sua disposição um de homens fortemente armados, um sistema de comunicação pelotão por rádio, drones, internet sem fio, um arsenal de armas de diferentes calibres e uma série de acampamentos florestais escondidos para os quais ele poderia facilmente escapar. ”
Ano passado, durante uma operação para a retirada de 20 mil mineiros das terras Ianomâmi, o “Presidente” foi morto. Os helicópteros usados pelos policiais tiveram que se afastar porque não eram blindados, durante um tiroteio. Ele e a primeira-dama, Senhorita, acharam que “a guerra” tinha acabado, mas não. “Presidente” foi ver. Os policiais, sob a chefia de um agente veterano de operações para o Ibama, Felipe Finger, o perseguiram até perto de uma mina de ouro abandonada. E o mataram.