Os candidatos à presidência da Argentina, o governista Sergio Massa e o ultradireitista Javier Milei, trocaram duras acusações neste domingo (12), durante o último debate antes do segundo turno de 19 de novembro.
A relação com o Brasil foi um dos temas que gerou bate-boca. Ao longo da campanha, Milei disse que não manterá relações políticas com líderes "comunistas", incluindo entre estes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual não pretende se reunir.
Massa argumentou que romper relações com o Brasil, assim como com a China, faria a Argentina perder 2 milhões de empregos. O Brasil é o principal parceiro político e comercial da Argentina.
Milei contra-argumentou que as relações políticas e pessoais dele não interferem nos negócios do setor privado, e, se os exportadores perderem mercados, podem substitui-los por outros.
"Você pertence a um governo no qual [o presidente] Alberto Fernández não falava com [o ex-presidente Jair] Bolsonaro. Qual é o problema se eu não falar com o Lula? As relações comerciais do setor privado são do setor privado e o Estado não deve se meter", disse Milei.
O BandNews TV transmitiu ao vivo o debate entre Sergio Massa e Javier Milei. Assista:
Analistas: Massa venceu duelo
Analistas avaliaram que Massa conseguiu se impor sobre Milei no debate e que este não soube aproveitar a grave crise econômica do país para criticar o oponente.
Na primeira parte, o assunto era economia, ponto forte de Milei, um economista, e ao mesmo tempo ponto fraco de Massa, que é o ministro da Economia de um país com índices de 140% de inflação e 42% de pobreza.
No entanto, foi Massa que fez uma série de perguntas sobre as contradições do oponente, levando Milei a entrar no jogo e a gastar todo o tempo nas respostas, sem chegar a acusar Massa pela inflação galopante.
Massa confrontou Milei sobre declarações em entrevistas nas quais o candidato disse que eliminaria subsídios às tarifas públicas, acabaria com a gratuidade na educação e na saúde, privatizaria o sistema de aposentadorias, fecharia o Banco Central, adotaria o dólar como moeda e tornaria privados rios e mares.
Milei negou a privatização de rios e sobre o aumento de tarifas, disse que, primeiramente, iria recuperar a economia. Quanto a cobrar pelo ensino universitário, respondeu que, "no curto prazo, não".
A certa altura do debate, Massa perguntou retoricamente ao seu adversário se "ele mentiu durante toda a campanha ou está mentindo esta noite" e insistiu na pergunta: "Você vai dolarizar a economia ou não?"
Ao que Milei respondeu: "Sim, vamos dolarizar a economia, vamos fechar o Banco Central e acabar com o câncer da inflação".
"Na primeira metade do debate, Milei claramente foi dominado. Massa ditava os assuntos e determinava o ritmo do rival. A segunda metade foi mais equilibrada, mas a sensação geral é de que Massa colocou Milei contra a parede, tentou mostrar que Milei não está preparado para ser presidente e evitou ser criticado pela péssima gestão de uma economia. Milei foi inexperiente e até inocente", resumiu o analista político Alejandro Catterberg, diretor da consultora Poliarquia, uma referência no país.
Eleitorado dividido
Milei começou a elevar a voz e a chamar Massa de mentiroso. Provocador, Massa aconselhou o oponente a manter acalma porque o debate estava apenas no começo. "Não te agredi. Somente expresso com paixão a indignação que o teu governo gera", disse Milei.
Esse foi, aliás, outro claro objetivo de Massa: desestabilizar emocionalmente Milei, famoso por reações intempestivas de fúria que chocam boa parte do eleitorado. Massa trouxe à luz a desconhecida informação de que Milei, enquanto jovem estudante, foi reprovado para renovar um estágio no Banco Central, dando a entender que o motivo da reprovação foi o exame psicotécnico.
"Os argentinos têm de eleger quem tem a sobriedade, o equilíbrio mental e o contato com a realidade para poder conduzir a Argentina", advertiu Massa.
Milei tinha ampla munição para gastar contra Massa, mas não a usou. Não apenas poderia criticar a má administração da economia, como ainda mencionar os recentes escândalos de corrupção e de espionagem ilegal envolvendo aliados de Massa.
A única vez em que Milei acusou Massa de fazer negócios com empresários amigos, o ministro desafiou o oponente a fazer uma denúncia na Justiça, e Milei calou-se. Massa convidou Milei a "ir à Justiça juntos nesta segunda-feira" caso tivesse alguma denúncia contra ele.
Pesquisas mostram o eleitorado dividido entre os dois candidatos, com leve vantagem para Milei. Nesta última semana de campanha, a legislação proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais.
"Este foi o último evento relevante antes da eleição do próximo domingo. Na média geral, Massa claramente foi dominante, mas não sei se o suficiente para alterar a dinâmica do processo eleitoral. De um lado, vimos um político muito profissional e que conhece as ferramentas do poder. Do outro, um político sem experiência e que desconhece as ferramentas. Mas os dois concorrem de igual para igual numa paridade de intenção de votos", concluiu Catterberg.
as (Lusa, OTS)