O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), prestou depoimento na sede da Polícia Federal, em Brasília, por quase nove horas. A oitiva começou na tarde de segunda-feira (11) e só terminou na madrugada desta terça-feira (12).
Segundo fontes da Polícia Federal, Mauro Cid foi questionado sobre a gravação da reunião ministerial de julho de 2022, encontrada em um computador dele, e tratada como “reunião do golpe”. O ex-ajudante de Bolsonaro não apresentou o vídeo espontaneamente, o que deveria ter feito, já que fechou acordo de cooperação.
O ex-ajudante de ordens disse que não se lembrava que tinha o material e nem o teor da reunião, por isso não entregou à Polícia Federal.
A maioria das perguntas respondidas pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro já havia sido feita em outros depoimentos. A PF queria ver se Cid mudava a versão ou agregava novas informações às investigações.
Mauro Cid reafirmou que houve o encontro de Bolsonaro com chefes das forças para tratar da minuta golpista. Mas declarou que não podia confirmar o teor porque não tinha ficado na mesma sala no momento da conversa; Freire Gomes que teria relatado a ele, posteriormente, a proposta golpista.
O tenente-coronel relatou que Freire Gomes teria negado a proposta golpista porque foi o que o general havia dito a ele. Cid foi questionado sobre mensagens que enviou ao ex-comandante do Exército, pressionando para tomar uma decisão. Ele afirmou que apenas repassava o que ouvia no círculo militar.
Cid também contou que Filipe Martins tratou das minutas diretamente com ele, em versão digital e física. E que sabia da edição que Bolsonaro pediu (tirando os nomes de Pacheco e Gilmar Mendes da lista dos que seriam presos).
Acordo de delação
Com a delação fechada com a PF, o militar tem que falar a verdade. Se for comprovado que ele escondeu provas, Cid pode perder o benefício concedido pela Justiça, que permitiu liberdade provisória após quatro meses preso.
Os investigadores esperam também, com o novo depoimento, ligar pontas que ficaram soltas, principalmente depois que os ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, confirmaram uma tentativa de golpe.
Os dois reforçaram o que Cid já havia delatado: houve reuniões com o então presidente Bolsonaro, que trataram de rascunhos de documentos que tinham como intenção reverter o resultado das eleições de 2022.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro falou sobre o caso das joias recebidas por Bolsonaro. Mauro Cid reforçou que o ex-presidente acreditava que os pertences eram dele e não da união.
O general Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, também participou da venda para lojas especializadas, em Miami, nos Estados Unidos. Nos próximos dias, uma equipe da PF vai voltar aos EUA para aprofundar as apurações sobre o caso.
Em abril, o Exército vai decidir sobre promoções de militares, já há uma convicção na força que Cid não será promovido a coronel, os critérios avaliados são merecimento e antiguidade.