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Após 80 anos de naufrágio, navio nazista continua vazando produtos tóxicos no mar 1/6
Os destroços de um barco de patrulha nazista naufragado há 80 anos na costa da Bélgica continuam liberando substâncias poluentes no mar, influenciando até os dias de hoje o microbioma marinho nas proximidades da embarcação.
É o que aponta um estudo publicado no periódico Frontiers in Marine Science, que identificou a presença de componentes explosivos, arsênico e metais pesados (como níquel e cobre) em amostras extraídas do casco do navio e de sedimentos próximos ao naufrágio.
O patrulheiro nazista V-1302 John Mahn foi naufragado por aviões de guerra britânicos durante a Segunda Guerra Mundial na costa da Bélgica. Seus destroços se encontram hoje a cerca de 35 metros de profundidade na região do mar do Norte, entre a Grã-Bretanha e o continente europeu.
Nas amostras, foram encontrados ainda vestígios de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), substâncias químicas que ocorrem naturalmente no carvão, petróleo bruto e gasolina. Todos os elementos descobertos podem ser tóxicos para a vida marinha, impactando o crescimento, a reprodução e a alimentação desses organismos.
“Embora não vejamos esses antigos naufrágios e muitos de nós não saibamos onde eles estão, eles ainda podem estar poluindo nosso ecossistema marinho”, disse Josefien Van Landuyt, pesquisadora da Universidade Ghent e uma das envolvidas no estudo, ao blog Frontiers Science.
“Na verdade, o avançar do tempo sobre esses naufrágios pode aumentar o risco ambiental devido à corrosão, que está abrindo espaços antes fechados”, afirmou a pesquisadora.
Impactos na organização da vida marinha
Peixes, caranguejos, moluscos e plantas marinhas costumam usar os destroços de uma embarcação como recifes artificiais. Os pesquisadores descobriram que o naufrágio do V-1302 John Mahn apresenta, de fato, um nível relativamente alto de biodiversidade, mas que a presença dos destroços teve influência sobre a organização do microbioma marinho ao seu redor.
Em geral, bactérias degradadoras de HPAs foram encontradas em maior quantidade nas amostras extraídas do que seria o depósito de carvão da embarcação --o que, de acordo com o estudo, indica que elas estariam se beneficiando da disponibilidade da substância no mar até hoje.
Além disso, bactérias envolvidas com a corrosão do aço foram encontradas nas amostras retiradas do casco, sendo provavelmente responsáveis pela sua erosão.
O estudo faz parte do projeto North Sea Wrecks (Naufrágios do Mar do Norte, em tradução livre), que tem como objetivo avaliar os riscos ambientais ligados a naufrágios na região do mar do Norte, que engloba as costas da Bélgica, Noruega, Dinamarca, Holanda, Grã-Bretanha e Alemanha.
À CNN, Van Landuyt disse esperar que os dados coletados pelo projeto auxiliem os formuladores de políticas públicas a decidir quais são os melhores passos para lidar com os destroços, de forma a proteger o ecossistema marinho.
De acordo com os pesquisadores, estima-se que haja entre 2,5 milhões e 20,4 milhões de toneladas de produtos petrolíferos dentro do mar em todo o mundo devido aos naufrágios da Primeira e da Segunda Guerra Mundial.