Livro digital ou impresso: o que é melhor para o planeta?

Ebooks poupam florestas, mas criam lixo tóxico e demandam alto uso de energia. Os livros de papel, por sua vez, advém de fontes renováveis, embora milhões de cópias produzam pegadas de carbono significativas.

Por Deutsche Welle

Os leitores de livros impressos e digitais e os ouvintes dos audiolivros gastarão quase 174 bilhões de dólares (R$ 862 bilhões) até 2030. Com cerca de 4 milhões de títulos lançados a cada ano, eles têm uma liberdade de escolha privilegiada.

Mas, quais os impactos de toda essa leitura sobre o meio ambiente e o clima? Devemos fazer a transição do livro impresso para o digital pelo bem das florestas e para evitar o aquecimento global?

Os dois formatos possuem suas vantagens e desvantagens.

Prós e contras do livro impresso

Desde que Johannes Gutenberg inventou a imprensa na Alemanha, há quase 600 anos, a produção de livros explodiu globalmente. Em torno de 130 milhões de exemplares foram publicados entre a invenção da imprensa, em 1440, e 2010, segundo um estudo encomendado pela Google.

Todo esse conhecimento e narrativas de histórias resultaram em avanços para a humanidade. Por outro lado, a produção dos livros também ceifou inúmeras árvores de florestas que dão suporte à vida selvagem, produzem oxigênio e ajudam a armazenar o carbono que, quando liberado, induz as mudanças climáticas.

A editora Penguin Random House UK, que imprime anualmente cerca de 15 mil títulos, garante que passou a usar papel sustentável nos tomos lançados em nome da empresa.

Courtney Ward-Hunting, gerente de sustentabilidade da Penguin, diz que 100% do papel utilizado nos livros é certificado pela ONG ambientalista Forest Stewardship Council (FSC), que trabalha no gerenciamento de coleta de madeira sustentável ou regenerativa que "preservam as florestas para as futuras gerações".

Contudo, o trabalho da FSC em termos de proteção de florestas vem sendo criticado, com a entidade sendo acusada por organizações como o Greenpeace de promover a chamada "lavagem verde".

Ward-Hunting reconhece que mais de 70% do impacto climático gerado pela Penguin vem das gráficas e usinas de celulose. Ela diz que os livros da editora geram em média 330 gramas de dióxido de carbono cada, o que inclui gases causadores do efeito estufa. Essa quantidade seria a mesma gerada por uma xícara de café.

Esses dados equivalem a todo o ciclo de produção de uma unidade, incluindo a eficiência do maquinário, o uso de energias renováveis, tipos de tinta e o transporte das gráficas até os armazéns e aos consumidores.

Em média, os livros de bolso ou brochuras comuns possuem impacto climático três vezes maior ou equivalem a cerca de um quilo de CO2. Isso é o mesmo que a recarga de 122 smartphones, ou dois cafés com leite.

Ao mesmo tempo em que as inovações de fabricação diminuíram as pegadas de carbono dos livros impressos, o impacto no clima é significativo se levarmos em conta os aproximadamente 2,2 bilhões de livros físicos que são vendidos anualmente em todo o mundo, afirmam os analistas de dados da WordsRated.

Mesmo se presumirmos que cada livro gera 0,33 quilos de CO2, como na Penguin Random House, isso corresponderia a 762.000 toneladas de CO2 – o que equivale ao fornecimento anual de energia a 141.261 residências, ou às emissões de 161.500 automóveis.

Prós e contras dos livros digitais

O benefício ambiental imediato dos equipamentos de leitura de livros eletrônicos é a capacidade de armazenamento de milhares de livros, sem a utilização de papel.

Isso não apenas poupa as florestas – somente nos Estados Unidos são derrubadas anualmente 32 milhões de árvores para a impressão de livros – como também evita enormes gastos de energia no processamento da madeira para a fabricação de papel.

A chamada polpação da madeira representou 6% do consumo total da energia industrial global em 2017, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Outra vantagem é o fato de os livros digitais não precisarem ser enviados através de encomendas, uma vez que podem ser diretamente baixados nos equipamentos de leitura.

O principal leitor de livros digitais no mercado é o Kindle da Amazon. Mais de 487 milhões de ebooks são vendidos anualmente através desse equipamento, segundo a WordsRated. A Amazon calcula que em torno de 5 milhões de pessoas em todo o mundo leem através do Kindle ou de aplicativos todos os meses.

A popularidade dos livros digitais aumentou nos últimos anos principalmente devido aos jovens das gerações Y e Z. O número de consumidores globais de ebooks deve chegar a um bilhão até 2027, segundo cálculos da plataforma alemã de dados Statisa.

Mas, a transição de leitores dos livros impressos para os digitais resultaria de fato em benefícios ao clima e ao meio ambiente?

Os equipamentos eletrônicos de leituras também possuem seu lado ruim. Sua produção é um processo de alto consumo de água e energia. A bateria pode exigir a extração de metais e minerais raros, como cobre, lítio e cobalto. Os aparelhos também são compostos por plástico, que é um material produzido a partir de combustíveis fósseis.

Assim como ocorre com os livros impressos, a fase de produção dos ebooks é a que mais gera impactos no clima. Além disso, os leitores utilizam a eletricidade para recarregar os aparelhos, vez após vez, durante a vida útil dos mesmos. O armazenamento do arquivo dos dados dos livros digitais depende de centros de infraestrutura.

Isso não ocorre com os livros impressos, que não utilizam energia e não precisam de recarga. As cópias impressas podem durar décadas e serem compartilhadas por inúmeros leitores. Já os leitores digitais costumam durar entre três e cinco anos.

Os livros impressos também não são tão complicados de serem descartados ou reciclados no final de suas vidas. Por outro lado, algumas empresas como a Amazon possuem programas de reciclagem para os aparelhos, de modo a evitar o acúmulo de lixo eletrônico.

O que é melhor para o planeta?

Os livros impressos tradicionais continuam tendo popularidade muito maior do que os digitais, com aproximadamente o dobro da penetração de mercado de seus concorrentes eletrônicos, segundo registros de 2021 nos EUA.

Para Eri Amasawa, professora da Universidade de Tóquio, o impacto ambiental de ambos é significativo.

Em um estudo de 2017, a pesquisadora comparou as emissões de gases causadores do efeito estufa da leitura de livros tradicionais e eletrônicos. Ela concluiu que os últimos são mais favoráveis ao clima contanto que ao menos 15 ou mais livros (ou 25 no caso dos iPads) sejam lidos durante o ciclo de vida de três anos dos leitores digitais.

Ao mesmo tempo, a leitura de um ou dois livros por ano em um Kindle não seria suficiente para poupar emissões.

Mas, e se os leitores consumirem livros nos dois formatos?

"Muitas pessoas ainda desejam ler livros impressos, mesmo que elas também leiam ebooks", disse Amasawa. Em torno de 33% dos leitores americanos se encaixam nessa categoria.

Mas, mesmo que os aparelhos digitais façam sentido em termos ambientais, a pesquisadora recomenda ao aficionados em livros impressos que "comprem os livros que de fato desejem ler, e depois os reciclem quando terminarem a leitura".

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