Morreu na tarde desta quinta-feira (20) a cantora e compositora Elza Soares aos 91 anos. A informação foi confirmada no perfil oficial no Instagram. De acordo com a postagem, a cantora ícone da música brasileira morreu de causas naturais às 15h41 em sua casa, no Rio de Janeiro.
Elza Soares faleceu no mesmo dia do aniversário da morte de Mané Garrincha --que morreu em 20 de janeiro de 1983, há 39 anos. A cantora lançou 34 discos, o mais recente deles em 2019, intitulado “Planeta Fome”, e tinha prevista uma agenda de shows para fevereiro.
"É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais”, diz a nota publicada no Instagram.
“A cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação. A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo”, conclui o post.
Em entrevista ao BandNews TV, Zeca Camargo, biógrafo da cantora, destacou as dificuldades enfrentadas por ela durante a carreira “só não foram maiores do que a vontade dela de mostrar sua arte, de ter uma voz, de ser ouvida como mulher, tudo o que ela representava --representa até hoje”.
“Elza tem um papel na cultura brasileira tão importante, um papel que ela conquistou de uma maneira muito intuitiva. Todas as causas pelas quais ela lutou e virou uma super porta-voz, como o empoderamento feminino, a causa do racismo, da cultura negra e da periferia… Ela virou um megafone para essas questões e fez isso por instinto”, destacou Zeca Camargo.
“A gente perde a Elza Soares aqui. Mas a mensagem dela é infinita” (Zeca Camargo)
“Ela falava para a gente que não queria ser lembrada pelos momentos de queda. Ela queria ser lembrada pelos momentos em que ela se levantou, pela vitória, pela cabeça erguida. Essa era a atitude dela na vida”, afirmou Andrea Alves, idealizadora do musical Elza em entrevista ao BandNews TV.
Trajetória conturbada
Elza da Conceição Soares, expoente da música popular brasileira, nasceu em uma família de 10 irmãos, na Vila Vintém, comunidade no bairro de Padre Miguel, na Zona Norte do Rio.
A artista teve uma infância conturbada: casou-se aos 12 anos obrigada pelo pai, e o sobrenome “Soares” foi herdado do primeiro marido. Teve o primeiro filho aos 13 --que morreu com poucas semanas de vida. Ficou viúva aos 21 anos, e casou-se com Garrincha em 1966. Teve oito filhos
Aprendeu a cantar com o pai, um operário que adorava tocar violão. Sua mãe era lavadeira de roupas. Todo o sucesso que teve em sua carreira, sempre foi intercalado com desgraças. Seu talento foi descoberto em um show de calouros por Ari Barroso, 1953, na Radio Tupi.
No começo da década de 60, numa fase de grande sucesso, Elza se apresentou na Copa do Mundo do Chile. Foi lá que se apaixonou por Garrincha, que já era casado. Elza viveu com o jogador por quase duas décadas. Garrincha era alcoólatra e entre idas e vindas o relacionamento foi marcado por agressões, ciúmes e muita violência.
Reconhecida em 1999 como Cantora do Milênio, Elza Gomes da Conceição deu voz à canções icônicas como "Mulher do Fim do Mundo", "Eu Bebo Sim" e "A Carne". Ela também é considerada uma das 100 maiores vozes da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil.
Na temporada 2020 do MasterChef Brasil, Elza Soares participou da caixa misteriosa dos famosos desafiando dois competidores com um tradicional prato brasileiro: bobó de camarão.
A cantora também foi homenageada na Marquês de Sapucaí em 2020, no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. Com o enredo "Elza Deusa Soares", o desfile retratou a era de ouro do rádio, nos anos 50, quando a menina da lata d’água na cabeça foi descoberta como uma estrela da música. A Mocidade resgatou uma das suas crias mais ilustres e encheu de alegria uma comunidade que esperou anos para revê-la.