O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (24) que a entrega do Prêmio Camões ao cantor e compositor Chico Buarque corrige ‘um dos maiores absurdos” cometidos contra a cultura brasileira. A honraria da literatura foi concedida em cerimônia em Portugal. 

“Participar, aqui em Portugal, da cerimônia de entrega do Prêmio Camões ao Chico Buarque é motivo de grande honra e imensa alegria. Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira dos últimos tempos, digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi, todos sabem o motivo”, afirmou o presidente. 

O cantor e compositor Chico Buarque foi escolhido para receber a honraria em 2019, mas não foi concluído na época porque o então presidente Jair Bolsonaro (PL) não quis assinar os documentos necessários. Em dezembro daquele ano, ao ser questionado se assinaria o diploma da premiação, Bolsonaro disse: “Eu tenho prazo? Então, 31 de dezembro de 2026 eu assino”.

O governo de Portugal chegou a informar que Chico receberia a honraria em 2020, com ou sem a assinatura de Bolsonaro, que era só uma formalidade, mas a entrega do prêmio foi adiada devido a pandemia da Covid-19. No evento realizado nesta segunda, o diploma foi assinado por Lula e pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. 

Lula, ainda em discurso, lembrou o ataque à cultura e diz que foi uma dimensão do projeto que a extrema-direita tentou implementar no país. “Se hoje estamos aqui para fazer essa espécie de reparação e celebração da obra do Chico é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil”.

O presidente também lembrou que a “negação” das artes é uma marca do totalitarismo e das ditaduras, usando como exemplo o período que Brasil e Portugal enfrentaram no século passado. Para ele, a honraria é uma resposta à censura. 

“Não podemos esquecer que houve negação das artes, também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal. Esse prêmio é uma resposta do talento contra a censura, do engenho contra a força bruta”, reforçou Lula. 

Prêmio Camões 

Instituído pelos governos do Brasil e de Portugal, o prêmio é entregue em parceria. Também é oferecido um reconhecimento de 100 mil euros (dividido igualmente entre os países).

Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro foram outros brasileiros já laureados. Desde o início da premiação, foram escolhidos 13 brasileiros, 13 portugueses, três moçambicanos, dois angolanos e um autor de Cabo Verde.

Considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa, ele contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa.