Não é fake news: Nikolas Ferreira preside Comissão de Educação

Dias após votação, sigo sem acreditar. Fico muito triste em saber que quem comanda essa comissão não tem um histórico de luta pela educação, além de não agir com maturidade, diálogo e respeito.

Por Deutsche Welle

Quando recebi a notícia dizendo que o deputado federal Nikolas Ferreira havia sido empossado como presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, eu, honestamente, achei que se tratava de uma fake news. Hoje, dias após, sigo sem acreditar.

Já quero deixar bem claro neste início: minha preocupação não está pautada na polarização direita X esquerda. Até porque, convenhamos, o queridíssimo deputado é um ser especial e que vai além de qualquer classificação. Tenho certeza que você, leitor, sabe exatamente o que quero dizer.

Sejamos honestos, quem aqui associava a imagem dele com o tema educação? Se tivesse sido eleito para presidir qualquer outra comissão, eu teria ficado apenas desapontado, mas não em choque ou surpreso.

As comissões, segundo informações da própria Câmara dos Deputados, têm funções legislativas e fiscalizadoras. A de Educação analisa propostas para os seguintes temas: assuntos referentes à educação em geral; política e sistema educacional em seus aspectos institucionais, estruturais, funcionais e legais; direito da educação, além de recursos humanos e financeiros para a educação.

Percebam o poder que o Nikolas, enquanto presidente, terá em suas mãos? E, por que, na minha opinião, ele não é adequado para o cargo? Bom, para começar, ele se comporta com muita imaturidade, ignorância e desrespeito. Dessa forma, é a representação direta de tudo aquilo que não é coeso com a educação. Começando pelo fato de que incita a polarização.

Acredito que não tenha uma fala dele em que ele não cite frases como: "vocês esquerdistas", "a esquerda isso" e "a esquerda aquilo". Na verdade, eu duvido que ele conheça genuinamente os conceitos de direita e esquerda. Aqui reforço o ponto do início: para mim ele não é de direita. Vai além da extrema de direita e se torna uma caricatura de tudo aquilo de mais absurdo que podemos imaginar. Lembra alguém?

Desrespeito generalizado

Para além disso, ele já demonstrou inúmeras vezes um grande desrespeito por pautas sociais e de minorias. Na prática, define tudo aquilo que não entende como "coisas de esquerda", "mimimi" e "ideologia". Esse seu modo de agir está na total contramão de como alguém na posição que passou a ocupar deveria ser.

Caso alguém não saiba ou tenha se esquecido, em 2022, ele compartilhou um vídeo expondo uma jovem trans de 14 anos que estudava no mesmo colégio de sua irmã. O Ministério Público de Minas Gerais aceitou a denúncia de transfobia. Não foi um caso isolado, ele não se cansa de sinalizar que não entende a transexualidade e não tem vergonha alguma em, inclusive, debochar, fazer chacota e desrespeitar as pessoas trans. Quem pode se esquecer do vídeo em que ele aparece com uma peruca, se intitula de Nicole e afirma se sentir mulher. Tudo isso para "exemplificar" seu ponto em relação à transexualidade. Olhem o tamanho da falta de informação, respeito e sensibilidade.

Ele ajudou a divulgar a fake news sobre banheiro unissex nas escolas. Ele compartilhou e ainda compartilha a fake news de que há uma doutrinação esquerdista nos colégios, incitando um ataque direto aos professores. Como vai assim presidir a Comissão de Educação?

Assisti a um vídeo de seu perfil no Instagram no qual ele responde umas perguntas sobre o tema educação. Ele deixou claro que acredita que nossas universidades públicas não estão produzindo conhecimento.

É óbvio que nossas universidades carecem de mais investimento em pesquisa e que os pesquisadores brasileiros precisam ser mais valorizados. Se ele tivesse dito algo nesse sentido ou até mesmo com um sinônimo mais simples, como "falta aumentar a eficiência", eu tentaria entender. No entanto, dizer que não produzem conhecimento é de um absurdo sem tamanho e mostra um total desconhecimento sobre o que acontece lá dentro.

Temos universidades entre as melhores do mundo e pesquisadores entre os melhores do mundo nas respectivas áreas, mas, para ele, as universidades são apenas um lugar com doutrina esquerdista e sem produção alguma. Lamentável.

O perigo desta escolha

Dado todas essas características, não sejamos ingênuos. A votação que o elegeu foi uma grande estratégia. Afinal, foi eleito por votos de seus colegas de extrema direita. De forma simplista, o PL o colocou no cargo. Na posição em que ocupa, teremos dois grandes e perigosos efeitos.

Primeiro: representando um grupo muito bem articulado, ele irá dificultar, prejudicar e limitar pautas importantes de cunhos sociais, de minorias e inclusão. Não estou exagerando. De um lado, nunca vimos ele falando ou se preocupando com elas. De outro, sempre o vimos debochando de tudo aquilo que não entende e definindo como mimimi ou ideologia.

Além disso, estará numa posição de articular políticas e discussões que corroborem com suas crenças e ideologias. Sua prioridade não é o acesso à educação, mas sim o pronome neutro. Sua prioridade não é a formação do senso crítico nos jovens, mas sim a suposta "não doutrinação". Sua preocupação não são os professores, mas sim a expansão dos colégios cívico-militares.

Fico muito triste em saber que a pessoa que está ocupando este cargo não tem um histórico de ativismo ou luta pela educação e que não é alguém que age com maturidade, diálogo e respeito. Sigo sem acreditar.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Autor: Vinícius De Andrade

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