Pouco mais de cinco anos após a morte da pequena Ágatha Félix, aos oito anos, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o policial acusado de fazer o disparo fatal contra a menina foi absolvido pelo júri popular. A decisão indignou a família de Ágatha e, principalmente, a mãe dela, Vanessa Francisco, que esteve com a menina nos últimos momentos de vida.
Vanessa afirma que mesmo com o primeiro resultado, o propósito de vida dela é ir atrás de justiça pela filha. "Sempre foi e não deixará de ser", disse, em entrevista exclusiva para a Band. Para ela, a decisão do júri permite que novas mortes como a de Ágatha aconteçam.
Mais uma vez, mais uma mãe, tem a notícia de que 'matei sim seu filho e vou voltar para a sociedade e matar novamente'. É essa a resposta quando absolvem quem mata - diz Vanessa Francisco
A mãe afirma que agora a promotoria e a defesa da família devem recorrer da decisão. "Foi um júri que não foi unânime, 4 x 3, então vamos recorrer", pontua. Sobre a demora de uma resolução para o caso, Vanessa cita que aguardará a justiça. "Querem cansar a gente com esse resultado, mas eu estou aqui de pé até hoje, sei que mesmo que se alongue, enquanto houver recursos, vamos lutar para esse recurso", afirma.
Em meio ao processo e o luto, Vanessa diz ter apenas a rede de apoio e a falta do Estado. "O apoio primeiramente veio de Deus, abaixo vem minha família, meu marido, amigos, pessoas próximas, tive apoio psicológico antes da pandemia. Do Estado, não tive nada, apoio algum", diz.
'Cinco anos de muita saudade, choros e dificuldades'
Nos últimos cinco anos Vanessa Francisco tenta se adaptar a uma nova realidade sem a filha Ágatha. A mãe afirma que o período foi marcado por "saudade, choros, a ausência e muita dificuldade para poder se reencaixar na sociedade".
"Acho que nunca vou me encaixar na sociedade, ainda sinto muito. Acho que não vou ter como deixar de sentir a ausência dela, a falta que faz, mas Deus tem preenchido meu coração, enviado paz nesses últimos anos e tenho conseguido sobreviver, com muita saudade" - conta Vanessa Francisco
Vanessa afirma que um dos sonhos dela era poder voltar para 2019, antes da morte da filha. "Se eu pudesse voltar atrás, queria fechar meus olhos, acordar e nada disso ter acontecido, é meu desejo. Mas eu vivo no mundo real, não no mundo mágico, isso não vai acontecer", lamenta.
Relembre o caso
Ágatha Félix voltava para casa com a mãe, Vanessa, em uma kombi quando foi atingida por um tiro de fuzil nas costas na Comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, em 20 de setembro de 2019.
Conforme a investigação, homens que transportavam uma esquadria de alumínio teriam sido confundidos com bandidos e se tornaram alvo dos tiros de Rodrigo e de outro policial militar. Uma das balas ricocheteou num poste e entrou pela traseira da Kombi, atingindo Ágatha.
Na época, a perícia da Polícia Civil já havia descartado a possibilidade de confronto. As testemunhas afirmaram que só ouviram dois disparos e que partiram do PM. A defesa do policial lamenta todo o crime, mas afirma que o local é violento e não há provas de que o tiro partiu do Rodrigo.
O policial militar Rodrigo José de Matos Soares foi acusado de ter feito o disparo que atingiu e matou a menina Ágatha. Ele foi absolvido em júri popular no dia 9 de outubro de 2024. A decisão do julgamento, que durou mais de 13 horas, foi divulgada na madrugada.
Ao todo, foram ouvidas dez testemunhas, incluindo Vanessa Francisco, mãe de Ágatha, dois peritos criminais e o réu, que respondia por homicídio culposo duplamente qualificado.