O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter um papel fundamental na mediação do conflito entre Venezuela e Guiana. O presidente brasileiro é muito próximo do líder venezuelano Nicolás Maduro e isso pode facilitar a comunicação para evitar uma escalada na disputa territorial.
Para a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista em América Latina, Regiane Nitsch Bressan, a boa relação entre Lula e Maduro pode fazer a diferença para esse diálogo. Ela alerta que, no entanto, a província já fez parte do território venezuelano:
“Essa é uma disputa histórica de território, já que a região de Essequibo já fez parte da Venezuela, na independência do país, em 1811. Assim, para os venezuelanos, a região deveria voltar a ser controlada pela Venezuela”, explicou.
A tensão entre Venezuela e Guiana preocupa toda a América Latina. O presidente Nicolás Maduro divulgou um “novo mapa da Venezuela” com a região de Essequibo, que hoje pertence ao país vizinho, gerando ainda mais temor de um conflito.
Para a Venezuela tomar conta da região, a especialista explica que há duas maneiras de o país chegar ao território:
- Via marítima, pelo Norte;
- Via fronteira, pelo Sul.
Para chegar a região de Essequibo, Regiane explica que o exército venezuelano precisaria passar pelo Brasil, e por isso, o Exército brasileiro está ampliando o contingente militar na região. “Por esse caminho ficaria mais viável e mais barato, para que as tropas militares venezuelanas invadissem Essequibo”, explicou.
Ela ainda alertou que, de fato, é uma possibilidade, porque o presidente Nicolás Maduro já vem apresentando uma escalada para essa ação, além de já ter conversado com o exército e escolhido o general que estará governando a província.
A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foi fundada em 2008 originalmente por todos os doze países da América do Sul. Em função das divergências políticas, alguns países se retiraram da organização. O próprio Brasil anunciou a voltar ao Unasul em março deste ano, após ter saído em 2019 por decisão do governo Bolsonaro.
A professora detalha que devido ao enfraquecimento do Unasul, com a saída dos países, acabou dificultando as relações entre os países da América Latina:
“A Unasul, na época, serviria justamente para criar uma zona de paz e segurança, que gerasse confiança, e possibilidade de negociação e conversa entre os países do Mercosul. Além do que, a Venezuela não faz mais parte nem do Mercosul, está suspensa, bem como da comunidade Andina, o que acaba por isolar o país e dificultar, por exemplo, qualquer previsão de comportamento”, finalizou.