A procuradora da República Thaméa Danelon, ex-coordenadora da Lava Jato em São Paulo, disse neste domingo, 27, que a operação não acabou, mas está enfraquecida. Em entrevista a Milton Neves, na Rádio Bandeirantes, Thaméa afirmou que decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e mudanças em leis aprovadas pelo Congresso Nacional limitaram a Lava Jato.
“A Lava Jato está hospitalizada, está fraca. Está vivendo, ainda trabalhando, mas sem que haja apoio de outras instituições, como Supremo, Congresso, Executivo, não vai sobreviver por muito tempo”, declarou Thaméa, promovida a Procuradora Regional em Porto Alegre em fins de 2019.
A procuradora citou como exemplo a aprovação de Lei de Abuso de Autoridade como um dos fatores que limitou o trabalho da Lava Jato. A legislação, aprovada em agosto de 2019 e que entrou em vigor este ano, foi redigida de uma forma, diz Thaméa, que “só praticam abuso o procurador e o juiz”.
“Se uma investigação aberta por um procurador depois vir a ser arquivada, porque não foram identificadas provas, haveria a possibilidade de o procurador responder por abuso de autoridade. Isso faz com que nós não instauremos tantas investigações. O operador do Direito fica com certo receio de ser penalizado lá na frente. Isso atrapalhou muito”, explicou a procuradora, que citou ainda o insucesso de iniciativas como o Projeto Anticrime, do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, além das 10 Medidas Contra a Corrupção.
“O projeto foi aniquilado”, lamenta.
A procuradora afirmou que algumas equipes ainda trabalham na operação, como as de Curitiba e do Rio de Janeiro – “tem muita coisa a ser feita” –, mas que o perfil dos investigados e réus mudou. “Não são pessoas tão famosas, políticos conhecidos, e não despertam tanto interesse da opinião pública”, disse sobre a operação que teve como condenado mais conhecido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Conta hackeada
Thaméa contou ainda que teve sua conta no Twitter hackeada no último sábado, 26. A procuradora disse que recebeu uma mensagem, escrita em inglês, pelo Instagram de um perfil que se passava por uma conta oficial da rede social, pedindo para que ela acessasse um link e preenchesse um formulário para obter o selo de verificado. Cerca de uma hora depois, Thaméa recebeu uma mensagem pelo Whatsapp, também em inglês, anunciando o golpe.
O seu perfil no Twitter teve fotos e nome trocados por um perfil aparentemente da Turquia, com a bandeira do país.
“Eu estava distraída”, disse Thaméa, que informou o caso à Polícia Federal e ao Twitter.
Na entrevista, a procuradora ainda revelou que torce para o Palmeiras. Ouça a íntegra: