Não seja "sommelier de vacina": imunologista explica reações e tipos de imunizantes contra Covid

Efeitos colaterais podem (ou não) ocorrer com qualquer vacina, seja AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer ou Janssen

Da Redação

Seja por medo de efeitos colaterais da vacina contra a Covid-19, desinformação ou preconceito, as pessoas estão tentando escolher o fabricante da dose que será aplicada. Não importa se é AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer ou Janssen: as reações podem acontecer com qualquer imunizante e, caso aconteçam, são um sinal positivo de que o processo de imunização está funcionando.

Os profissionais de saúde, muitas vezes sem conseguir fazer essas pessoas mudarem de ideia, explicam que efeitos colaterais são normais, ocorrem com qualquer vacina e podem nem ocorrer. 

Para tirar as principais dúvidas dos telespectadores e internautas, a Band conversou com a imunologista e alergista da USP Brianna Nicoletti, para acabar com os mitos mais comuns sobre possíveis efeitos colaterais e acabar com a prática do “sommelier de vacina”, que não ajuda a frear o ritmo de transmissão da Covid-19, que está em ritmo acelerado no Brasil.

O programa “Tire suas Dúvidas” tem transmissão exclusiva no YouTube e no Facebook Band Jornalismo toda quinta-feira com um tema diferente, a partir do meio dia, sempre respondendo às dúvidas enviadas dos internautas pelo WhatsApp (11) 99958-9588.

Como confiar nas vacinas, se há casos de quem tomou as duas doses e ainda assim foi infectado?

 “A vacina não significa que você não vai pegar Covid. Significa que a chance de você pegar é menor. E, quando existe uma vacinação de uma porcentagem considerável da população, todo mundo já com alguma imunidade, o ritmo de transmissão diminui”, explica Nicoletti.

“Outro ponto da vacina é diminuir a quantidade de casos graves. Ter alguma memória imunológica para esse vírus, que é muito novo, traz uma resposta melhor do nosso organismo. A vacina não é um ato individual, mas coletivo”, lembra a imunologista.

É preciso lembrar que nenhuma das vacinas contra a Covid-19 tem eficácia de 100%. Apesar de estar vacinado, é preciso manter as medidas para evitar o contágio: uso de máscara e higiene das mãos.

AstraZeneca, Pfizer, CoronaVac ou Janssen: Qual é a verdadeira importância de saber a procedência da vacina?

Temos o direito de saber. Na carteirinha de vacinação é descrito qual farmacêutica produz o imunizante e o lote de fabricação, para efeitos de rastreio e programação de aplicação da segunda dose. Mas “escolher” o fabricante da primeira dose atrasa a imunização em massa, que é fundamental para deter o ritmo de disseminação ao vírus.

Porque grávidas precisam tomar vacinas Pfizer ou CoronaVac?

Gestantes naturalmente possuem maior tendência à trombose. Por isso, a recomendação do Ministério da Saúde para que as grávidas não sejam imunizadas com vacinas da AstraZeneca ocorreu após registros de casos adversos.

Por que a gente ouve tanta gente relatando efeitos colaterais da vacina da AstraZeneca?

A vacina da AstraZeneca é feita com base em um adenovírus de chimpanzé, modificado para ter a espícula da covid-19, que simula o processo inflamatório e a imunização. Por ter o vírus, ele gera mais inflamação no corpo, o que pode provocar mais efeitos colaterais que são simples de resolver. 

Na segunda dose, que deve ser tomada depois de 3 meses, os riscos de efeitos colaterais são ainda menores, já que o organismo foi apresentado ao vírus.

É verdade que somente quem não teve Covid desenvolve efeitos colaterais com a vacina?

Não existe essa correlação. O que provoca o efeito colateral é a reação inflamatória do sistema imunológico quando tem contato com o imunizante. Qualquer vacina pode gerar efeitos colaterais. Vai depender de como o seu sistema imunológico vai reconhecer o corpo estranho que está entrando no seu organismo. 

É verdade que a proteção contra a Covid-19 é maior quando os efeitos colaterais são maiores?

Não, o processo inflamatório de cada indivíduo não tem relação com o nível de imunização.

Vídeo: Em SP, público saberá qual é a vacina só na aplicação

Há restrições para o uso de remédios para amenizar os efeitos colaterais logo após a vacina?

Recomenda-se não utilizar remédios anti-inflamatórios, como corticoides. Analgésicos e antialérgicos não atrapalham o processo de imunização. Mas lembre-se de que a automedicação nunca é indicada. Para minimizar eventuais sintomas, busque orientação médica, seja por telemedicina ou de forma presencial.

O teste de Covid-19 pode dar positivo após a imunização com as duas doses?

Não existem exames que comprovem a imunização por meio da vacinação. Por isso, fazer os testes de Covid após a vacina não significa muita coisa. Até mesmo no caso do exame sorológico, que é feito com amostras de sangue, não ter anticorpos no teste não significa que não houve a imunização com as duas doses da vacina.

As vacinas no Brasil são experimentais?

As vacinas disponíveis no Plano Nacional de Imunização foram aprovadas pela Anvisa e passaram por todos os processos de estudo da agência.

Para qualquer dúvida, a Anvisa e os fabricantes disponibilizam as bulas das vacinas que estão disponíveis para imunização: Astrazeneca/Fiocruz; Coronavac/Butantan; Pfizer. AJanssen, que deve começar a ser aplicada em breve, também tem a bula disponível. 

A Sputnik V, fabricada pelo laboratório União Química, não tem bula disponível no site da Anvisa. O laboratório foi procurado pela Band por e-mail, mas não respondeu.

A vacinação contra covid-19 pode se tornar anual, como a da gripe?

Sim, existe essa chance. O coronavírus da Covid-19 é semelhante ao vírus da gripe: ambos são vírus simples, e qualquer mutação pode representar uma grande mudança para o nosso sistema imunológico. É por isso que a vacinação contra a gripe é anual: é importante ter uma vacinação recorrente para criar cada vez mais memória imunológica e estar mais forte perante ao vírus.

Veja os dados de eficácia das vacinas disponíveis no Brasil:

CoronaVac
- 50,7% contra casos sintomáticos;
- 83,7% contra casos graves;
- Em Serrana, onde toda a população adulta foi imunizada com CoronaVac: queda de 80% em casos sintomáticos e 86% nas hospitalizações por agravamento da covid-19; 
- No Chile, 80% de efetividade contra mortes e 86% em casos de hospitalização.

Oxford/AstraZeneca
- 76% contra casos sintomáticos;
- 100% contra casos graves;
- Reduziu risco de hospitalização na Escócia em 94%

Pfizer
- 95% contra todos os casos;
- Em Israel, estudo mostrou redução em 97% de infecções sintomáticas e 86% nas assintomáticas

Janssen
- 66% contra casos sintomáticos;
- 85% contra casos graves;

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