Milhares de georgianos foram às ruas na noite desta segunda-feira (28/10) para protestar contra a vitória do partido governista nas eleições legislativas ocorridas neste fim de semana, consideradas "fraudadas" pela oposição pró-Ocidente e por observadores internacionais. Cerca de 20 mil pessoas se reuniram na frente do Parlamento, na capital Tbilisi.
O depoimento dos principais observadores que acompanharam a votação reforçou o coro dos manifestantes. O grupo afirmou, em entrevista coletiva nesta segunda, ter encontrado evidências de "fraude complexa" e "em larga escala" que alterou o resultado das eleições a favor do partido governista, o Sonho Georgiano. Eles pediram uma investigação rápida e anulação de pelo menos 15% dos votos, alegando terem documentado fraudes em dezenas de seções eleitorais.
A comissão eleitoral do país anunciou no domingo que o Sonho Georgiano havia conquistado 54% dos votos, um resultado que garantiu sua permanência no poder por mais quatro anos. A aliança de quatro partidos pró-Ocidente conquistou 37,6% dos votos.
O partido conservador e nacionalista foi fundado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili – que fez grande parte de sua fortuna com negócios na Rússia e prometeu banir todos os partidos de oposição, além de ter adotado leis semelhantes às usadas pelo Kremlin para reprimir críticos e direitos LGBTQ+.
A presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, que é da oposição (e tem uma função cerimonial, uma vez que o chefe de governo é o primeiro-ministro, escolhido pelos parlamentares), afirma que a votação foi manipulada com métodos "sofisticados" ligados à Rússia.
Zourabichvili disse à multidão em frente ao Parlamento que "é preciso traçar um quadro completo de como ocorreu esse roubo maciço e sistemático de votos" e pediu a realização de uma nova votação. Para ela, houve uma "operação sem precedentes e pré-planejada" – sem apresentar provas.
Visita de Viktor Orbán
Entre os que reconhecem a legitimidade das eleições na Geórgia está o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. O presidente rotativo da União Europeia – e próximo ao Kremlin – chegou a Tbilisi na noite desta segunda, em meio aos protestos, para uma visita de dois dias.
Orbán, que manteve laços com Moscou apesar da invasão à Ucrânia em 2022, tuitou uma mensagem de apoio ao governo georgiano em sua chegada.
"A Geórgia é um estado conservador, cristão e pró-Europa. Em vez de sermões inúteis, eles precisam de nosso apoio em seu caminho europeu", escreveu no X.
O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, declarou que o líder húngaro, nessa visita, "não representa" o bloco.
Reações internacionais
Ministros de 13 países da União Europeia criticaram a "visita prematura" de Orbán e condenaram a "violação das normas internacionais" nas eleições legislativas na Geórgia, com base na conclusão dos observadores.
"Os observadores internacionais relataram violações durante a campanha eleitoral, bem como no dia da eleição", disseram os ministros das relações exteriores e europeias de países como Alemanha, França, Polônia e Holanda, em declaração conjunta divulgada nesta segunda.
"Condenamos todas as violações das normas internacionais para eleições livres e justas."
Os ministros afirmaram que compartilham as preocupações dos observadores e "exigem uma investigação imparcial das reclamações e a remediação das violações constatadas".
A Geórgia teve uma onda de manifestações em maio contra uma lei sobre "soberania nacional", que, segundo os críticos, se assemelhava à legislação russa usada para silenciar os críticos do Kremlin.
Os Estados Unidos impuseram sanções às autoridades georgianas após os protestos, enquanto Bruxelas suspendeu o processo de adesão de Tbilisi à União Europeia.
sf (AFP, Reuters, AP)