É sempre surpreendente como os economistas podem errar. Doze meses atrás, a maioria dos economistas de bancos, institutos e imprensa pintou um quadro sombrio para 2023 – incluindo este colunista.
Esperávamos uma economia estagnada, uma inflação persistente, um déficit orçamentário crescente e nenhuma tentativa séria de reforma. Os ataques do presidente Lula ao Banco Central devido às altas taxas de juros – nada disso parecia bom. Suas tentativas (ainda existentes) de devolver as rédeas da economia ao Estado e de encher as empresas estatais de políticos também resultaram numa grande desconfiança da comunidade empresarial em relação ao governo.
Mas o resultado foi bem diferente: o Brasil cresceu 3% neste ano (em vez de 0,8%). A inflação caiu no final do ano e agora está dentro da meta do Banco Central. O nível de desemprego é o mais baixo desde 2014, e a taxa de emprego fixo está mais alta do que há muito tempo.
O Brasil obteve um enorme superávit comercial, ou seja, exportou muito mais do que importou. Isso se deveu principalmente ao aumento das exportações de produtos agrícolas e petróleo. Graças a essa renda adicional, o Brasil se tornou um devedor seguro. Ao contrário da Argentina, por exemplo, o Brasil tem dólares suficientes para pagar seus empréstimos e importações no exterior.
O risco de um investidor não receber seu dinheiro de volta caiu: isso pode ser visto mais claramente em um indicador do mercado financeiro, o swap de inadimplência de crédito: os juros que os investidores exigem para "assegurar" o risco de inadimplência do Brasil diminuíram em 45% desde o início do ano. A agência de risco Standard & Poor's (S&P) também acabou de reduzir o risco da dívida brasileira.
Em suma, isso significa que o Brasil como Estado – mas também suas empresas e, portanto, seus consumidores – terá de pagar menos pelos empréstimos.
Reformas de Lula são maior surpresa
A maior surpresa, no entanto, são as reformas que o governo Lula implementou.
Nos últimos dias, o Congresso aprovou a reforma tributária. Quase todos os governos tentaram fazer isso ao longo de 30 anos. Em médio prazo, ela racionalizará o extenso sistema tributário.
Nos últimos meses, o governo implementou ainda o arcabouço fiscal, um mecanismo de controle do endividamento que substitui o anterior teto de gastos. A reforma também reduzirá as altas taxas de juros.
Os títulos verdes (green bonds), por outro lado, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu colocar no mercado pela primeira vez neste ano, podem se tornar um canal financeiro interessante para o futuro. O mecanismo é interessante: há crédito vinculado a metas ambientais obrigatórias, que terão penalidade financeira se não forem cumpridas.
Nenhuma dessas reformas seria esperada do governo Lula. Isso mostra a assertividade política e a capacidade de ação do presidente. Ele apoiou Haddad contra a hostilidade do gabinete e de seu próprio partido. Ele negociou com um Congresso no qual sua coalizão está em minoria.
O fato de que isso obviamente resultou em negociatas é digno de crítica. Mas a política brasileira nunca funcionou de forma diferente – e raramente com um resultado positivo.
Brasil deixou de ser pária
Lula também melhorou significativamente a posição do Brasil no mundo. Para isso, ele usou habilmente a política ambiental e comercial: o Brasil não é mais o pária que era há pouco tempo na política mundial.
Lula concentrou-se na reconstrução das instituições de proteção ambiental e da Amazônia. Com sucesso considerável: a taxa de desmatamento na floresta tropical caiu pela metade.
Lula voltou a conversar com as potências. Mesmo que ele tenha superestimado enormemente seu papel como negociador no conflito Ucrânia-Rússia, governos de todo o mundo estão novamente ouvindo o que Lula tem a dizer – isso se aplica aos Estados Unidos, Europa e China, mas também à Rússia e à Índia.
A presidência do Brasil no G20 neste ano, as próximas reuniões do Brics, a cúpula do clima de 2025 em Belém – todos esses são fóruns em que Lula pode apresentar bem o Brasil. Em 2023, ele provou que pode fazer isso.
Mas que não haja dúvidas: a lista de tarefas para a economia continua extremamente longa. Em seu primeiro ano de seu terceiro mandato, Lula criou a base para a estabilidade. Agora ela deve continuar.
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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
Autor: Alexander Busch