‘Não podemos aceitar um neocolonialismo verde’, diz Lula na Cúpula da Amazônia

Petista afirmou que os países amazônicos precisam é de financiamento de longo prazo e sem condicionalidades para projetos de infraestrutura e industrialização verde

Da Redação

‘Não podemos aceitar um neocolonialismo verde’, diz Lula na Cúpula da Amazônia
Lula com líderes dos países amazônicos durante a Cúpula, em Belém
Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou no encerramento da Cúpula da Amazônia, em Belém, onde oito países se reuniram para tratar sobre a floresta. Na declaração, o petista criticou o “neocolonialismo verde”, cobrou os países ricos, falou de desenvolvimento regional e da COP 30, que será realizada na capital paraense. 

“Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que, sob o pretexto de proteger o meio ambiente, impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias e desconsidera nossos marcos normativos e políticas domésticas”, disse Lula. 

“O que precisamos para dar um salto de qualidade é de financiamento de longo prazo e sem condicionalidades para projetos de infraestrutura e industrialização verdes. Reformar o sistema também requer uma solução duradoura para o endividamento externo que aflige tantos países em desenvolvimento”, acrescentou. 

Países ricos e financiamento internacional 

As evidências científicas confirmam que o ritmo atual de emissões de gases do efeito estufa levará a população a uma crise climática “sem precedentes”, afirmou Lula. Ele reforçou que o mês de julho deste ano foi o mais quente já registrado na história, como informou o Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas Copernicus, ligado à União Europeia. 

“O planeta se aproxima de vários pontos de não retorno. Os países das bacias da Amazônia, do Congo e de Bornéo-Mekong atuarão com determinação para preservar as três maiores florestas tropicais do mundo. Mas não se pode falar de florestas tropicais e mudança do clima sem tratar da responsabilidade histórica dos países desenvolvidos”, pontuou o presidente. 

Para o petista, foram os países desenvolvidos que, ao longo dos séculos,mais dilapidaram recursos naturais e mais poluíram o planeta. “Os 10% mais ricos da população mundial concentram mais de 75% da riqueza e emitem quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera”, destacou. 

Lula pontuou os gastos militares, que atingiram o recorde de US$ 2,2 trilhões em 2022, que é o recurso que o mundo precisa para a promoção do desenvolvimento sustentável. “Diante dessas disparidades, é fundamental não perder de vista o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, afirmou. 

“Desde a COP 15, o compromisso dos países desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático novo e adicional nunca foi implementado. E esse montante já não corresponde às necessidades atuais. A demanda por mitigação, adaptação e perdas e danos só cresce”, pontuou. 

No discurso, Lula disse que “os países detentores de florestas tropicais herdaram do passado colonial um modelo econômico predatório. Um modelo baseado na exploração irracional dos recursos naturais, na escravidão e na exclusão sistemática das populações locais. Os efeitos são sentidos por nossos países até hoje”. 

Lula também citou o Fundo Global para o Meio Ambiente, onde os países amazônicos (como Brasil, Equador e Colômbia) são obrigados a dividir uma cadeira do conselho, enquanto países desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, França, entre outros) ocupam o próprio assento. 

“Sanar a falta de representatividade é elemento essencial de uma proposta abrangente e profunda de reforma da governança global que beneficie todos os países em desenvolvimento”, disse.

União dos países da Amazônia 

Para o petista, é hora dos países amazônicos se unirem e de “acordar para a urgência do problema da mudança do clima”. Ele reforça que, caso a sociedade não se mobilize agora, o mundo não vai atingir a meta de evitar que a temperatura suba “mais um 1,5 grau em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial”.  

Lula afirmou que a declaração conjunta dos países, que foi assinada na Cúpula da Amazônia, será o primeiro passo para uma posição comum já na COP-28, que será realizada neste ano, mas também com vistas à COP 30, que será sediada em Belém, em 2025. 

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