Um grupo de militares do Gabão anunciou na madrugada desta quarta-feira (30) a tomada do poder e a dissolução de todas as instituições democráticas do país, além da anulação das eleições presidenciais de sábado, que haviam reelegido para um terceiro mandado Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos.
O anúncio foi feito no Gabon 24, canal de televisão da presidência do Gabão, por um grupo de cerca 12 militares da gendarmerie e de outras forças. Eles justificaram a tomada de poder devido a um governo "irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos".
O militar que leu o discurso, alegando falar em nome de um "Comitê de Transição e Restauração Institucional", disse também que todas as fronteiras do país seriam fechadas "até nova ordem".
De acordo com a agência de notícias AFP, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas na capital, Libreville.
O Gabão fica localizado no oeste da África, vizinho da República do Congo, da Guiné Equatorial e de Camarões. O país tem uma população de cerca de 2 milhões de habitantes e se tornou independe da França em 1960. Desde 1967, a família Bongo governa o país, primeiro foi Omar Bongo que se manteve na presidência até sua morte em 2009. Em seguida, Ali Bongo Omdimba, seu filho, assumiu o poder.
A tentativa de golpe no Gabão é o mais recente episódio do tipo na África em uma ex-colônia francesa. No final de julho, tropas amotinadas no Níger derrubaram o governo democraticamente eleito.
Tensão política
Horas antes do anúncio da tomada do poder, o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) havia divulgado, na televisão estatal, sem anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais, que davam a vitória para Ali Bongo Ondimba, com 64,27% dos votos, contra 30,77% do principal rival, Albert Ondo Ossa.
O pleito foi altamente questionado pela oposição, que alega fraude. A família de Bongo Ondimba está no poder há 55 anos. As preocupações com a transparência da votação aumentaram devido à ausência de observadores internacionais e à suspensão de transmissões estrangeiras.
No dia da votação, duas horas antes do fechamento das urnas, os principais partidos da oposição gabonesa denunciaram uma fraude eleitoral e passaram a exigir que a vitória de Ondo Ossa fosse reconhecida.
Em meio à tensão, Bongo Ondimba cortou as conexões de internet no sábado e impôs toque de recolher obrigatório. Horas após o anúncio do golpe, as conexões de internet foram restabelecidas.
UE fala em aumento da instabilidade
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que a eventual confirmação do golpe de Estado no Gabão "aumentará a instabilidade em toda a região" central da África.
"A notícia é confusa. Recebi a notícia pela manhã. Se isto se confirmar, é mais um golpe militar que aumenta a instabilidade em toda a região", declarou Borrell, ao chegar nesta quarta-feira a uma reunião de ministros da Defesa da UE, em Toledo, na Espanha.
Mineradora suspende atividades
Após o anúncio do golpe, o grupo minerador francês Eramet suspendeu suas atividades no Gabão, a fim de "proteger a segurança dos funcionários e a integridade das instalações". O grupo emprega cerca de 8 mil trabalhadores no país, a maioria deles gaboneses.
O governo de França disse que está acompanhando com "a maior atenção" a situação no Gabão. A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, dirigindo-se aos embaixadores franceses reunidos em Paris, enumerou as várias crises com que a diplomacia francesa foi confrontada recentemente, acrescentando a situação em Libreville.
Em 2019, um grupo de militares tomou a rádio e televisão estatal do Gabão para anunciar um golpe de Estado. A tentativa de golpe durou menos de uma semana, depois que as forças militares invadiram a estação, resultando em duas mortes e oito conspiradores presos.
le/cn (Lusa, AFP, Reuters)