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Mounjaro, concorrente do Ozempic, bomba nas redes mesmo custando mais caro

Segundo levantamento da Sala Digital Google, as buscas pelo medicamento quase empataram com o remédio fabricado pela Novo Nordisk em 2024

Por Gabrielle Pedro

Se você está nas redes sociais e busca conteúdos sobre emagrecimento, provavelmente já se deparou com influenciadores e celebridades falando sobre o uso do Mounjaro (tirzepatida), medicamento injetável, indicado para o tratamento do diabetes tipo 2, está sendo prescrito off label (para uma finalidade diferente daquela aprovada), assim como o Ozempic (semaglutida), outro amplamente utilizado para perda de peso.

De acordo com dados da Sala Digital Band, o Brasil foi o quinto país com maior interesse de busca sobre tirzepatida nos últimos 12 meses. Além disso, a pesquisa mostrou que, em fevereiro de 2025, a procura pelo Mounjaro empatou praticamente com as buscas pelo Ozempic.

Qual a diferença entre Mounjaro e Ozempic?

O nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), explica que a principal diferença entre os dois medicamentos está no mecanismo de ação.

"O Mounjaro é um agonista dual, uma substância que imita dois hormônios intestinais: o GLP-1 e o GIP. Já o Ozempic é um monoagonista, atuando apenas sobre o GLP-1", detalha o especialista.

Esses hormônios são liberados a partir da ingestão alimentar e desempenham um papel fundamental no funcionamento do pâncreas. O GLP-1 e o GIP estimulam a produção de insulina pelas células beta pancreáticas e, no caso do GLP-1, também inibem a secreção de glucagon pelas células alfa pancreáticas.

"Inicialmente, as pesquisas indicam que o GLP-1 exerce ambos os efeitos, enquanto o GIP tem uma influência menos significativa na inibição do glucagon. Mas, independentemente disso, quando estimulados, esses hormônios não apenas reduzem a taxa de esvaziamento gástrico, como também atuam diretamente nos receptores do hipotálamo, influenciando os centros responsáveis pelo controle da fome e da saciedade", avalia Ribas Filho.

Diferença de preços entre o Mounjaro e o Ozempic

Os valores dos medicamentos também variam. A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, estabeleceu os seguintes preços:

  • 0,25 mg e 0,5 mg – R$ 929,00
  • 1,0 mg – R$ 1.063,00
    O preço máximo repassado ao consumidor pode chegar a R$ 1.292,78, dependendo da dose.

Já o Mounjaro, da Eli Lilly, ainda não teve o preço oficial definido. No entanto, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) determinou que o valor poderá variar entre R$ 1.523,06 e R$ 4.067,81, dependendo do ICMS de cada estado, da dose e da quantidade de canetas por embalagem.

“Obesidade é uma doença crônica e requer tratamento crônico”

Embora ambos os medicamentos sejam facilmente encontrados nas farmácias, Ribas Filho reforça que a "obesidade é uma doença crônica e requer tratamento crônico".

"Quando atendo um paciente com diabetes, geralmente utilizo duas, três, até quatro classes diferentes de remédios antidiabéticos. No caso da obesidade, um único agente farmacológico dificilmente atenderá às expectativas do paciente. Muitas vezes, a pessoa investe em um medicamento de alto custo, não emagrece como esperado e se frustra. Essa frustração pode gerar ansiedade, que, por sua vez, leva à fome compulsiva e ao ganho de peso. Por isso, esse aspecto precisa ser muito bem avaliado. É muito raro que um paciente com uma doença crônica utilize apenas um único medicamento.”

Dessa forma, quem optar pelo Mounjaro deve estar ciente que, além do custo do medicamento, pode precisar arcar com outras substâncias prescritas pelo médico.

Crianças “gordinhas”

Esse é justamente o caso das influenciadoras Aline Lebradt, de 29 anos, e Letícia Almeida, de 25. Ambas lutam contra a obesidade desde a infância e começaram a tomar o medicamento da Eli Lilly em 2024, mas garantem que o tratamento vai além do uso de apenas um fármaco.

"Entre os 14 e 15 anos, comecei a tomar sibutramina. Aos 16, já pesava mais de 100 kg, e meus pais tinham tentado de tudo para me ajudar. Até procurar políticos da minha cidade, em Cachoeira do Sul (RS). Foi então que decidi que faria a bariátrica", lembra Aline.

