Da mais jovem primeira-dama ao exílio por 15 anos na ditadura: quem é a viúva de Jango?

Justiça determinou que Maria Thereza Goulart deve receber R$ 500 mil em razão da perseguição pelo Estado brasileiro durante o regime militar

Da redação

Maria Thereza Goulart em comício ao lado de Jango
Reprodução/Arquivo Nacional

Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, deposto no golpe militar de 1964, receberá uma indenização de R$ 500 mil por danos morais da União. A Justiça reconheceu que a primeira-dama, hoje com 88 anos, foi perseguida e precisou se exilar com os filhos após o marido ser retirado do cargo em 1964. 

Para a 4ª Vara Federal de Porto Alegre, os atos do regime militar causaram "danos psíquicos que atingiram não apenas o ex-presidente destituído, mas também o seu grupo familiar, incluindo sua esposa, a autora desta ação, iniciando com a fuga do território nacional e prosseguindo com constante monitoramento, controle e vigilância ostensivos por parte do Estado Brasileiro". 

Para o desembargador Cândido Alfredo Silva Leal Junior, Maria Thereza sofreu "como mulher, sofreu como mãe, sendo exposta na frente dos filhos. Sofreu como esposa, porque estava sendo presa e conduzida porque era esposa de um presidente da República. Ela foi tornada, como mulher, quase uma 'coisa'".

De volta a Rio Grande do Sul, estado onde nasceu, agora Maria Thereza Goulart receberá uma compensação pela perseguição e exílio que passou durante a ditadura militar. À época, em 1964, Maria Thereza deixou a Granja do Torto, uma das residências oficiais, apenas com uma mala simples, para se exilar no Uruguai até 1973 e depois na Argentina com os dois filhos ainda crianças.

Conheça Maria Thereza Goulart, viúva de Jango

Jango e Maria Thereza Goulart | Reprodução/Wikimmedia Commons

Considerada a primeira-dama da presidência da República mais jovem da história, Maria Thereza Goulart é uma das figuras mais emblemáticas do governo e vida de Jango. Filha de imigrantes italianos e nascida em São Borja, no Rio Grande do Sul, Maria Thereza casou com o vizinho João Goulart, homem 18 anos mais velho. 

O casal teve dois filhos: João Vicente Goulart e Denise Goulart. Segundo a biografia "Uma Mulher Vestida de Silêncio", que conta a história de Maria Thereza, escrita por Wagner William, a primeira-dama acompanhou a carreira política do marido. Chegando a ser segunda-dama com 19 anos e primeira-dama com 26, quando Jânio Quadros renunciou ao poder. 

Ela chegou a ser eleita a mais bela primeira-dama do mundo e chegou a ser alvo das atenções de chefes de Estado. Para o biógrafo, ela resume a história dela como "cheia de surpresas". "Tudo o que aconteceu comigo foi de repente", disse, à época. 

Apesar de ter o conhecido papel das primeiras-damas, de cuidado e boa esposa, Maria Thereza marcou a história ao acompanhar o marido no comício da Central do Brasil, antes do golpe militar de 1964. Com a ação, ela desafiou o tradicionalismo da época e se colocou nos holofotes políticos nacionais, diante de 200 mil pessoas. 

Com o golpe militar, Maria Thereza fugiu com a família para o Uruguai, deixando roupas, quadros, animais de estimação, joias, sapatos e bolsas. Ela não sabe onde os itens pessoais foram parar após a fuga. Anos depois, a família foi para a Argentina, país onde o marido, Jango, morreu em 1976. Após 15 anos de exílio, ela e a família voltaram ao Brasil em 1980. 

Maria Thereza chegou a ser presa algumas vezes, como quando foi visitar a família no Rio Grande do Sul. Para a Associação Brasileira de Anistiados Políticos, ela afirmou que chegou a ser humilhada e obrigada a retirar as roupas quando ficou presa em um quartel por dois dias e meio. 

Apenas em 2008 ela e João Goulart receberam anistia política, após processar a União, recebendo uma pensão mensal do Estado. 

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