Vitória de Trump e aproximação com BRICS esfriam relação de EUA e Brasil, dizem especialistas

Falta de alinhamento de posicionamentos de Lula e presidente eleito deve colocar Argentina como interlocutor do país norte-americano na América Latina

Por Luiza Lemos

Presidente Lula e Donald Trump
Reprodução/Agência Brasil/REUTERS

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos devem esfriar ainda mais as relações diplomáticas entre o país e o Brasil. O candidato Republicano foi declarado vencedor sobre a Democrata Kamala Harris nesta quarta-feira (6). 

Lula, que declarou apoio a Kamala Harris, pode ter maior dificuldade diplomática de relacionamento com Trump pelo posicionamento, como indica o advogado Gustavo Nicolau, fundador do escritório Green Card US. "É natural, não só pela manifestação, mas também pelo alinhamento total de Trump com o presidente Bolsonaro", pontua. 

Na avaliação do analista Lucas de Souza Martins, a vitória de Trump e o afastamento ideológico com o presidente Lula não são os únicos fatores para que a relação fique menos afetuosa. 

Para o analista Lucas de Souza Martins, o aprofundamento das relações com o BRICS também é razão para o afastamento entre os países. "Isso revela uma contradição, uma visão diferenciada com o que os Estados Unidos trazem ao Brasil, uma visão geopolítica que se afasta dos BRICS, como a Rússia, a China", pontua. 

Além disso, a proximidade de Trump com o presidente da Argentina, Javier Milei, pode trazer uma mudança no cenário diplomático na América Latina. "Sabemos que a principal referência na região será Milei, que será maior interlocutor dos EUA na América Latina. Mas ambas as campanhas, de Kamala e Trump, não colocaram a região como fator na política externa", pontua Lucas. 

Divergência sobre guerras também afeta relação entre Brasil e Estados Unidos

Os conflitos entre Ucrânia e Rússia e Israel contra Hamas e Hezbollah no Oriente Médio também são fruto de divergência entre Brasil e Estados Unidos. Mesmo no governo democrata de Joe Biden, Lula já se manifestava contra o posicionamento dos Estados Unidos. Com Trump, não a situação não será diferente. 

Na questão da Ucrânia, Trump tem uma posição de suspensão ao apoio militar ao país, quer efetivamente que um acordo seja aceito para o fim da guerra. Na avaliação do analista Lucas de Souza Martins, essa posição não está conectada com a perspectiva brasileira. "O Brasil quer encontrar uma solução mediada entre as duas partes, não algo que force a Ucrânia a ceder territórios", pontua. 

Com relação ao Oriente Médio, Brasil e Estados Unidos concordam na criação da postura de dois Estados, incluindo Palestina e Israel. Mas essa não é a posição de Trump. "Aliado ao premier Benjamin Netanyahu, a percepção é que os dois países estarão pouco alinhados", indica. 

Itamaraty avalia que relação não será desgastada

Na avaliação do Itamaraty, o Brasil continua não sendo estratégico nem prioritário para os Estados Unidos em qualquer um dos casos. 

No cenário internacional, as situações econômicas e geopolíticas dos americanos estão complexas, o que faz com que o próximo presidente olhe para outros lugares do mundo, como a Ucrânia e Israel. 

Mesmo assim, o Governo Federal segue preocupado, principalmente com o valor do Dólar que tem subido nos últimos dias. 

Apesar das divergências, Lula parabenizou Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou Donald Trump, que foi declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos nesta quarta-feira (6). Em publicação nas redes sociais, Lula citou que 'democracia é a voz do povo'. 

"Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada", afirmou. 

Lula também escreveu que deseja sucesso ao novo governo e que pretende trabalhar de forma conjunta com Trump. "O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo", escreveu. 

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