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Laurentino Gomes discute reflexos da escravidão e datas chave para Independência

O historiador foi o convidado do Canal Livre deste domingo(10)

Da redação

O Canal Livre deste domingo (10) recebeu o escritor, pesquisador e jornalista Laurentino Gomes. O programa faz parte do projeto “Band nos 200 anos da Independência”. Entre os temas abordados no programa, o historiador falou do terceiro volume de uma trilogia sobre a escravidão. Além disso foram discutidos os personagens, os acontecimentos marcantes e os reflexos desse período na sociedade brasileira.

O historiador começou o programa falando da dualidade na história brasileira em relação à escravidão que ele retratou em seu livro. De um lado a imagem que se quer vender para o mundo de que o período foi brando, quando na verdade ele foi muito cruel. 

“Eu decidi abrir esse terceiro volume comparando esses dois quadros porque acho que eles são muito significativos do Brasil na Independência. Um país que era de faz de conta em alguns aspectos. Fingia ser uma coisa que não era e escondia o Brasil real. Esse Brasil de faz de conta, que tenta ser imperial, que tem uma arquitetura imperial; que tem dois partidos; um Imperador muito culto, amante das artes… Mas a realidade nas ruas era de escravidão, pobreza e analfabetismo! Então essa era a grande esquizofrenia do Brasil no século 19 e ela era muito simbólica nesses dois quadros” disse o historiador. 

Laurentino comentou sobre a contradição na imagem passada por Dom Pedro II e as ações da Monarquia no país.

“Essa é a grande contradição, existe uma frase famosa de um jornalista do século 19 que diz assim: “O Imperador levou 50 anos para fingir que governava um povo livre”. É um julgamento duro, porque esse homem projetava uma imagem simpática ao abolicionismo, ele tinha uma alma republicana. Ajudou o Graham Bell a anunciar a criação do telefone. Mas ele governou um país dominado pela escravidão, pela pobreza e pelo analfabetismo. Mas eu diria que o Dom Pedro II era refém da escravidão! A monarquia era como um gigante com pés de barro. O alicerce da Monarquia era a escravidão e toda sua estrutura”, finalizou. 

A jornalista Cynthia Martins questionou o historiador sobre a relação que a violência histórica do período da escravidão ainda reflete nos dias de hoje, com abordagem violentas da polícia em pessoas negras. 

“Sim, tem total relação! O aparato de leis, um aparato repressivo tanto no período colonial da coroa portuguesa, quanto no período monárquico estava à serviço da escravidão. Então o estado punia os rebeldes, açoitando as pessoas no pelourinho ou no calabouço. O estado tinha cabo do mato, sargento do mato, capitão do mato, coronel do mato… Que eram encarregados de perseguir fugitivos e destruir quilombos. Então o aparelho repressivo estava a serviço sim do escravismo brasileiro. Como eu acho que hoje está a serviço do legado da escravidão! Porque realmente é um massacre em andamento! A maioria das pessoas que são vítimas da violência ou do crime organizado ou da polícia são jovens negros”. 

O pesquisador explicou como os abolicionistas ajudaram no processo de Independência do Brasil. 

“Isso é uma grande discussão! Qual é a data mais importante para a independência do Brasil? Alguns historiadores defendem que é 8 de março de 1808, quando Dom João chega ao Rio de Janeiro, o Brasil então começa a ser independente. Outros defendem que foi em 1815, a criação do Reino Unido. Eu diria assim: o “Dia do Fico”, no dia 09 de janeiro de 1822 foi um rompimento formal. Ali realmente não dá para voltar! Por que Dom Pedro I desobedece às ordens da corte de Portugal e decide ficar no Rio de Janeiro. Então ele passa a atuar como chefe de um estado independente. E tem o grito do Ipiranga que hoje tem um caráter muito simbólico, mas na época não repercutiu não. E aí tem uma data realmente decisiva que foi em 2 de julho de 1823, porque os portugueses se encastelaram na Bahia, tomaram Salvador, e achavam que se controlassem a Bahia e o Nordeste depois eles conseguiriam invadir o Rio de Janeiro e botar o Dom Pedro II para fora. E foi essa resistência obstinada dos baianos escravizados negros que foi fundamental. Então dá pra dizer que o 2 de julho seja a mais importante mesmo” finalizou.

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