Contando com a participação da SpaceX, a Polaris Dawn visa ser a primeira missão não governamental envolvendo uma caminhada no espaço, ou atividade extraveicular. Caso tenha êxito, será também o spacewalk a maior altitude já realizado, cerca de 700 quilômetros acima da Terra. Em comparação, a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) circunda o planeta a 400 quilômetros de altura.
Outra meta é ultrapassar o atual recorde de altitude de voo, de 1.373 quilômetros, estabelecido em 1966 pela missão Gemini 11 da Nasa.
Com início programado para esta segunda-feira (26/08) – salvo condições meteorológicas adversas ou problemas técnicos –, a missão com financiamento privado orbitará através dos cinturões de Van Allen. Há duas dessas regiões de alta carga radioativa, uma interna e uma externa, e os astronautas tendem a evitá-las. No entanto, para viajar até Marte será preciso sobreviver a tal travessia.
Os quatro astronautas da Polaris Dawn testarão uniformes espaciais, projetados pela companhia de Elon Musk para justamente protegê-los da radiação dos cinturões de Van Allen. A SpaceX também fornece a nave espacial, um foguete Falcon 9, além de uma cápsula Dragon para a tripulação.
A tripulação é formada pelo comandante Jared Isaacman, o piloto Scott Poteet, a especialista Sarah Gillis e a também médica Anna Menon. Primeira de um programa de três partes, a missão foi ideia de Isaacman, um empreendedor bilionário americano que fez fortuna com pagamentos digitais e defesa militar. Antes ele patrocinou e voou na primeira missão civil a orbitar a Terra, a Inspiration 4, da SpaceX.
Cinturões de Van Allen, a ameaça que protege
Descobertos pelo físico americano James van Allen em 1958, os cinturões que levam seu nome se compõem de partículas eletricamente carregadas, fixadas no espaço pela magnetosfera terrestre – esta, por sua vez, captura as partículas radioativas de alta energia, protegendo o planeta de tempestades solares e outras ameaças espaciais.
Os cinturões começam a 680 quilômetros da superfície da Terra, e estima-se que se estendam a até 40 mil quilômetros. O interno, centrado a 3 mil quilômetros de distância, é formado por raios cósmicos que interagem com a atmosfera terrestre e contém prótons (partículas de carga positiva); enquanto cinturão o externo retém as partículas de alta energia do Sol, contendo elétrons (partículas de carga negativa), e está centrado de 15 mil a 20 mil quilômetros.
Ao expor os tripulantes a níveis radioativos mais elevados do que os da ISS, a caminhada espacial é parte de um experimento científico sobre os efeitos dessas viagens sobre a biologia humana. A partir dos dados coletados, serão criados bancos de dados biológicos para pesquisa (biobanks).
Entre os altos riscos conhecidos das viagens espaciais, será estudado como elas afetam a visão e a estrutura cerebral. Outro objeto de pesquisa é a doença de descompressão (decompression sickness, DCS), que ocorre quando a mudança de pressão faz o nitrogênio do organismo borbulhar, causando embolia gasosa e danificando tecidos.
Primeira de três missões Isaacman-Musk
Todos as informações fornecidas pela Polaris Dawn serão integradas em missões espaciais futuras. Em 2025, por exemplo, a Nasa planeja enviar astronautas para além dos cinturões de Van Allen para aterrissarem na Lua e mais tarde seguirem para Marte.
Outra meta da Polaris Dawn é "prover dados valiosos para sistemas futuros de comunicação espacial, necessários a missões à Lua, Marte e mais além. Assim, a tripulação testará pela primeira vez a comunicação por raios laser da constelação de satélites Starlink, da SpaceX. Essa rede em expansão conta atualmente com 6 mil mini-satélites, com a meta de chegar a 34,4 mil, e foi utilizada no início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A primeira missão proposta por Isaacman à SpaceX está programada para durar cinco dias. A segunda visa "expandir as fronteiras de futuras missões de voo espacial humano, comunicações dentro do espaço e pesquisa científica". E a terceira será o voo tripulado inaugural da nave reutilizável Starship, da SpaceX.
Autor: Matthew Ward Agius