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‘Menos gritos e choros’: retirar telas ajuda no comportamento das crianças?

Apesar de ser quase impossível manter os pequenos longe da tecnologia, a criatividade dos pais pode mudar a forma de interação dos filhos com o mundo

Por Luiza Lemos

‘Menos gritos e choros’: retirar telas ajuda no comportamento das crianças?
Reprodução/Freepik

Para muitos pais, as telas são aliadas na hora de cuidar dos filhos, já que, além de entreter, elas ajudam a manter a rotina em ordem, podendo dar a eles maior liberdade para fazer outras tarefas. Mas expor os pequenos a muitas horas de conteúdos em vídeo por televisões ou celulares pode ser danoso. 

Além dos conteúdos de alto estímulo, que causam estresse, ansiedade e outros efeitos negativos ao psicológico, as telas podem causar problemas comportamentais nas crianças. Segundo a psicóloga especialista em tecnologia Andrea Jotta, o excesso de exposição gera queixas frequentes dos pais, que pouco suspeitam da tecnologia. 

“Eles queixam que a criança está muito brava e que, se tira o celular, fica ainda pior, porque parece que é algo vital. Isso é vício, e a criança perde noção da realidade, afeta até a sensibilidade com conteúdos, com a vida”, conta. 

Ao notar um comportamento mais agressivo dos filhos, a influenciadora e modelo Patrícia Beck decidiu mudar a rotina. Ela utilizava as telas como apoio, já que cuidar de dois bebês ao mesmo tempo, era um desafio — ainda mais estando na Patagônia, longe de casa. 

“Já cheguei a colocar desenhos às 5h30 da manhã para poder descansar, mas com o tempo comecei a notar que eles estavam mais agressivos e queriam apenas assistir desenhos. Quando percebi o excesso, comecei a pesquisar e senti a necessidade de mudar”, afirma. 

Ao diminuir o uso das telas em casa, no primeiro momento Patrícia se deparou com algumas “birras” dos filhos, mas logo viu os benefícios da decisão. “Não foi fácil, mas a mudança de comportamento e humor compensou. As crianças ficaram mais criativas, houve menos gritos e choros. Elas se mostraram mais à vontade de participar nas conversas, sendo que antes não reagiam a nada, nem ao que comiam ou aos remédios que tomavam”, conta. 

Atualmente, os filhos de Patrícia consomem conteúdos educativos e animações de baixo estímulo. O uso da tela, segundo a influenciadora, respeita o tempo do conteúdo escolhido pelos filhos, seja um filme ou um episódio de uma série. 

Para a psicóloga Andrea Jotta, os pais podem pensar em apenas regular a exposição às telas, já que é quase impossível que a criança não olhe para uma. “Se não der o celular, tem a televisão, tem as telas dos familiares, amigos, a sociedade usa muito a tecnologia, então é preciso atraí-la para fora dela”, diz.  

Andrea indica quais são as idades que podem usar mais ou menos tecnologia. “Até os oito anos as crianças não precisam usar celular, não tem necessidade, é possível entreter de outras maneiras. A partir do momento que ela sai sozinha da escola ou precisa de mais autonomia, aí você pode liberar, aos poucos.”

Ser criativo é a chave ao diminuir o uso de telas pelas crianças

Apenas retirar as telas e esperar a adaptação pode ser maléfico para a criança, que trata a tecnologia como essencial para se divertir ou até regular o próprio humor. Por isso, o mais indicado por especialistas é ser criativo. 

“É preciso aumentar o repertório de experiências fora da tecnologia, porque as dentro já são um atrativo, então é preciso mostrar a necessidade de estar offline, colocá-las na natureza e adaptá-las a ficar sem as telas”, pontua Andrea Jotta. 

Patrícia Beck, que hoje compartilha nas redes sociais o que fez para conseguir gerenciar o uso de telas, diz que ofereceu opções para ter uma adaptação mais rápida dos filhos em casa. “Tive que adaptar a casa, temos lápis em alguns cômodos, canetinhas de vidro, muitos livros, lego, jogos de mesa e até balanço. Vou escutando eles e seguindo seus interesses.”

No caso de Patrícia, os pequenos ainda têm a natureza da Patagônia para explorar. “O Ben, que tem seis anos, passa horas explorando o jardim; já a Cora, que tem três, está interessada em flores e quer pegar todas que encontra”, diz.

Seguir os interesses das crianças pode ajudar ao retirar as telas

Ao pesquisar como retirar as telas dos pequenos, Patrícia entendeu que ouvir os filhos pode ajudar na hora de pensar nas atividades. “Vou escutando e seguindo os interesses, observo muito o que eles gostam e tudo acaba virando uma brincadeira”, diz. 

Ela recomenda aos pais que entendam inicialmente o que os pequenos gostam. “Não se preocupe, deixe as crianças aproveitarem os momentos fora das telas. Se gostam de insetos, organize uma caça aos insetos no quintal ou crie um projeto de arte sobre o tema. Se preferem flores, plantem um jardim juntos.” 

Patrícia também indica substituir o tempo de tela por outras formas de entretenimento. “Momentos de leitura em família, musicais também. Ler livros juntos e cantar ou ouvir músicas são atividades envolventes e educativas.”

E quanto mais atividades offline, melhor. Assim, as crianças podem até esquecer das telas. “Ter uma rotina com tempo para diferentes atividades ajuda a manter as crianças ocupadas e menos propensas a pedir pelo celular ou televisão”, conclui.

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