Líder da AfD vai a julgamento por uso de slogan nazista

Björn Höcke responderá na Justiça pelo uso de slogan de antiga organização nazista durante discurso. Segundo a acusação, Höcke, um ex-professor de história, sabia muito bem ao que estava fazendo quando utilizou o lema

Por Deutsche Welle

Um dos principais líderes do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) no leste do país será levado a julgamento por utilizar um slogan nazista durante a última campanha eleitoral, informou nesta quarta-feira (13/09) o tribunal regional da cidade de Halle.

O deputado estadual Björn Höcke, líder da AfD no estado da Turíngia, é acusado de usar a frase Alles für Deutschland ("Tudo pela Alemanha") durante um evento de campanha em maio de 2021. O slogan era o lema do movimento paramilitar nazista Sturmabteilung ("Tropas de assalto"), conhecido pela sigla SA, cujos membros eram também chamados de "camisas-pardas" e se notabilizaram por atos de violência nas ruas durante o período democrático que precedeu a ditadura de Adolf Hitler.

A frase, assim como uma série de símbolos, saudações e outros slogans da era nazista, é proibida na Alemanha. Segundo a acusação, Höcke, um ex-professor de história, saberia muito bem ao que estava se referindo quando utilizou o antigo lema da SA.

Höcke, que já é considerado pelo Tribunal Federal Constitucional da Alemanha – a instância jurídica mais alta do país – como extremista de direita, será julgado em Mereburg, no estado da Saxônia-Anhalt, mesma cidade onde proferiu a frase durante um discurso de campanha para cerca de 250 apoiadores.

"Frase tirada de contexto"

Os promotores já haviam entrado em maio deste ano com o pedido de abertura de um processo criminal contra Höcke, que havia sido negado pelo tribunal de Halle. Os juízes somente aprovaram a medida após uma decisão da Corte de Apelações.

A suspensão de sua imunidade parlamentar, aprovada pelo Parlamento da Turíngia na semana passada, removeu os entraves para a abertura de procedimentos criminais contra ele.

Höcke foi formalmente acusado de "uso público de um símbolo de uma antiga organização nacional-socialista". Se condenado, poderá ser punido com multa ou até três anos de prisão.

Ele reagiu através do Twitter ao anúncio do tribunal, afirmando que a Alemanha "perdeu o rumo". "Assassinos esfaqueadores andam livremente" enquanto um "patriota oposicionista é levado á corte por uma meia frase tirada de contexto", reclamou.

AfD sob vigilância

A ramificação da AfD na Turíngia está desde março de 2022 sob a vigilância do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV) a agência de inteligência interna do país. O tribunal que aprovou a medida concluiu que existiam indícios suficientes de aspirações anticonstitucionais dentro do partido. A legenda populista de direita é considerada uma ameaça à democracia alemã.

Höcke é alvo de outras investigações por suspeitas atitudes racistas e de incitação ao preconceito contra migrantes.

Ele já se referiu ao monumento em memória do Holocausto em Berlim como um "monumento da vergonha" e defendeu um "giro de 180 graus" na cultura da memória na Alemanha sobre o passado nazista. Em 2018, a fala sobre memorial chegou a render a abertura de um processo de expulsão contra Höcke na AfD, mas no final o partido decidiu mantê-lo como membro.

O líder da AfD também á acusado pela promotoria da cidade de Mühlhausen por incitação ao ódio e postagens em redes sociais.

Virada para a ultradireita

Criado em 2013 como uma legenda eurocética, a AfD acabou se transformando em um partido anti-imigração com forte tendência para o extremismo e conseguiu eleger representantes para o Bundestag (Parlamento alemão) em 2017, ao receber em torno de 13% dos votos. Nas eleições de 2021, o partido perdeu apoio e obteve 10% do total.

Mas, pesquisas recentes de opinião colocam a legenda ultradireitista com 22% da preferência do eleitorado, bem à frente do Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz, que soma 16%.

A legenda ultradireitista se beneficia do descontentamento com a coalizão governista formada pelo SPD, os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP), em meio à alta da inflação e à instabilidade econômica. A questão da migração também é um tema sensível para os eleitores.

A AfD conquistou sua primeira prefeitura na Alemanha nas eleições de julho, na pequena cidade de Raguhn-Jeßnitz, no estado da Saxônia-Anhalt, no leste do país, região que é o principal reduto eleitoral da sigla.

Em junho, o partido elegeu o líder distritalda cidade de Sonneberg, na Turíngia, sendo esta a primeira vez em que a legenda garantiu um cargo alto a nível local.

O estado da Turíngia realizará eleições regionais em setembro de 2024. Höcke já expressou sua ambição de se tornar o primeiro governador de estado eleito pela AfD.

rc (AFP, DPA)

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