De 2018 a 2023, ela enfrentou uma longa batalha para conseguir a cirurgia pelo SUS. Inicialmente, foi rejeitada pela nutricionista. No final de 2020, foi encaminhada ao Hospital de Canoas, onde novamente teve o pedido negado.

"Fiquei nessas idas e vindas até 2023. Foi o pior ano da minha vida. Cheguei aos 193 kg e estava no fundo do poço", conta.

Sem conseguir trabalhar e enfrentando crises emocionais, Aline decidiu compartilhar sua história nas redes sociais.

"Tudo começou com um 'Oi, gente, meu nome é Aline e até três dias atrás eu não conseguia mais tomar banho sozinha'. Esse vídeo bateu 2 milhões de visualizações. Do dia para a noite ganhei mais de 20 mil seguidores. A partir desse vídeo, fiz conexões com outras 'Alines', com histórias semelhantes à minha", relata.

No início de 2024, começou a perder peso sem auxílio de medicamentos. "Eliminei 25 kg sozinha até que decidi iniciar o tratamento com o Mounjaro em setembro". Em seis meses, já havia perdido mais 30 kg, totalizando 55 kg a menos.

"Gastei cerca de R$ 20 mil com a tirzepatida e os multivitamínicos, mas não me arrependo. Sei que o Mounjaro não pode ser interrompido bruscamente, mas prefiro esse tratamento à bariátrica, pois não tem efeitos colaterais a longo prazo", afirma.

"Com medo pela minha mãe"

Já Letícia Almeida era mais relutante quanto ao uso de medicamentos para emagrecer. "Minha mãe faleceu em 2018 por conta do uso desses remédios, mas sem supervisão médica", explica.

"Com a perda dela, engordei ainda mais e passei dos 120 kg. Em 2022, decidi entrar para a Polícia Militar, mas sabia que não conseguiria com aquele peso. Comecei a treinar e compartilhar minha rotina na internet. No ano seguinte, já tinha perdido mais de 50 kg só com dieta e treinos, mas engravidei", conta.

Após o nascimento do filho, ela recuperou quase 30 kg. "Com 45 dias de pós-parto, voltei a treinar, mas não conseguia emagrecer. Meu marido já fazia tratamento com Ozempic e comecei a cogitar, apesar do medo. Também pensei na bariátrica, mas, com um bebê pequeno, seria complicado", explica.

Após exames e acompanhamento médico, optou pelo Mounjaro. "Comecei em junho de 2024 e, em fevereiro deste ano, atingi meu peso ideal: 63 kg. Agora estou me preparando para cirurgias plásticas para remover o excesso de pele", conta.

"Já gastei pelo menos R$ 70 mil, mas esse valor inclui suplementação, reposição hormonal, soro... Sei que provavelmente precisarei tomar o remédio para o resto da vida, mas em uma dosagem menor, o que será mais fácil de manter financeiramente", completa.

Por fim, a influenciadora, que conta com mais de 250 mil seguidores no Instagram, deixa um alerta: "Muitas meninas me perguntam se vale a pena investir no Mounjaro ou Ozempic. Eu sempre digo para procurarem um profissional. É possível gastar todo o dinheiro e não emagrecer ou recuperar tudo depois. Tudo precisa ser avaliado antes".

Mounjaro pode chegar aos SUS?

Atualmente, a cirurgia bariátrica é a única alternativa contra a obesidade disponível no SUS. Diante disso, o nutrólogo Durval Ribas Filho acredita que a incorporação do Mounjaro e do Ozempic ao sistema público de saúde seria extremamente benéfica para os pacientes. 

No entanto, ele ressalta que esse processo exige tempo e um alto investimento financeiro.

“Os laboratórios fazem um investimento altíssimo, para desenvolver uma substância como essa. Naturalmente, precisam recuperar esse valor” diz o nutrólogo. “Depois disso, gradativamente, esses medicamentos podem ser incorporados ao sistema. Isso leva tempo, mas não é impossível. 

O nutrólogo comparou com o caso dos medicamentos anti-hipertensivos que, no passado, eram caríssimos e que hoje estão disponíveis no SUS. “O mesmo aconteceu com diversos remédios para diabetes, que antes tinham um custo muito elevado e agora fazem parte da Farmácia Popular. Então, tudo é uma questão de tempo.”

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