Você já tinha ouvido falar na São Paulo Fashion Week das Favelas? Se não, então veja a força da moda e da costura nas periferias no segunda reportagem da série “Favela Rica”, do Jornal da Band (assista abaixo).
Marilene Leonor do Santos cresceu furando os dedos a criar roupas para suas bonecas na periferia de Belém. Sonhava ser costureira. Mas a pobreza, a gravidez precoce, a violência doméstica, a vida, enfim, a forçaram a mudar de planos.
“Eu trabalhava na limpeza quando cheguei aqui por conta que eu tinha só o ensino médio. E quando fui fazer entrevista a pessoa falou assim 'a única vaga que você vai achar vai ser só na limpeza’”, relata.
Há três anos ela aprendeu a costurar em um projeto social de uma favela de São Paulo. Em 2020, participou da criação de uma marca de roupas. No meio da pandemia, o projeto que a fez mudar de vida conquistou a atenção de um dos maiores estilistas brasileiros. Agora, ela e outras mulheres pretas, pobres e faveladas de diferentes partes do país se preparam para participar da São Paulo Fashion Week, o maior evento de moda do Brasil.
Eu não imaginava, não esperava, uma pessoa lá de Belém do Pará, chegar onde a gente chegou, participar da São Paulo Fashion Week, pra mim foi uma surpresa, uma surpresa, eu fico muito emocionada”, alegra-se a costureira.
Mari, como ela gosta de ser chamada, faz parte de um dos projetos mais ambiciosos do G10 das favelas, uma organização social que reúne as 10 maiores favelas do Brasil. Nasceu com o objetivo de atender mulheres que sofriam violência doméstica e se transformou num produtor em escala industrial de máscaras nessa pandemia.
“Ele começou com o objetivo de empoderar mulheres através da capacitação profissional e financeira, porque a gente acredita que não há empoderamento sem dinheiro na bolsa”, explica Suéli Feio, que é coordenadora do projeto Costurando Sonhos.
Nervosa, Suéli estava prestes a realizar o primeiro desfile da coleção da Eleva, uma marca de roupa criada pelas costureiras do projeto.
“Acho que o que mais emociona é ver pessoas que não tinham perspectiva, que não podiam se imaginar produzindo, criando uma coleção, isso não tem preço”, diz.
Na plateia, o estilista Jun Nakao acompanhava com cuidado o trabalho das costureiras da favela. Ele se encantou com o projeto e decidiu coordenar a criação de uma marca de roupas desenhadas com exclusividade por estilistas das maiores favelas do país.
“O que é fundamental em uma comunidade, em qualquer comunidade do Brasil, em qualquer favela, é renda. Só que renda só vai existir de forma natural, espontânea, quando houve conteúdo, senão vai ser eternamente uma ação de suprir necessidades”, crê o estilista.
Jun fez fama na São Paulo Fashion Week. Em um de seus desfiles mais icônicos fez as modelos simplesmente rasgarem as roupas de papel que ele e sua equipe demoraram mais de 700 horas para produzir. Agora, ele quer criar impacto semelhante com a moda das favelas.
“Para criar essa nova lógica de criar conteúdo para gerar renda e inverter o fluxo, que é sempre do centro para as bordas, eu idealizei o G10 Fashion Week, que é o Fashion Week das favelas. A ideia é formar e capacitar a geração de conteúdo criativo, não será apenas ensinar a costurar, só essa capacidade técnica, a ideia é gerar capacidade criativa e tornar a favela um novo referencial, romper esse paradigma”, justifica.
Marilene ainda não sabe bem como será isso de estar em um grande evento de moda. No desfile da marca criada por ela e as amigas, fez questão de estar tão arrumada quanto as modelos. Enquanto sonha com o dia de ver os holofotes e os flashs sobre as roupas que costurou, vai realizando outro sonho, o de ter uma casa.
“Os pilares da minha casa fui eu que bati concreto. Essas pilastras aqui eu que construí, carreguei concreto lá da rua e enchi aqui, o pedreiro só fez a armação e eu enchi sozinha...”. orgulha-se Mari.
Moda e costura mudam vidas nas periferias de São Paulo
Reprodução TV