Lula sobre comparação entre governo de Israel e Hitler: ‘Eu diria a mesma coisa'

Presidente declarou que não usou o termo ‘holocausto’ e que foi uma ‘interpretação’ do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu

Da Redação

Lula durante a abertura da 37º Cúpula da União Africana, na Etiópia
Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, nesta terça-feira (27), que “diria a mesma coisa” sobre a comparação que fez dos ataques de Israel na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial

A declaração de Lula foi feita durante uma entrevista coletiva após cumprir agenda na Etiópia, gerou críticas da comunidade judaica e reações por parte do governo israelense, como do premiê Benjamin Netanyahu e do chanceler Israel Katz. 

Durante entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV! e do UOL, ao ser questionado se voltaria no tempo sobre a declaração, Lula respondeu que “diria a mesma coisa”.  

“Porque é exatamente o que está acontecendo na Faixa de Gaza. A gente não pode ser hipócrita de achar que uma morte é diferente da outra. Você não tem na Faixa de Gaza uma guerra de um exército altamente preparado com outro exército altamente preparado. Você tem, na verdade, uma guerra de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças”, disse Lula. 

Lula pontuou que não utilizou a palavra “holocausto” e que foi uma interpretação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. 

“O Brasil foi o primeiro país a condenar o gesto terrorista do Hamas, mas eu não posso condenar o gesto terrorista do Hamas e ver o Estado de Israel, através do seu exército, do seu primeiro-ministro, fazendo com inocentes as mesmas barbaridades”, reforçou o petista. 

O presidente também afirmou que separa o Estado de Israel do povo judeu, declarou que foi o primeiro presidente do país a visitar Tel Aviv e Kibutz, e fez reuniões. 

“Eu nunca misturo o povo com o governo. Eu nunca misturo a atitude do povo com atitude de um governante. Nunca misturo. E o que eu quero dizer em alto e bom som é o seguinte: o primeiro-ministro de Israel está praticando genocídio contra mulheres e crianças. E esse é o dado histórico”, afirmou. 

Conselho de Segurança da ONU

“A ONU, quando ela foi criada, depois da Segunda Guerra Mundial, ela tinha como pretexto ser um ponto de equilíbrio da paz mundial. Ela perdeu a referência. Hoje, ninguém obedece mais uma decisão da ONU, a não ser um país pequeno, um país menor, mas os países grandes cada um faz o que quer”, disse Lula. 

Para Lula, acabar só com o poder de veto de cinco países no Conselho de Segurança não é a solução. “Tem que mudar a representatividade. Não tem explicação a gente continuar com a mesma geopolítica de 45, ou seja, não. A América Latina pode ter dois ou três, a África pode ter dois ou três, a Índia tem que entrar. Por que a Alemanha não pode entrar? Pode entrar. O Japão pode entrar”, pontuou. 

“Então, o que eu acho é que precisa mudar a geopolítica que compõe o Conselho de Segurança da ONU e acabar com direito de veto para que a gente compreenda a seguinte questão: não é só para tratar de guerra. Nós temos outros temas importantes para a humanidade”, finalizou. 

Entenda a polêmica entre Brasil e Israel

Na manhã do último domingo (18), Lula disse em coletiva de imprensa que o que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas sim um genocídio e fez referências às ações de Hitler contra os judeus. 

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existe, quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula. 

O governo de Israel declarou nesta segunda-feira (19) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é “persona non grata” no país até pedir desculpas e fazer uma representação sobre a declaração

“Não perdoaremos e não esqueceremos - em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao presidente Lula que ele é uma persona non grata em Israel até que peça desculpas e se retrate por suas palavras”, declarou o ministro das Relações Exteriores do país, Israel Katz. 

A Band apurou que a estratégia do governo brasileiro foi definida durante a reunião. Celso Amorim informou a Lula que Israel está exigindo um pedido de desculpas formal de forma pública. Porém, fiquei certo de que isso não deveria acontecer. 

O Planalto classificou como “exagerada” uma ocorrência de Israel, que transformou Lula em “persona non grata” no país. . Seria uma maneira, segundo avaliadores, de Benjamin Netanyahu diminuir a pressão interna e ganhar apoio. Por isso, a versão do governo é de que a fala de Lula se dirigia ao governo israelense e não ao povo judeu.

Lula também decidiu chamar de volta o embaixador brasileiro em Israel para consultas. Em linguagem diplomática, isso deixa clara a insatisfação com Tel Aviv. Segundo o Planalto, Frederico Meyer foi humilhado ao receber uma reprimenda pública fora do protocolo.

O representante brasileiro foi chamado ao Museu do Holocausto para dar explicação sobre a declaração do presidente, e não ao gabinete do chanceler, como é praxe. Para que, de acordo com Israel Katz, "testemunhasse o que os nazistas fizeram aos judeus". O Itamaraty classificou nos bastidores o ato como “um show desnecessário”.

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