Lula: 'Nenhum general se moveu para dizer que era proibido' pedir golpe

Presidente criticou postura de militares que silenciaram diante da pauta golpista de manifestantes

Narley Resende

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse durante seu discurso a governadores na segunda-feira (9) que “nenhum general se moveu para dizer que era proibido” pedir golpe de Estado. 

"Todo mundo aqui sabe quanta gente foi torturada por não concordar com o regime militar. Agora as pessoas estão livremente reivindicando golpe na frente dos quartéis. E não foi feito nada por nenhum quartel. Nenhum general se moveu para dizer ‘não pode acontecer isso’, 'é proibido pedir isso [golpe]', ‘nós não vamos fazer isso’. Dava a impressão que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando o golpe”, pontuou. 

“Impressão que tenho é que o II Exército em São Paulo ficou meses com as pessoas gritando. E lá tinha banheiro químico, tinha barraca, tinha almoço, tinha churrasco, como aqui em Brasília [em frente ao QG]. Olha que nós não fizemos nada. Até que eles fizeram”, criticou. Na fala, Lula fez referência ao primeiro ataque de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília, no dia de sua diplomação, em 12 de dezembro. 

Até esta terça-feira (10), as Forças Armadas não emitiram nota ou qualquer posicionamento sobre os pedidos de golpe de Estado ou contra os ataques violentos em Brasília. 

Todos os Poderes

Durante reunião com os 27 governadores, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e parlamentares, o presidente disse que foi pego de surpresa. Ele ponderou, porém, que era sabido que os acampados em frente a quarteis buscavam um golpe de Estado. 

Lula destacou que os apoiadores de Bolsonaroestavam reivindicando golpe de estado por insatisfação com o resultado da eleição.

Lula, os governadores e presidentes do STF e do Congresso visitaram na segunda (9) as instalações da sede do STF, um dia após os atos terroristas que depredaram a sede do tribunal, o Congresso e o Palácio do Planalto.  

Após reunião com o presidente no Palácio do Planalto, os representantes estaduais atravessaram a Praça dos Três Poderes à pé para prestar solidariedade à Corte.  

Acompanharam a caminhada a presidente do STF, ministra Rosa Weber, os ministros Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, além de ministros do governo federal e parlamentares.  

Inicialmente, estava prevista uma reunião com os governadores e os ministros no STF,  mas a previsão foi alterada para a caminhada.

As autoridades permaneceram nas dependências do tribunal.  

Democracia

Perguntado sobre o reestabelecimento da democracia após deixar o local dos destroços, o presidente Lula disse que o governo vai trabalhar para descobrir os responsáveis pelo financiamento dos atos e que a destruição atende a interesses de uma minoria.  

"A maioria das pessoas que votou no Bolsonaro, pessoas descentes, pessoas que são de direita, pessoas que têm apenas divergência ideológica, não concordam com o que aconteceu aqui. O que aconteceu aqui deve ser interesse apenas de uma minoria, de um bando de vândalos, um bando de bandidos que fizeram isso. Nós vamos descobrir quem é que financiou. Tem gente financiando, tem gente que pagou para vir aqui e tem gente que fomentou”, afirmou o presidente.  

O ministro Luis Roberto Barroso disse que é hora de reconstruir o Brasil. “A reunião com governadores representa um pais que precisa se reerguer depois de um momento extremamente destrutivo, que nos envergonhou perante o mundo. Pessoas que se apresentam como patriotas envergonham a pátria e pessoas que se apresentam em nome de Deus que não merecem o reino do céus”, disse.

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