Nova esperança contra o câncer no cérebro vem do Zika vírus

Pesquisa de startup com a USP confirmou a eficácia da forma sintética da doença contra tumores cerebrais

Por Roberta Scherer

Uma pesquisa feita por uma startup incubada no laboratório do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC) da Universidade de São Paulo confirmou a eficácia da forma sintética do Zika vírus no tratamento contra tumores cerebrais. O vírus criado em laboratório é diferente do encontrado na natureza, que - quando transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti - pode causar microcefalia congênita e síndrome de Guillain-Barré.

Quando injetado no corpo do paciente, o vírus chega ao cérebro, infecta e mata somente as células tumorais. Além disso, ativa o sistema imunológico sem chance do paciente desenvolver outras doenças comuns do zika.

A pesquisa já mostrou bons resultados em laboratório. A aplicação de três injeções com vírus zika modificado em camundongos com tumores no cérebro foi capaz de destruir o câncer sem provocar lesões neurológicas ou em outros órgãos. Pesquisadora e fundadora da startup que desenvolveu a tecnologia, Carolini kaid  afirma: "É a primeira vez no mundo que a gente consegue desenvolver um vírus geneticamente modificado de um jeito mais seguro e eficaz, o vírus destrói o tumor, inclusive o que causa metástase".

O resultado promissor dá esperança para mais de 300 mil pacientes em todo o mundo, que são anualmente diagnosticados com a doença. A expectativa de vida normalmente é de um ano após a identificação do tumor. Foi o tempo que o pai da jornalista Patrícia Calderón teve de tratamento, antes de morrer por consequência da doença. A filha agora faz parte de um grupo de apoio a pacientes, familiares e cuidadores, o "Tropa da Cura". Todos acompanham de perto aos resultados da pesquisa. 

Após descobrir um câncer no cérebro em 2016, o Junior C, que é DJ, hoje participa do grupo de apoio. Ele chegou a passar por duas cirurgias, além de radioterapia e uma mudança radical de hábitos. Hoje está em remissão, ou seja, não se detectam mais células cancerígenas em exames de imagem e laboratoriais. Mesmo assim, por ele por outros pacientes que já receberam o meso diagnóstico, espera ansioso pelo medicamento que poderá ser desenvolvido a partir da pesquisa.  

Só que o avanço do estudo está ameaçado, já que os recursos que bancam a pesquisa devem acabar no fim do ano. É preciso mais investimento, parceiras públicas ou privadas para que a droga se desenvolva para os ensaios clínicos em humanos. A previsão é que - se continuar - poderá ser apresentada a aprovação da Anvisa e comercialização em 2027.

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