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‘Viagem da libertação’: Mulheres que viajam sozinhas desbravam o mundo com a própria companhia

Apesar dos medos com a violência e perrengues, interesse delas por turismo solo aumentou nos últimos anos

Por Luiza Lemos

‘Viagem da libertação’: Mulheres que viajam sozinhas desbravam o mundo com a própria companhia
Mulheres querem viajar cada vez mais sozinhas
Reprodução/Pixabay

Resumo

  • Pelo menos 67% das mulheres jovens sonham em viajar, substituindo desejos tradicionais como casamento e filhos;
  • Prática ganha força como meio de autoconhecimento e independência, com mulheres compartilhando experiências positivas sobre viajar sozinhas;
  • Consultoras enfatizam a importância do planejamento cuidadoso para garantir segurança nas primeiras viagens solo. Elas sugerem começar com destinos mais próximos ou conhecidos. 

Este resumo foi gerado por inteligência artificial e cuidadosamente revisado por jornalistas antes de ser publicado.

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Viajar pelo mundo não estava nos planos de Flavia Goulart, mas ela sente que foi “encaminhada para isso”. Com 22 anos e após um intercâmbio na Inglaterra, Flavia fez a primeira grande viagem sozinha, por acidente, em 2007. “Eu ia com uma amiga fazer um mochilão pela Europa, mas ela acabou não podendo ir. Pensei em ir mesmo assim, mesmo com medo, sem referências ou internet no celular”, conta. 

Com um guia de papel na mão e um inglês satisfatório, Flavia viajou por três meses e se apaixonou por desbravar o mundo sozinha. Quase 18 anos depois, ela incentiva outras mulheres a descobrirem os benefícios da solitude. 

A solitude traz essa libertação para a mulher, em todos os sentidos, de se permitir viver as coisas, de tirar essas máscaras que a gente cria. Viajar sozinha é entender que a gente se basta - Flavia Goulart 

Como Flavia, muitas mulheres têm se interessado em aproveitar a própria companhia viajando. A última pesquisa da organização Think Olga mostra que casar e ter filhos deixou de ser prioridade para as mais jovens e que viajar é o sonho mais comum entre diferentes gerações. 

O levantamento mostra que 67% das mulheres entre 18 e 29 anos têm o sonho de viajar. Na faixa etária entre 30 e 49 anos, 59% das mulheres almejam o mesmo. Foi o caso da jornalista Gabriela Ferreira, que decidiu viajar sozinha para não perder a oportunidade das férias. 

“Quero conhecer alguns lugares e não tinha companhia, decidi me aventurar para não perder a oportunidade de descanso em um lugar que eu queria conhecer”, diz. Apesar de ter ido apenas para Salvador, na Bahia, ela se apaixonou pela própria companhia e já planeja novas viagens. 

“Foi uma experiência incrível de autoconhecimento. Você se abre para novas possibilidades, amizades, curte a cidade sem receio, fica livre para ser você mesma. Eu recomendo demais”, afirma. 

Julia Smith, que hoje faz consultoria de viagem para quem se interessa por turistar solo, viajar sozinha se tornou parte essencial da vida. “Já visitei 30 países sozinha desde que entendi que eu gosto da minha companhia, de planejar algo para fazer sozinha. Nunca mais parei de viajar e agora auxilio outras mulheres a fazerem o mesmo”, afirma. 

A consultora também não tinha tantos planos de viajar sozinha, mas se encantou pela possibilidade de conhecer novos lugares sem precisar de amigos, estar com a família ou uma companhia. “Fui para a Espanha não por querer viajar sozinha e sim para estudar, mas organizei tudo por conta própria e depois vi que eu gostava de fazer tudo por mim”, diz. 

‘O que garante a segurança de uma mulher é um bom planejamento’

Para Júlia e Flavia, o maior medo e motivo para desencorajar mulheres de viajarem sozinhas é o medo da violência e a insegurança. As duas contam que seguidoras e clientes de consultoria têm medo de passarem por assédios e violências sexuais. “O medo vem da falta de informação, da falta de referência. É por isso que compartilho minha jornada, para entenderem como funcionam as coisas”, diz Júlia. 

A viajante afirma que é preciso confiar no desconhecido, mas com cautela. “Não se deixe levar pelas notícias negativas, é preciso a se abrir, ouvir seus interesses e não se desmotivar por pessoas sem propriedade para falar sobre viajar sozinha”, afirma. 

Flavia aponta que não é preciso ter medo ao se lançar em uma viagem sozinha. Com planejamento, a segurança é garantida. “É preciso pesquisar bem o lugar, a documentação, aonde vai se hospedar e entender o bairro. O planejamento te garante, assim, 99% da sua segurança para não se colocar em risco”, aponta. 

A viajante até relembra um “perrengue” que passou no Leste Europeu e atribui a situação a um erro de planejamento. “Estava na Bulgária e queria ir até a Croácia, mas teria que passar pela Sérvia e eu não sabia que lá precisava de visto. Fui parada e precisei voltar em um trem sem turistas para a Bulgária”, conta. 

Ela relata que foi colocada em um trem com criminosos que a assediaram. “Os homens, que eram traficantes, tentavam me beijar, tentei contornar e quando saltei do trem na Bulgária, ainda fui perseguida. Mas é aquilo, foi uma experiência péssima diante de tantas outras maravilhosas em 18 anos de viagens. Nunca mais passei por nada disso, porque me planejo”, conta. 

Por isso, Flavia defende que mesmo com medo é preciso viajar, desde que se planejando bem. “Se você bolar um plano para lidar com as situações e perrengues que possam aparecer, você já está preparada e isso até te tranquiliza”, diz.

Tudo o que vamos fazer pela primeira vez, vamos sentir um desconforto e medo. Mas não adianta esperar o medo ir embora, é preciso perder ele durante a trajetória - Flavia Goulart.

Gabriela Ferreira, que viajou pela primeira vez sozinha, procurou hotéis e hostels bem avaliados nas plataformas e, para se garantir, comprou uma fechadura de viagem para os quartos. “Foi tudo muito tranquilo, nem enfrentei perrengues. Sempre dá um medinho, mas comecei com um destino conhecido para não ter problemas”, pontua.

‘Comece aos poucos a ficar sozinha e depois vá viajar’

Outro impeditivo para mulheres começar a viajar sozinhas é a solidão, o medo de não ter com quem trocar experiências. Flavia brinca que viajar sozinha é como um “plano de libertação”. “Se acha que vai se sentir só em uma viagem, tem que entender se já fica sozinha durante o dia a dia, como ir ao cinema, a um bar ou até na praia”, diz. 

A questão, para Flavia, é entender se a pessoa já é habituada à própria companhia. “Vai ganhando a confiança, faz um bate e volta para uma cidade próxima, fazendo coisas sozinhas na própria cidade”, sugere. 

Júlia Smith, por sua vez, indica mudar o ambiente antes de se lançar em viagens solo. “Para muitas ainda não é uma realidade, então pode ser que alguém tente te desmotivar. Se você começar a viajar para locais próximos e encontrar pessoas que fazem o mesmo, isso é poderoso, muda o ambiente”, comenta. 

Para Júlia, não adianta escutar quem nunca viajou só. “Ouvir conselhos de quem viajou para alguma cidade em família, com amigos, é diferente da experiência de quem foi sozinha. As dicas são diferentes, a perspectiva também”, afirma. 

E se, mesmo assim, tem medo de sentir solidão durante uma viagem do tipo, as consultoras recomendam procurar hospedagens como hostels. “Lá você tem mais chance de fazer amizades, mas é possível optar também por viajar de excursão, fazer passeios em tour, porque aí você tá sempre em grupo”, recomenda Flavia. 

“No hostel você compartilha o quarto com pessoas do mundo inteiro, pessoas que também estão viajando sozinhas, isso facilita para fazer amizade, fazer atividades e tours em grupo também”, pontua Julia. Foi o que Gabriela Ferreira fez e, agora, tem amizades até hoje. “Conheci muita gente legal, fiz amizades que converso e, para mim, valeu muito a pena, é absurdo de bom ter uma experiência dessas”, diz. 

Quais os melhores lugares para viajar sozinha?

As consultoras de viagem recomendam começar por locais próximos, ou dentro do Brasil, caso ainda tenha receios. Mas, se quer se aventurar e não sabe por qual país começar, elas sugerem ir pelo conhecido. Países da Europa como Itália, Espanha e Portugal são boas opções, mas também Argentina, Chile e Estados Unidos são recomendadas. 

Flavia aponta que um local que ela se sentiu segura e se surpreendeu foi no Sudeste Asiático. “Vietnã, Laos e Tailândia. A gente nunca pensa que seriam locais seguros, mas, como mulher, fiquei muito tranquila, vale muito a pena”, diz. 

No Brasil, Flavia sugere cidades como Gramado, Rio de Janeiro e Curitiba para começar, já que são mais conhecidas e têm locais seguros para mulheres. 

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