Moises Rabinovici

Netanyahu é contra ou a favor de um acordo?

Por Moises Rabinovici

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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel
DEBBIE HILL/Pool via REUTERS

Sempre que Israel e Hamas chegam perto de um acordo de cessar-fogo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu intervém para boicotá-lo. Foi o que acaba de acontecer: antes que os negociadores israelenses partissem para o Cairo, nesta segunda-feira, para reiniciar o acordo reavivado na sexta-feira passada, ele declarou, publicamente, que há quatro pontos que são “inegociáveis”.

“Qualquer acordo (1) permitirá a Israel retomar os combates até que todos os objetivos da guerra tenham sido alcançados; (2) impedirá o Hamas de contrabandear armas do Egito; (3) impedirá o regresso de milhares de terroristas ao norte de Gaza; (e 4) deverá maximizar o número de reféns vivos que regressam do cativeiro do Hamas”.

A reação em Israel foi a pior possível. Funcionários do governo disseram que os “pontos vermelhos” de Netanyahu são prejudiciais às negociações com o Hamas. A exigência número dois é um insulto repetido ao Egito, que até ameaçou retirar seu embaixador de Telavive numa ocasião anterior. Fica no ar a incompetência egípcia, ou sua cumplicidade, em agir em seu próprio território contra o contrabando de armas. As famílias dos reféns em Gaza acusam o governo de se preocupar mais com a sua própria sobrevivência, ameaçada por dois partidos religiosos contra o acordo de cessar-fogo, do que com a sobrevivência dos reféns.

Netanyahu não informou ao seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, sobre os quatro pontos não negociáveis. Se ele se opõe a um cessar-fogo permanente, para que mandou seus negociadores ao Catar, na sexta-feira, e ao Cairo, nesta segunda? “Estamos num momento crítico das negociações”, comentou o líder da oposição, Yair Lapid: “Por que fazer declarações tão provocativas? Como isso contribui para o processo? ”

O biógrafo de Netanyahu e também seu crítico, Ben Caspit, explicou que tinha uma resposta simples: “Ele pode estar disposto a recuperar os reféns, mas não à custa do bem-estar da sua coligação. É simples assim”. Há outra possível explicação: ele estaria empurrando um acordo para o final de julho, quando o Parlamento entra em recesso, e aí não correrá perigo de ser derrubado, se abandonado pelos partidos religiosos.

O líder da oposição, Yair Lapid, reiterou no domingo a sua oferta de amparar Netanyahu, com os votos de seu partido, para que ele siga adiante com o possível acordo. “Essa não é uma declaração fácil e não é uma decisão fácil”, disse Lapid. “Netanyahu é um primeiro-ministro ruim e fracassado, e ele é o culpado pelo desastre de 7 de outubro, mas o mais importante é trazer as pessoas sequestradas para casa”. O líder do partido Sionismo Religioso, o ultradireitista Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, levantou no Parlamento um cartaz em que o líder do Hamas, Yahya Sinwar, comemora uma vitória. Será “uma derrota e humilhação para Israel” (o acordo). “Esse é o quadro que veremos em Gaza se, Deus nos livre, assinarmos esse acordo irresponsável” – para ele, a morte de todos os reféns e de milhares de outros que morrerão no próximo massacre” do Hamas. Ele repetiu a promessa de sair da coligação governamental, deixando-a minoritária no Parlamento: “Não faremos parte de um acordo para nos rendermos ao Hamas”.

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