O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na manhã desta sexta-feira (23), pelo horário de Brasília, na cúpula sobre o Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França.
Na cúpula, o presidente chamou as exigências da União Europeia para a finalização do acordo com o Mercosul de “ameaças”. A declaração de Lula foi feita ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron.
“Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível, a carta adicional que foi feita pela UE não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível, que nós temos uma parceira estratégica, e haja uma carta adicional fazendo ameaças a um parceiro estratégico, como é que a gente vai resolver isso? ”, questionou Lula no discurso.
Durante entrevista coletiva na passagem por Roma, na Itália, o brasileiro já havia voltado a defender a assinatura do acordo entre os blocos, mas disse não entender instrumentos adicionais impostas pelos europeus.
Além do acordo UE-Mercosul, Lula abordou temas relacionados ao meio ambiente, energia elétrica, desigualdade social, desmatamento zero e COP 30. Veja os principais pontos.
Desigualdade social
Para Lula, não é possível que haja uma reunião entre presidentes de países importantes e a palavra desigualdade não apareça para debate. “Desigualdade salarial, de raça, de gênero, de educação, saúde, ou seja, nós somos um mundo totalmente desigual e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente e a pobreza na mão de mais gente”, desabafou o presidente.
Para ele, se a desigualdade social não for discutida e o tema não for abordado como prioridade pelos países como a questão climática, o planeta vai ter um clima “muito bom” e pessoas morrendo de fome em vários países do mundo.
“Quando fui presidente do Brasil entre 2003 a 2010 e a Dilma Rousseff entre 2011 a 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que o Brasil tinha saído do mapa da fome. Na época, nós tínhamos com que 36 milhões saíssem da miséria absoluta e 40 milhões atendessem a um poder de compra de classe média. 13 anos depois eu volto à presidência e outra vez 33 milhões de pessoas estão passando fome”, pontuou.
Pobre no orçamento
Parte do discurso de Lula foi dedicada para discutir sobre governança global e reforçou que é preciso ter clareza que “se a gente não mudar as instituições, o mundo vai continuar o mesmo”.
“O rico vai continuar rico e o pobre vai continuar pobre, eu falo isso com pesar porque eu tenho experiência riquíssima de como é fácil a gente governar para os pobres. O pobre nunca será um problema, o pobre sempre será a solução. Quando você coloca dentro do orçamento do país, mas se esquece o pobre e coloca todos os outros no orçamento, nunca vai sobrar dinheiro para cuidar das pessoas”, comentou Lula.
“Como é que a gente vai discutir esse problema de desigualdade se a gente não discute a desigualdade?”, questionou o presidente do Brasil.
Energia e desmatamento
Na cúpula sobre o Novo Pacto de Financiamento Global, Lula voltou a falar sobre energia renovável e compromisso com o desmatamento zero. Em discurso nesta quinta-feira (22), em Paris, durante o evento Power Our Planet, o petista já havia falado em fazer “todo e qualquer esforço” para manter a Amazônia “em pé”.
“O Brasil é um país que tem uma matriz energética, possivelmente, a mais limpa do mundo. No campo do setor de energia, 87% é renovável contra 27% do restante do mundo e ao tratar de todo o conjunto de energia é renovável enquanto só 18% do restante do mundo é renovável”, pontuou o presidente.
Para ele, essa estatística significa que o Brasil está caminhando para a proposta de campanha, que é chegar ao desmatamento zero em 2030. “Nós não temos só a Amazônia para cuidar, temos o Cerrado, a Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal. São cinco grandes biomas que nós temos que cuidar porque todos eles são vítimas de ataques todos anos, ora por fogo, por excesso de chuva ou por gente predadora que quer plantar o que não se deve plantar lá”, desabafou Lula.
COP 30
Em 2025, o Brasil vai sediar a Conferência do Clima no estado do Pará e Lula comentou que espera que todas as pessoas que admiram tanto a Amazônia, “que a floresta é o pulmão do mundo”, participem da COP 30, “para que todos tenham noção do que é realmente a Amazônia porque muita gente fala, mas pouca gente conhece e é importante que as pessoas falem conhecendo”.
“Nós vamos fazer no dia 12 de agosto um grande encontro no estado do Pará, com todos os presidentes da América do Sul que compõem toda a região da Amazônia para que a gente possa formar uma proposta para levar para a COP 28, nos Emirados Árabes”, declarou.