Os mediadores internacionais trabalharam nos últimos dias para tentar convencer as lideranças de Israel e do grupo extremista Hamas a assinarem a proposta para um novo cessar-fogo no conflito na Faixa de Gaza, apresentada na última sexta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
O líder americano apresentou o plano como sendo incialmente uma ideia de Israel, apesar de o governo israelense ter criticado alguns pontos do acordo. A Casa Branca, porém, se mantém confiante que Israel aceitará a proposta após a assinatura do Hamas.
Logo após o anúncio de Biden, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu que seu país deve continuar sua ofensiva em Gaza até atingir todos os seus objetivos, incluindo a destruição do Hamas.
"As condições de Israel para encerrar a guerra não mudaram: a destruição das capacidades militares e de governo do Hamas, a libertação de todos os reféns e a garantia de que Gaza não represente mais uma ameaça a Israel", disse o líder israelense em comunicado divulgado na sexta-feira.
As negociações vem sendo realizadas há meses com a intermediação dos governos dos EUA, Catar e Egito. Os esforços, porém, se provaram infrutíferos desde a curta trégua de novembro de 2023, quando o Hamas libertou alguns reféns israelenses em troca da soltura de um número de prisioneiros palestinos.
O que diz a proposta
Em seu primeiro discurso delineando um possível fim para o conflito, o presidente dos EUA disse que a oferta em três estágios de Israel começaria com uma fase de seis semanas em que as forças israelenses se retirariam de todas as áreas povoadas de Gaza.
O plano também incluiria a libertação de todos reféns, em troca da soltura de centenas de prisioneiros palestinos. Israel e o Hamas negociariam então, durante essas seis semanas, um cessar-fogo duradouro – mas a trégua continuaria enquanto as conversações estivessem em andamento. A proposta inclui ainda o início de um grande esforço para reconstrução de Gaza.
Em um comunicado na noite de sexta-feira, o Hamas disse que "considerava positivamente" o discurso de Biden sobre "um cessar-fogo permanente, a retirada das forças israelenses de Gaza, a reconstrução e a troca de prisioneiros".
O grupo militante vem insistindo há dias que está disposto a chegar a um acordo para libertar os reféns em troca de prisioneiros palestinos nas prisões israelenses, desde que Israel termine a guerra em Gaza, onde mais de 36.400 pessoas já foram mortas, de acordo com fontes médicas ligadas à administração da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas.
Em declaração conjunta divulgada neste fim de semana, os governos americano, catari e egípcio fizeram um apelo para que os dois lados aceitem a proposta.
Ultradireita ameaça "dissolver" governo de Israel
O assessor de Netanyahu Ophir Falk afirmou em entrevista publicada neste domingo (02/05) no jornal britânico Sunday Times que, apesar de "vários detalhes que precisam ser trabalhados", o governo israelense aceitaria a proposta. "Não é um bom acordo, mas nós queremos muito os reféns libertados, todos eles."
O acordo, no entanto, arrisca desestabilizar a coalizão de governo de Netanyahu, após dois de seus ministros ameaçarem deixar o gabinete se a proposta for aprovada.
O ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, chegou a afirmar que seu partido "dissolverá o governo" se o pacto for assinado. O também ultradireitista Belazel Smotrich, titular do Ministério das Finanças, se opôs à proposta e defendeu a continuação da guerra até a destruição total do Hamas.
Contudo, o líder da oposição Yair Lapid e o membro do gabinete de guerra Benny Gantz expressaram apoio à proposta e prometeram ajudar o governo a aprová-la no Knesset (Parlamento israelense) se os aliados de Netanyahu se recusarem a fazê-lo.
rc (AFP, AP, dpa, Reuters)