Uma “guerra de versões” sobre alertas secretos de que Israel estava à beira de ser atacado, pouco antes da invasão do Hamas em 7 de outubro de 2023, provocou a criação de uma comissão civil independente de inquérito na qual já depôs o ex-primeiro-ministro Yair Lapid, acusando: “Netanyahu está mentindo e é por isso que tem tanto medo de um inquérito público”.
Para entender: dez semanas antes do massacre do Hamas, o chefe do Shin Bet, o serviço de espionagem doméstica israelense, Ronen Bar, procurou o primeiro-ministro Netanyahu para lhe dizer, formalmente, que tinha “um aviso de guerra”.
Sem ser específico, o aviso acabou atribuído a uma guerra com o Hezbollah, no Líbano, com o apoio do Irã, ou a uma escalada na Cisjordânia. Importante em Israel, no momento do “aviso de guerra”, era a aprovação do primeiro passo da revisão judicial, pelo Parlamento, que dividia os israelenses, muitos temendo a subjugação da Justiça ao Legislativo, acabando com a democracia em Israel.
Com aprovação de Netanyahu, o chefe do Shi Bet passou a mesma informação ao líder da oposição Yair Lapid — que, então, alertou a imprensa sobre “um confronto violento e multifrontal”, em 20 de setembro. Nada específico também.
O gabinete do primeiro-ministro negou ter recebido “um aviso de guerra” mencionando Gaza, “nem um momento antes das 6h29 do dia 7 de outubro”, quando o Hamas disparou uma barragem de foguetes para encobrir sua invasão aos kibutzim e ao festival de música no sul de Israel.
Quatro dias antes da invasão do Hamas, o Shin Bet apresentou uma avaliação de que seu líder, Yahya Sinwar, não estava interessado “em se envolver em uma rodada de combates”. Para comprovar, dois documentos secretos apresentados informavam que as concessões de Israel a Gaza (a permissão de mais trabalhadores palestinos em território israelense) “permitirão a preservação da ordem pública por um período prolongado”.
Aí começou a “guerra de versões”. O primeiro-ministro Netanyahu atribui a culpa pela surpresa de 7 de outubro aos órgãos de defesa. Ele está segurando a criação de uma Comissão de Inquérito formal para quando a guerra acabar. Vários militares de inteligência e do exército já assumiram um mea-culpa e renunciaram a seus postos. O líder da oposição Lapid acusa o governo. Em seu testemunho na Comissão de Inquérito Independente ele disse que Netanyahu foi avisado várias vezes, antes de 7 de outubro, que as políticas de seu governo tinham corroído a dissuasão israelense. A percepção era de que Israel, por causa da reforma judicial, estava fragilizado e distraído para questões de defesa.
Ex-ministro da Defesa em 2016, Avigdor Lieberman publicou, nesta sexta-feira, na plataforma X: “O jogo de culpa em tempo de guerra, entre o chefe do Shin Bet e o primeiro-ministro, é um lembrete de que todos os envolvidos e responsáveis pelo fracasso de 7/10 precisam voltar para casa”.