Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, fez duras críticas nesta quinta-feira (20) ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), especialmente a respeito da condução do combate à pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Em entrevista à BandNews TV, Mandetta afirmou que Bolsonaro deixou de lado critérios técnicos contra a Covid-19 e optou por um “kit ilusão”, em referência à defesa do uso de medicamentos sem eficiência comprovada contra a doença, como a hidroxicloroquina.
“O presidente foi muito desleal, foi muito medroso. Não enfrentou a doença de frente com a ciência. Todos os protocolos eram discutidos com a Organização Mundial da Saúde, com os Estados Unidos, com a Alemanha, com a Inglaterra”, disse.
“Ele criou essa máxima de que o brasileiro vive no esgoto, tem que ser estudado, que é só uma gripezinha. E quis um kit ilusão, o kit cloroquina, para divertir um pouco as pessoas pensando que era um dilema entre economia e saúde, o que levou a esse desastre na condução da pandemia”, acrescentou.
Mandetta afirmou ainda que, entre março e abril de 2020, elaborou medidas “com todas as evidências científicas” para trabalhar contra o Sars-Cov-2 no País até 31 de dezembro. Entre elas, criticando o apoio ao chamado isolamento vertical e o racha do governo federal com governadores e prefeitos.
O cálculo previa a possibilidade de até 180 mil mortes até o fim do ano, mas o trabalho seria feito para evitar que o país chegasse a 100 mil óbitos. Segundo o ex-ministro, as propostas foram entregues à CPI da Pandemia no Senado.
“Ele tinha que dar o exemplo e parar de sabotar todo e qualquer esforço de lavar as mãos, de não aglomerar, parar de juntar gente na frente do Palácio (do Planalto), parar de estimular manifestação de rua. Infelizmente, ele não queria. Ele achava que aquilo era diversão, deixou o pais à deriva”, criticou Mandetta.
Titular do Ministério da Saúde entre janeiro de 2019 e abril de 2020, o médico afirmou ainda que Bolsonaro preferiu se cercar de uma base de apoiadores do que tomar medidas. Para ele, a conscientização só ocorreu graças ao apoio da imprensa.
“As pessoas conseguiram construir suas linhas de defesa dentro de suas casas através da imprensa. Porque, por mais que eu alertasse, ele não queria fazer sequer uma campanha de esclarecimento para as pessoas. Eu cheguei a levar por escrito ao presidente da República os erros que ele estava cometendo e as consequências que nós teríamos. Ele, infelizmente, resolve gastar mais tempo naquele quadradinho de internet em que ele passa de manhã e olhando quantos likes ele tem.”
‘Estelionato eleitoral’
Em tom crítico, Mandetta comparou as promessas de campanha de Bolsonaro com as ações depois de eleito presidente da República. Segundo o ex-ministro, Bolsonaro não cumpriu com nada do que prometeu, repetindo as ações que criticava.
“O problema é que, quando chega a vida real e os problemas a serem enfrentados, quando chega o coronavírus, ele correu da luta. Da corrupção, a mesma coisa”, disse.
A crítica incluiu a mais recente postura do presidente, que saiu em defesa do chamado Centrão na manhã desta quinta-feira. Ao se aproximar do Progressistas, que deve ter Ciro Nogueira à frente do Ministério da Casa Civil, lembrou a passagem dele mesmo por partidos como PP, PTB e PFL (hoje DEM). “Eu sou do Centrão”, disse, em entrevista à rádio Banda B, de Curitiba.
“Isso foi um estelionato eleitoral. Eu votei nele, aceitei participar como ministro técnico acreditando que poderia ser um caminho de reconstrução nacional. É um desastre nacional total”, analisou.
“Vão ficar só os apoiadores mais radicais que veem nisso algum tipo de explicação. Não tem explicação. Inclusive, deveria se perguntar ao General Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República) o que mudou na musiquinha que ele cantava em público quando ele se referia ao Centrão”, acrescentou, em referência ao verso “se gritar ‘pega Centrão’” (paródia do samba “Se gritar ‘pega ladrão’”, composto por Ary do Cavaco) cantado pelo militar em uma convenção do PSL em 2018.