O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, rebateu nesta terça-feira (20) novas críticas feitas por seu homólogo israelense, Israel Katz, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em meio à crise desencadeada por comentários do líder brasileiro às ações militares de Israel na Faixa de Gaza.
O imbróglio gerado pelos comentários de Lula levou os dois países a adotarem gestos diplomáticos de desagrado e a subirem o tom nas declarações. Katz, que no dia anterior declarou o brasileiro persona non grata (pessoa indesejada, em latim) em seu país, acusou Lula de "cuspir no rosto dos judeus brasileiros" ao não se desculpar por seus comentários.
No fim de semana, Lula afirmou durante a 37ª Cúpula da União Africana na Etiópia que "o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus".
A referência ao Holocausto – o massacre de judeus na Segunda Guerra Mundial – levou o ministro israelense a convocar o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, para dar explicações.
Após o encontro realizado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto em Jerusalém, Katz anunciou que Lula não será mais bem-vindo em Israel até se retratar pelos comentários. O gesto veio de maneira surpreendente durante uma coletiva conjunta de imprensa.
"Eu trouxe o senhor a um lugar que testemunha, mais do que qualquer outra coisa, o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus", disse Katz em hebraico a Meyer, em frente das câmeras. A atitude gerou constrangimentos ao embaixador e irritou o governo brasileiro.
No mesmo dia, Lula decidiu chamar Meyer de volta ao país – atitude que expressa a contrariedade de uma nação para com as ações de um governo estrangeiro. Ao mesmo tempo, Vieira repetiu o gesto de seu homólogo israelense e convocou o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações.
"Vergonhosa página da diplomacia de Israel"
Nesta terça-feira, o chanceler israelense deu um recado a Lula através de uma postagem na rede social X, afirmando que "milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler?"
"Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e uma cusparada no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender história e pedir desculpas. Até então, continuará sendo persona non grata em Israel", escreveu.
Mauro Vieira classificou como "inaceitáveis" e "mentirosas" as manifestações de Katz.
"Uma Chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante" afirmou Vieira na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, local das reuniões do G20.
"Uma Chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a linguagem chula e irresponsável."
"O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim", disparou.
Israel tenta "tirar proveito" do caso
O chanceler disse que Katz "distorce posições do Brasil para tentar tirar proveito em política doméstica", se referindo ao que enxerga como um crescente isolamento de Israel no cenário internacional, em razão das "deliberações em andamento na Corte Internacional de Justiça".
"É este isolamento que o titular da Chancelaria israelense tenta esconder. Não entraremos nesse jogo. E não deixaremos de lutar pela proteção das vidas inocentes em risco", sublinhou.
Vieira afirmou que o Brasil responderá com firmeza, mas de maneira diplomática, a quaisquer ataques.
"Estou seguro de que a atitude do governo [do premiê Benjamin] Netanyahu e sua antidiplomacia não refletem o sentimento da sua população", disse o chanceler. "Nossa amizade com o povo israelense remonta à formação daquele Estado, e sobreviverá aos ataques do titular da chancelaria de Netanyahu".
rc (ots)