Lira a aliados: Governo precisa de reforma ministerial e conter 'fogo amigo'

Por Estadão Conteúdo

A poucas semanas de encerrar o mandato como presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) vem dizendo a aliados que o governo precisa fazer ajustes e encaminhar uma reforma ministerial no próximo ano. A figuras próximas, ele diz acreditar que há um desequilíbrio na balança de representação na Esplanada dos Ministérios e que o governo precisa se entender melhor.

Figuras do entorno de Lira até apresentam um argumento repetido por ele: o PT, que tem representação de cerca de 16% na Câmara dos Deputados, controla 80% dos recursos sob tutela das pastas.

Na leitura de Lira, de acordo com esses interlocutores, está descompensado até a proporção de cargos entre legendas do Centrão - umas estariam, dizem esses aliados, com ministros demais enquanto outras estariam subrepresentadas. O presidente da Câmara, dizem, também crê que a reforma serviria para acomodar o clima ruim que paira na Casa, manifesto por outros deputados nas últimas semanas.

De acordo com esse entendimento, parte dessa insatisfação entre os congressistas se dá em razão da maior ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no diálogo e no tratamento com líderes da Câmara e com demais parlamentares em comparação com gestão anteriores do petista. Há uma lembrança de que essa maior proximidade, como era há quase duas décadas, tornava o clima mais ameno no Congresso.

Ele também costuma relatar para aliados que o governo precisa ser mais ágil para dar encaminhamento a iniciativas legislativas, mas que, para isso, é preciso parar o 'fogo amigo' entre as alas do próprio governo.

Em balanço a aliados, Lira espera uma Câmara que se imponha mais e lamenta não ter conseguido votar PL das fake news

Assim como já fez no plenário da Casa na última quinta-feira, 19, Lira também já expôs o balanço próprio de seus quatro anos no comando da Câmara. Na leitura dele, o plenário da Casa ganhou mais protagonismo do que quando ele chegou, em 2011, quando acreditava que a Casa era uma chanceladora de medidas provisórias editadas pelo Poder Executivo.

Ainda assim, apontam esses aliados, ele crê que o Congresso precisa se impor mais e ficou aquém de suas atribuições. Neste ano, ele fez um discurso incisivo no plenário da Casa quando saiu em defesa de deputados alvo de investigação da Polícia Federal por pronunciamentos no plenário da Câmara e disse que poderia ir aos últimos limites na proteção dos parlamentares.

Ele lamentou a aliados, porém, não ter conseguido aprovar o projeto de lei das fake news, que regula as redes sociais. A matéria chegou à discussão na Câmara no ano passado, mas acabou frustrada após a articulação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e das próprias plataformas, contrárias à proposição.

Essas figuras mais próximas a Lira dizem que ele aponta dois elementos que precisam estar na regulação: a identificação dos usuários e a responsabilização das plataformas pelos conteúdos publicados. Há uma descrença, segundo esses aliados, que uma matéria tão controversa pode voltar.

Anistia ao 8 de janeiro não é assunto encerrado e Lira já tem planos para 2025

Nessas conversas com aliados, Lira também diz que a anistia aos presos do 8 de Janeiro não deve deixar de estar na discussão no plenário no próximo ano. Esse projeto de lei teve a tramitação freada pelo próprio Lira, ao determinar a criação de uma comissão especial, que ainda não teve sequer os trabalhos iniciados.

Bolsonaristas condicionaram, neste ano, a votação em Hugo Motta (Republicanos-PB) para suceder Lira na presidência da Câmara caso ele pautasse o tema no plenário da Casa. Figuras do entorno mais próximo, apontam que Motta, apesar de ter um perfil diferente do alagoano, deverá manter a mesma estrutura de trabalho que Lira. Após conquistar apoio de Lira, Motta acumulou apoios de legendas que vão do PT ao PL - o que lhe garante amplo favoritismo para assumir o cargo.

A figuras do entorno, Lira diz que voltará ao seu gabinete de deputado e terá como foco destravar as burocracias para formar uma federação entre União, PP e Republicanos. Se esse grupo se consolidar, a bancada seria composta por 153 deputados e 17 senadores, tendo maioria nas duas Casas do Congresso. O obstáculo maior no momento é resolver impasses em relação à administração da federação nos Estados.

O Senado Federal continua sendo o próximo alvo de Lira, em 2026, quando terá também Renan Calheiros (MDB-AL), seu principal adversário político, na disputa. Serão duas vagas em jogo.

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